13 ações pagam dividendos acima da Selic de 13,75%; quanto investir nelas para ter renda mensal de R$ 3 mil?

Em ações preferenciais da Petrobras, investimento seria de cerca de R$ 606 mil, sem considerar a compra de novos papéis com os proventos, segundo Levante

Katherine Rivas

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Após o Comitê de Política Monetária (Copom) manter a Selic no patamar de 13,75% na última quarta-feira (21), apenas 13 ações negociadas na B3 apresentam um retorno em dividendos superior à taxa básica de juros, segundo levantamento da Economatica para o InfoMoney.

Foram consideradas empresas que integram o índice Ibovespa e o índice small caps, que apresentam boa liquidez. Entre os destaques está a Syn Prop Tec (SYNE3), a antiga Cyrela Commercial Properties, que nos últimos 12 meses apresentou um dividend yield (taxa de retorno retorno com dividendos) de 80,45%.

Na sequência, estão as ações preferenciais e ordinárias da Petrobras (PETR4;PETR3) com um dividend yield de 63,76% e 62,28%, respectivamente. A Petrobras se tornou a maior pagadora de dividendos do mundo no segundo trimestre, segundo dados da gestora britânica Janus Henderson.

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O levantamento também apresentou o retorno em dividendos projetado para os próximos 12 meses, desde que a empresa tenha lucro igual ou superior ao dos últimos 12 meses e mantenha a mesma política de distribuição de dividendos.

Confira a lista completa abaixo:

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Ação Dividend yield realizado nos últimos 12 meses Dividend yield projetado para os próximos 12 meses 
Syn Prop Tech SYNE3 80,45% 176,02%
Petrobras PETR4 63,76% 54,06%
Petrobras PETR3 62,28% 48,36%
Gerdau Metalúrgica GOAU4 20,56% 25,35%
Unipar UNIP6 19,70% 16,35%
Lavvi LAVV3 18,29% 21,81%
Vale VALE3 17,61% 22,69%
Copel CPLE6 17,02% 17,38%
BrasilAgro AGRO3 15,85% 15,37%
CPFL Energia CPFE3 14,24% 11,33%
Taesa TAEE11 14,23% 13,07%
Bradespar BRAP4 14,00% 33,63%
Bradespar BRAP3 13,85% 32,80%

Fonte: Economatica. Obs: O levantamento considera o preço dos ativos no fechamento de 16/09/22. O dividend yield projetado é válido desde que a empresa tenha lucro igual ou maior ao dos últimos 12 meses e mantenha a mesma política de distribuição de dividendos e JCP dos últimos 12 meses. 

Como obter uma renda R$ 3 mil por mês com estas ações?

Um levantamento realizado por Enrico Cozzolino, analista da Levante Investimentos, a pedido do InfoMoney revela quanto seria necessário investir nas ações que pagam dividendos acima da Selic para obter uma renda mensal média de R$ 3 mil com dividendos.

Considerando que muitas empresas da lista são do setor de commodities ou apresentaram resultados atípicos em 2022, o cálculo foi feito a partir do dividend yield médio dos papéis nos últimos cinco anos, para apresentar uma visão mais realista ao investidor.

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No primeiro cenário consta o investimento necessário sem o reinvestimento dos dividendos – ou seja, simulam a situação em que o investidor recebe e gasta os proventos das ações. Também foi calculado o número de papéis que seriam necessários para conquistar esse objetivo, com base nos preços do dia 16 de setembro.

No caso da Petrobras (PETR4), seria necessário investir cerca de R$ 606 mil, equivalente a quase 20 mil ações, para conseguir uma renda mensal de R$ 3 mil com dividendos.

Confira todas as ações abaixo:

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Empresa Dividend Yield médio nos últimos 5 anos (%) Investimento necessário para ter renda mensal média de R$ 3 mil (sem reinvestir os dividendos) Número de ações necessárias 
Syn Prop Tech SYNE3 20,9% R$ 172.306,32 34.809
Petrobras PETR4 5,9% R$ 606.497,28 19.704
Petrobras PETR3 4,8% R$ 756.833,78 21.995
Gerdau Metalúrgica GOAU4 5,7% R$ 629.902,65 63.885
Unipar UNIP6 25% R$ 143.872,84 1.455
Lavvi LAVV3 7,4% R$ 486.613,00 89.947
Vale VALE3 6,8% R$ 528.192,13 7.739
Copel CPLE6 9,2% R$ 390.741,69 58.060
BrasilAgro AGRO3 5,7% R$ 633.180,39 20.987
CPFL CPFE3 4,1% R$ 882.840,06 25.391
Taesa TAEE11 10,7% R$ 337.094,79 8.293
Bradespar BRAP4 9% R$ 401.744,01 17.729
Bradespar BRAP3 9,2% R$ 393.141,61 18.615

Fonte: Enrico Cozzolino, da Levante Investimentos. O levantamento considera os preços dos ativos em 16/09/22.

Cozzolino destaca ainda a importância do reinvestimento, que proporciona ao investidor uma rentabilidade análoga aos juros sobre juros. “Quando mais cedo iniciar os investimentos, menor o capital necessário a ser aportado. Por isso, para quem busca renda passiva no longo prazo, o mais interessante é começar o quanto antes”, afirma.

Segundo o analista da Levante, mesmo com valores menores, é possível alcançar a renda esperada no futuro reaplicando os dividendos. Foi o que Cozzolino simulou no segundo cenário: o investimento necessário para ter uma renda mensal de R$ 3 mil, considerando que o investidor utilizará os dividendos recebidos para comprar novas ações nos períodos de um ano e de dez anos.

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Veja os detalhes na tabela abaixo:

Empresa Dividend Yield médio nos últimos 5 anos (%) Investimento para ter renda mensal media de R$ 3 mil (reinvestindo os dividendos em 1 ano) Investimento para ter renda mensal media de R$ 3 mil (reinvestindo os dividendos em 10 anos)
Syn Prop Tech SYNE3 20,9% R$ 140.069,90 R$ 21.713,73
Petrobras PETR4 5,9% R$ 571.628,52 R$ 335.489,66
Petrobras PETR3 4,8% R$ 721.744,42 R$ 470.792,05
Gerdau Metalúrgica GOAU4 5,7% R$ 594.992,77 R$ 356.168,31
Unipar UNIP6 25% R$ 112.312,14 R$ 12.090,87
Lavvi LAVV3 7,4% R$ 452.015,06 R$ 232.742,05
Vale VALE3 6,8% R$ 493.486,70 R$ 267.686,95
Copel CPLE6 9,2% R$ 356.475,71 R$ 156.060,03
BrasilAgro AGRO3 5,7% R$ 598.264,99 R$ 359.077,41
CPFL CPFE3 4,1% R$ 847.622,77 R$ 587.607,38
Taesa TAEE11 10,7% R$ 303.093,61 R$ 116.412,45
Bradespar BRAP4 9% R$ 367.432,16 R$ 164.523,15
Bradespar BRAP3 9,2% R$ 358.865,42 R$ 157.897,39

Fonte: Enrico Cozzolino, da Levante Investimentos. O levantamento considera os preços dos ativos em 16/09/22.

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Quais dessas ações valem a pena em uma carteira de dividendos?

Embora 13 ações entreguem dividendos superiores à 13,75%, apenas sete são consideradas interessantes para integrar uma carteira de renda passiva no médio e longo prazo, segundo analistas consultados pelo InfoMoney. Nem tudo o que brilha é ouro, nem todo dividend yield elevado é sustentável. Confira abaixo os destaques:

Vale (VALE3) e Bradespar (BRAP4; BRAP3)

Cozzolino explica que a mineradora paga proventos duas vezes ao ano: em março, referentes aos resultados do segundo semestre do exercício anterior, e em setembro, sobre os resultados do primeiro semestre.

“A remuneração é de 30% do Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado, descontado o investimento corrente”, explica. A Vale pode ainda pagar dividendos extraordinários, geralmente deliberados pelo Conselho em dezembro, embora os analistas não acreditem que isso ocorrerá em 2022.

Para Cozzolino, a ciclicidade do negócio não elimina os fundamentos da Vale para dividendos. Ele destaca que embora as altas (ou baixas) nos preços das commodities favoreçam (ou prejudiquem) os resultados das empresas no curto prazo, estes efeitos não devem predominar para quem monta uma carteira visando ao longo prazo. Nesse caso, diz Cozzolino, importa mais investir em empresas estruturadas e com políticas favoráveis à distribuição de proventos.

A Vale registrou um lucro líquido de US$ 6,2 bilhões no segundo trimestre de 2022, queda de 18% frente ao mesmo período do ano anterior, e um Ebitda de US$ 5,5 bilhões, abaixo do esperado pelos analistas – que, em alguns casos, chegaram a rebaixar as recomendações para a ação.

Apesar disso, enquanto o mercado acreditava que a mineradora pagaria dividendos menores, a Vale distribuiu R$ 3,57 por ação em setembro, equivalente a um dividend yield de 5,31% no segundo trimestre, muito semelhante ao de março deste ano (de R$ 3,72 por ação e 5,27%).

“A empresa demonstrou que a consistência de distribuição de proventos não é afetada pelos resultados de curto prazo. Acreditamos que no primeiro semestre de 2023 os dividendos devem se manter elevados”, diz Cozzolino.

Se observado o histórico da Vale, Cozzolino acredita que um dividend yield realista projetado para 2023 seria de 4,8%, desconsiderando movimentos atípicos do mercado. “Contudo, o aumento de juros e a recessão global podem causar a queda dos preços das commodities, prejudicando o resultado da empresa e seus proventos”.

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Além da Vale, o analista também enxerga com bons olhos as ações da Bradespar, holding que possui participação de 3,34% na Vale.

“Mesmo sendo uma empresa do setor financeiro, seus riscos estão vinculados aos riscos da Vale”, afirma Cozzolino. Por se tratar de uma holding, as ações da Bradespar têm um desconto maior, e por isso seu dividend yield é mais elevado. A projeção da Levante Investimentos é de uma taxa de 7,1% em 2023 para BRAP4 e de 7,3% para BRAP3.

Copel (CPLE6), CPFL Energia (CPFE3) e Taesa (TAEE11)

Na lista de favoritas da Levante estão três companhias elétricas, do setor de utilities, conhecido pela sua previsibilidade de receitas. Segundo Cozzolino, empresas do setor não precisam de uma forte capacidade de caixa para a continuidade das atividades operacionais.

Ele destaca que a Copel – que atua na geração, distribuição e transmissão de energia – se encontra bastante descontada atualmente, negociando a 4,7 vezes EV/Ebitda, múltiplo que relaciona o valor da empresa com sua capacidade de geração de caixa, e de 5,5 vezes P/L (Preço sobre Lucro).

Segundo Cozzolino, a Copel possui uma política de dividendo bem definida, atrelada ao seu nível de endividamento. O payout (parcela do lucro líquido destinada a proventos) pode variar entre 25% e 65% do lucro líquido. A projeção da Levante é de que o dividend yield da Copel seja de 8,1% em 2023, se seguir a sua tendência histórica de distribuições.

Sergio Biz, analista focado em dividendos e sócio do GuiaInvest, também tem um visão positiva para a Copel e projeta um dividend yield de 7,5% em 2023. Mas destaca que os dividendos elevados da companhia neste ano foram atípicos, por conta da venda de ativos, e não devem se repetir no futuro.

Entre os riscos, Biz cita as despesas com provisões, de R$ 1,2 bilhão, destinadas para os créditos de PIS e Cofins anunciados no final do segundo trimestre de 2022, o que poderia comprometer os dividendos no curto prazo.

Apesar disso, a companhia serve para uma estratégia de longo prazo, segundo Biz, que recomenda a compra de CPLE6 até o preço-teto de R$ 7,40 para garantir bom retorno.

Outra elétrica que integra as preferências da Levante é a CPFL Energia. Cozzolino destaca que embora a companhia não tenha tido uma distribuição consistente entre 2015 e 2019, voltou a aumentar os pagamentos depois desse período, com a melhora nos seus resultados. A projeção da casa é de um dividend yield próximo a 6,5% ao ano em 2023.

Ainda na lista de boas pagadoras para o longo prazo está a transmissora Taesa, figurinha carimbada das carteiras de renda passiva. Segundo Biz, a companhia apresentou um payout médio próximo de 85% do lucro líquido nos últimos anos.

“A previsibilidade das receitas é muito elevada. Isso permite à empresa captar recursos a taxas mais atrativas para participar de novos projetos ou leilões que permitam expandir as suas operações”, afirma Biz. A projeção do analista é de um dividend yield de 9% para TAEE11 em 2023, sugerindo um preço-teto de compra de R$ 34.

O dividend yield projetado pela Levante é de 10,2% em 2023. “De todas as elétricas citadas, é a que apresenta a maior consistência de distribuição de dividendos e está negociando a múltiplos baixos, o que corrobora a aquisição para o longo prazo” destaca Cozzolino.

BrasilAgro (AGRO3)

Biz destaca ainda uma small cap, a BrasilAgro, que atua na exploração de terras agrícolas e na venda de propriedades rurais. No entanto, como as vendas não ocorrem com regularidade, pode haver volatilidade nos dividendos.

Para o analista, a empresa pode ser considerada para uma carteira de dividendos, mas o investidor precisa ter em mente que os resultados podem ser afetados pelo ciclo de commodities agrícolas e as variações cambiais.

O analista projeta um dividend yield de 7% para 2023 e um preço-teto de compra de R$ 27.

Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.