Ação ON do Banco Inter chega a saltar 300%, mas tomba no final do pregão: o que explica o movimento?

Posição vendida a descoberto pode ter desencadeado forte alta dos ativos BIDI3 dada a sua baixa disponibilidade no mercado; no final do pregão, contudo, papéis diminuíram fortemente os ganhos e passaram de R$ 115,92 para R$ 37, uma queda de 68%

Lara Rizério

(Divulgação)

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SÃO PAULO – Antes mesmo da formação das units e da entrada para o Nível 2 da bolsa, os papéis do Banco Inter, antes negociados apenas com os ativos BIDI4, já tinham um forte desempenho na bolsa. No acumulado de 2019 a alta acumulada é de 116%, ante ganhos de 18% do Ibovespa. 

A última sexta-feira, aliás, foi marcada por uma nova etapa para a empresa na bolsa, com o início da negociação dos ativos BIDI11.

Isso aconteceu após a realização do programa que faz com que os acionistas também tenham acesso aos ativos ordinários (com direito a voto) através do “pacote de ações”, formado por 2 ativos preferenciais (BIDI4) e 1 ativo ordinário (BIDI3). 

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Porém, nas duas últimas sessões, quem chamou a atenção dos investidores foi mesmo o papel BIDI3. A princípio, o ativo nem estaria negociando na bolsa de valores uma vez que os seus detentores são os acionistas controladores da companhia, que possuem restrições no momento para negociar as ações. 

Contudo, foram estes papéis que tiveram as valorizações mais expressivas, chegando a subir 300% nesta segunda, superando os R$ 115, para depois amenizarem fortemente os ganhos, mas ainda fechando com alta de 27,67%, a R$ 37. Na última sexta, os ativos BIDI3 já tinham saltado 44,76%, passando de R$ 20,02 para R$ 28,98. 

Mas o que explica esse movimento? A princípio, o que se indica é que alguns investidores tenham vendido o papel a descoberto, apostando na queda das ações sem que tivessem alugado o papel para tanto.

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Isso pode ter levado a uma zeragem compulsória dos papéis por parte das corretoras, que ocorre quando o investidor faz uma operação alavancada de day trade ou tenha atingido o limite de garantias disponíveis. Neste caso, a área de risco da corretora pode encerrar o investimento de forma obrigatória. 

Acontece que, para fechar a operação, uma das opções é uma corrida para “zerar a posição” – que, no caso, seria a compra dos papéis BIDI3 no mercado. Como não há muita disponibilidade de ativos para cobrirem as posições vendidas, ainda mais tratando-se das ações BIDI3 em boa parte na mãos dos controladores, houve uma disparada da cotação, beneficiando os acionistas dos poucos papéis disponíveis no mercado. 

Nesta segunda-feira, os ativos BIDI3 tiveram apenas 292 negócios, com um volume de R$ 2,41 milhões, enquanto as units da companhia tiveram 2564 negócios, totalizando um giro financeiro de R$ 25,92 milhões (ou seja, 10 vezes maior), além de terem uma valorização bem mais modesta, de 1,19%. Vale ressaltar ainda que a maior parte dos negócios com os papéis BIDI3 também veio de corretoras que operam para pessoas físicas. 

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Porém, uma grande questão que ficou no ar era: se os controladores não podiam negociar os papéis ainda a mercado, quem colocou à venda os ativos BIDI3?

É certo que no estatuto do Banco Inter há uma cláusula que impede os integrantes do Conselho de Administração e da sua diretoria estatutária de negociar os papéis por um período de 90 dias contados a partir da data de disponibilização do fato relevante da oferta. 

Contudo, há a possibilidade do acionista não controlador titular das units cancelar esse pacote de ativos. Ou seja, mediante pedido ao emissor, os acionistas podem “desmembrar” os ativos, fazendo com que as units que possuem possam virar uma ação ordinária e duas preferenciais e, desta forma, negociá-las na bolsa.

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O cancelamento das units, levando à “separação dos papéis”, pode acontecer até mesmo durante o mesmo pregão, a depender da autorização do emissor. 

Assim, olhando para o forte desempenho dos papéis nas últimas sessões, pode parecer bastante tentador para os detentores das units pedirem o desmembramento para negociarem os papéis BIDI3 na bolsa e, desta forma, conseguirem um forte lucro. 

Porém, essa ideia embute muitos riscos, sendo o principal deles o fato de que a BIDI3 tem uma baixa liquidez. Assim, é possível um movimento brusco dos papéis sem que o investidor consiga se desfazer deles, ficando “preso” aos ativos. 

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A sessão desta segunda-feira foi um bom exemplo de quão abrupto pode ser o movimento dos ativos. Eles estiveram durante boa parte do pregão em leilão, registrando alta progressiva em toda a sessão até atingir a máxima de R$ 115,92.

Porém, apenas no leilão de fechamento, os papéis BIDI3 tiveram uma queda de 68%, indo para os R$ 37, com apenas 200 ações sendo negociadas. A forte queda dos ativos no último minuto de pregão pode ser observada no gráfico do Profitchart abaixo, no último sinal de fechamento. 

Ainda há muitas informações desencontradas sobre o que poderia ter iniciado esse forte movimento nestas duas últimas sessões para os papéis BIDI3. Há hipóteses de que alguns investidores possam ter tentado fazer uma operação de arbitragem entre papéis BIDI3 e BIDI4, ficando vendidos no primeiro e comprados no segundo ou que tenham mandado ordens erradas. Dada a baixa liquidez dos papéis, os movimentos foram potencializados durante a sessão. Em período de silêncio por conta da proximidade da divulgação dos resultados, o Banco Inter informou através de sua assessoria de imprensa que não iria se pronunciar sobre o assunto. 

Desta forma, quem olhou para o movimento dos papéis durante boa parte do pregão – principalmente quem já detinha os ativos BIDI11 – pode ter visto com forte ânimo a disparada das ações BIDI3. Porém, conforme mostrou a última negociação dos ativos nesta segunda-feira, que levou a cotação do papel desabar no final do pregão, essa operação envolve muitos riscos – e os investidores devem estar cientes disso. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.