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Valor trilionário das “techs” na Bolsa americana divide mercado sobre existência de uma bolha

Com a corrida pela inteligência artificial, ações de tecnologia dispararam em 2023, trazendo otimismo - e cautela também

Mitchel Diniz

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Os primeiros seis meses de 2023 foram os mais positivos para a Nasdaq em 40 anos. No período, o índice, que reúne ações das grandes empresas de tecnologia, acumulou valorização de 32%. As techs também influenciaram o desempenho de outras Bolsas, como o S&P 500. As sete maiores empresas do índice hoje são do setor de tecnologia e acumularam ganhos de 86% no período. Enquanto isso, as outras 493 companhias da carteira mal se mexeram.

Os dados reforçam as teorias de mais uma bolha das techs. Isso porque os ativos têm se valorizado em pleno ciclo de aperto monetário nos Estados Unidos, mesmo com os riscos de uma recessão no país. Até mesmo os próprios fundamentos das companhias levantam questionamentos sobre tamanha valorização.

Apple passou a valer US$ 3 trilhões mesmo com queda de receitas

A Apple (AAPL34), tech mais valiosa da Bolsa, está nas máximas históricas. Acumula alta de mais de 50% no ano e, na última sexta-feira (30), a empresa encerrou o pregão com valor de mercado acima de US$ 3 trilhões. Porém, nos últimos dois trimestres, a companhia apresentou queda de receita e espera mais uma retração no terceiro trimestre fiscal, encerrado no último mês de junho.

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“Entendo que existe, sim, um movimento exacerbado no mercado”, afirma o economista Guilherme Zanin. Ele reconhece que as techs têm vantagens competitivas para estarem a frente dos demais participantes do mercado, em um momento econômico não muito favorável. Mas acredita que o valuation das empresas não se justifica.

Leia também: Disparada de ações de tecnologia desafia previsões em Wall Street

“O crescimento pode não vir da forma que o mercado gostaria e, claramente, pode haver uma queda nas ações dessas empresas”, diz Zanin.

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Nvidia: uma bolha na favorita em inteligência artificial?

Este ano, a empresa especializada no desenvolvimento de componentes eletrônicos Nvidia (NVDC34) atingiu US$ 1 trilhão em valor de mercado, entrando um seleto clube do qual fazem parte empresas como Apple, Microsoft (MSFT34) e Alphabet (GOGL34), dona do Google. No acumulado de 2023, a ação da multinacional subiu mais de 180%, impulsionada pelo tema da vez no Vale do Silício: a inteligência artificial (IA).

A Nvidia produz chips usados no desenvolvimento de tecnologias como o ChatGPT, da OpenAI, e estima obter faturamento de US$ 11 bilhões agora no segundo trimestre.

A cifra é pujante, mas nem de longe seria suficiente para justificar a atual cotação dos ativos. Ao menos é o que pensa Aswath Damodaran, professor de finanças na Stern School of Business, da Universidade de Nova York (NYU). Nos cálculos do “papa do valuation“, ainda que a Nvidia faturasse dez vezes mais e suas margens ficassem em torno de 40%, o preço da ação seria de aproximadamente US$ 240. Hoje, o papel é negociado acima de US$ 400.

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Para justificar o atual valor do ativo, as receitas da Nvidia teriam que ultrapassar US$ 500 bilhões em 2033, sustentando margens elevadas.

“Para a pergunta se Nvidia poderia valer US$ 400 por ação ou mais, a resposta é sim. Mas as chances, pelo menos com base em minhas estimativas, são baixas”, diz Damodaran, num artigo publicado em seu blog.

Segundo ele, para a Nvidia encontrar uma forma de entregar valor que justifique sua atual precificação, precisaria viver um crescimento explosivo de receita que apenas o mercado de inteligência artificial não daria conta de suportar.

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“Precisaria de um outro mercado, ou dois, com potencial similar ao da inteligência artificial, em que a Nvidia fosse líder para justificar essa precificação”. Recentemente, Damodaran se desfez de metade de sua posição em ações da empresa e manteve a outra parte com a expectativa de que a companhia vai encontrar novos mercados na próxima década.

Parte do mercado segue otimista com as big techs

Enquanto Damodaran faz alertas sobre a existência de uma bolha,  uma outra fatia do mercado mantém o otimismo com a empresa. É o caso do Itaú BBA, que tem preço-alvo de US$ 500 para as ações de Nvidia ao final de 2024. A ação continua sendo top pick da casa.

Depois que a fabricante do iPhone atingiu a marca dos US$ 3 trilhões, o Citi soltou um relatório em que prevê um potencial de mais 30% de alta para o papel. Segundo os analistas do banco, o mercado subestima o potencial de expansão de margens da companhia, impulsionado por iPhones de última geração. A equipe também cita o ganho de market share da companhia na China e na Índia.

Indo para um segmento um pouco diferente, na última quarta-feira (5), o Goldman Sachs elevou o preço-alvo das ações da Netflix para US$ 400. O banco também mudou a recomendação do papel de venda para neutro, depois que a empresa deu fim ao compartilhamento de senhas e fechou parcerias para exibir anúncios. Os ativos da gigante de streaming subiram mais de 50% este ano e hoje o papel opera acima do preço-alvo do Goldman, na casa dos US$ 444.

Os próximos meses vão revelar qual lado do mercado está certo.

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados