Usiminas (USIM5), CSN (CSNA3) e Gerdau (GGBR4) fecham em queda de até 6,8% com possível queda de tarifa para importar aço: veja impacto no setor

Analistas traçam cenários e veem impacto negativo para o Ebitda das companhias, com impacto maior para aço plano e, consequentemente, para Usiminas

Lara Rizério

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A sessão foi negativa para o setor de siderurgia, em um dia movimentado para o setor. Segundo publicação de diversos meios de comunicação durante a noite de ontem e manhã de hoje, o Governo estaria estudando a remoção total das tarifas de importação de aço e outros dez itens para ajudar a conter a inflação. O anúncio poderia ser feito já nesta quinta-feira (12). A tarifa de importação de aço atualmente é de 10,8%.

Além disso, o Governo também poderia anunciar um corte tarifário de 10% na Tarifa Externa Comum (TEC) do Mercosul de vários outros produtos.

Analistas de mercado destacaram a notícia como negativa para siderúrgicas o que, inclusive, impactou no desempenho das ações do setor na sessão desta terça-feira (10). Usiminas (USIM5) foi destaque de baixa, fechando com queda de 6,78%, a R$ 10,04, enquanto CSN (CSNA3) e Gerdau (GGBR4) também registraram quedas fortes, de 5,82% (R$ 17,96) e 4,36% (R$ 26,34), respectivamente.

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Conforme destacou o Morgan Stanley, a eliminação total da tarifa de importação pressionaria para baixo os preços domésticos do aço. Dito isso, essa mudança de política no setor em geral teria um impacto maior nos preços locais de bobina a quente (BQ) – material de referência do mercado de aço – do que no vergalhão, dado que o primeiro é negociado com um prêmio de 26% sobre o nível de paridade de importação versus o último com desconto de 12%.

Os analistas do Morgan destacaram que, neste cenário, a Usiminas provavelmente seria a mais impactada negativamente, já que a empresa tem uma exposição relativa muito maior ao mercado interno em base consolidada. “Esperamos que as siderúrgicas nacionais se oponham à iniciativa e tentem negociar um resultado melhor do que o sugerido”, apontou o Morgan.

O Bradesco BBI também avaliou a notícia como negativa para as siderúrgicas, pois zerar as tarifas de importação prejudicaria o poder de precificação no mercado doméstico. Os analistas do banco lembraram que o governo já estava mirando a indústria siderúrgica doméstica na tentativa de conter a inflação, anunciando em novembro de 2021 corte das tarifas de importação para 10% (contra 12% anteriormente) até 31 de dezembro de 2022.

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“Essa nova iniciativa, potencialmente reduzindo as tarifas de importação para 0%, parece drástica e nos pegou de surpresa”, avaliou o BBI em nota mais cedo.

Posteriormente, contudo, na tarde desta terça-feira, executivos do Aço Brasil afirmaram, após reunião com Paulo Guedes, ministro da Economia, que a discussão no governo sobre o imposto de importação envolveria apenas o vergalhão e que se trata de redução da tarifa de 10,8% para 4%.

Segundo a entidade, o Brasil é um dos países que menos reajustaram o preço do vergalhão nos últimos 12 meses e que os consumidores do produto, notadamente empresas do setor da construção civil, estão abastecidos desde meados do ano passado. O presidente do Aço Brasil, Marcos Eduardo Faraco, que também é executivo da Gerdau, afirmou que a decisão sobre o imposto é esperada para a quarta-feira.

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“A expectativa é que o governo não acolha o pleito (pela redução do imposto) e que reverta essa orientação”, disse Faraco, a jornalistas.

Contudo, como já destacado acima, as ações de siderúrgicas tiveram forte queda, inclusive as da Usiminas, focada no mercado de aços planos e que não produz vergalhão. Após os comentários do Aço Brasil, a ação da Usiminas reduziu perdas que chegaram perto de 10%, mas ainda fechou em forte baixa.

De acordo com fontes ouvidas pelo Morgan Stanley, se implementadas, as tarifas informadas permaneceriam apenas até o final de 2022. A revisão sugerida viria como um apelo para reduzir as pressões sobre os custos dos projetos imobiliários relacionados com a Casa Verde e Amarela.

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Para o banco, porém, a redução potencial nas tarifas de importação de vergalhão para 4% não necessariamente resultaria em preços domésticos de vergalhão mais baixos, uma vez que, mesmo após esse ajuste, a paridade implícita de importação de vergalhão seria um desconto de 4%, abaixo do prêmio normalizado de 5-10%.

“Além disso, observamos que o impacto estrutural dessa redução na tarifa de importação do vergalhão provavelmente seria limitado, já que as tarifas de importação de aço brasileiro devem retornar a 12% em janeiro de 2023 (a tarifa que vigorava antes da redução para 10,8%)”, avaliam.

O Morgan ressalta que, presumindo que a redução ocorra, dentro da sua cobertura, ao invés de Usiminas no caso de zeragem do imposto sobre o aço em geral, a Gerdau provavelmente seria a mais impactada negativamente, uma vez que a empresa tem uma exposição relativa muito maior ao vergalhão, seguida pela CSN.

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Cenários com tarifa zero

Com relação a possível “zeragem das tarifas”, os analistas do BBI fizeram algumas considerações em relatório publicado durante a manhã. Eles apontaram que os prêmios nos preços de aços planos – utilizados principalmente na indústria automotiva e linha branca – em relação ao material importado aumentariam, enquanto os aços longos – matéria-prima importante na construção civil -, ainda continuariam com desconto.

“Supondo que os cortes nas tarifas de importação sejam de fato reduzidos a zero, calculamos que o prêmio em relação ao material importado nos aços planos saltaria de 25% para 38%, enquanto o desconto de aços longos atingiria 5%, contra 14% atualmente (assumindo a paridade cambial em R$ 5,16, preços chineses à US$ 790 a tonelada e vergalhão turco a US$ 860/tonelada)”, avaliam. Assim, se o corte for implementado, os analistas veem uma pressão potencial sobre os preços dos aços planos, já que os prêmios de importação estariam em níveis muito mais altos em relação ao prêmio “normalizado” ao redor de 10%.

Contudo, ponderaram, levando em conta os gargalos logísticos relevantes em todo o mundo, pode levar meses até que essas importações realmente cheguem ao Brasil. Assim, o BBI avalia que as siderúrgicas ainda poderiam exercer prêmios acima da média no curto prazo, mas os prêmios invariavelmente tenderiam a cair para níveis normais entre o segundo semestre de 2022 e o primeiro semestre de 2023 (seja por meio de preços domésticos mais baixos ou por meio de preços de exportação mais altos para fora da China, ou a combinação de ambos).

Do lado dos aços longos, os analistas veem espaço para aumentos graduais de preços, já que os preços domésticos ainda seriam negociados com desconto em relação ao material importado. A Gerdau, por exemplo, tem mais exposição a aços longos, enquanto Usiminas tem exposição maior a aços planos.

Os analistas do BBI ainda destacaram alguns cenários para as siderúrgicas que estão listados a seguir, com impactos respectivos para as principais siderúrgicas listadas na B3. Em quaisquer deles, a Usiminas seria proporcionalmente mais afetada. Confira abaixo:

(i) Se as tarifas de importação em 0% permanecerem em vigor até o final de 2023?

Supondo que as tarifas de importação sejam reduzidas para 0% sem medidas de compensação no segundo semestre de 2022 até 2023, os analistas estimam que o lucro antes juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) da Usiminas cairia R$ 610 milhões (ou 7% da sua última estimativa publicada de R$ 8,9 bilhões) e o de 2023 cairia R$ 1,4 bilhão (ou 25% da estimativa da casa de R$ 5,5 bilhões);

Já o Ebitda de 2022 da Gerdau cairia R$ 730 milhões (ou 4% da sua estimativa de R$ 17,4 bilhões) e o de 2023 cairia R$ 1,4 bilhão (ou 11% da sua estimativa de R$ 12,5 bilhões).

O Ebitda de 2022 da CSN, por sua vez, cairia R$ 475 milhões (ou 3% da sua estimativa de R$ 16 bilhões) e o de 2023 cairia R$ 1,4 bilhão (ou 11% da sua estimativa de R$ 13 bilhões).

(ii) Se as tarifas de importação de 0% permanecerem em vigor “para sempre”?

Os analistas já incorporaram no modelo um corte tarifário gradual, até 7% até 2026. No entanto, assumindo que as tarifas de importação de aço permaneçam em 0% sem medidas de compensação para sempre (um cenário de baixa probabilidade, na opinião dos analistas), o impacto no fluxo de caixa da Usiminas seria 37%, na Gerdau de 18% e na CSN de 10%.

(iv) Mas se as tarifas forem reduzidas para 0% devido a “circunstâncias extraordinárias”?

O BBI ressalta que, normalmente, os cortes tarifários de importação de produtos do Mercosul precisam ser aprovados por todos os países membros, embora o Brasil tenha recorrido a um dispositivo que permite adotar medidas destinadas a “proteger a vida e a saúde das pessoas”, seguindo pressões inflacionárias após o Covid-19 e a Guerra entre a Rússia e a Ucrânia.

“Dado esse conjunto extraordinário de circunstâncias e protecionismo na maioria dos mercados de aço em todo o mundo, não vemos tarifas permanecendo em 0% por um longo período de tempo”, avaliam. Diante do cenário, os analistas destacaram recomendação equivalente à compra para as ações de Gerdau, Usiminas e CSN, com preferência por Gerdau no momento, mas reconheceram o fluxo de notícias em questão como negativo para todas as ações no setor.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.