Interferência política de volta na Petrobras (PETR4)? Por que a redução da gasolina derrubou as ações da estatal nesta sexta

Queda dos preços coincidindo com a reoneração dos impostos federais que incidem sobre o derivado levam a temores de maior interferência

Vitor Azevedo

Sede da Petrobras (foto: Getty Images)

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As ações ordinárias e preferenciais da Petrobras (PETR3;PETR4) registraram uma sessão de forte queda nesta sexta-feira (30), último dia do semestre. Os papéis PETR3 fecharam com baixa de 5,13%, a R$ 33,10, enquanto PETR4 caiu 4,83%, a R$ 29,53.

O movimento ocorre após a companhia ter anunciado, no fim da manhã, que reduzirá em R$ 0,14 por litro, ou em 5,3%, o seu preço médio de venda de gasolina A, que passará a ser de R$ 2,52 por litro. A decisão, de acordo com especialistas, acende um alerta quanto a possíveis intervenções políticas na empresa.

“Na nossa visão, é negativo. O desconto da gasolina em relação à paridade internacional agora é de 10% (cerca de R$0,13 por litro), sendo que o diesel continua com desconto de 4%. A redução de preços coincide com o aumento dos impostos sobre a gasolina pelo governo em julho, o que levanta preocupações sobre a interferência política”, apontou o Credit Suisse, em breve nota após o anúncio.

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Essa nova queda dos preços também objetiva compensar a reoneração dos impostos federais que incidem sobre o derivado.

O Goldman Sachs destaca que a decisão implica em um risco de queda de 2% do Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês) estimado para 2023 – de R$ 244,3 bilhões.

“Levando em consideração esse ajuste, agora vemos os preços da gasolina da Petrobras cerca de 21% abaixo em relação à referência da costa do Golfo e os preços do diesel cerca de 6% abaixo”, comentam os analistas do banco americano.  Como referência, o desconto médio da Petrobras frente os preços de referência da Costa do Golfo foram 14/4% para gasolina/diesel em 2022, respectivamente. “Mas reconhecemos que uma parte da diferença em relação aos preços de referência pode ser explicada por qualidade”.

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Eles mencionam acreditar que o anúncio de hoje reflitam, em certo ponto, ajustes internacionais, uma vez que na própria costa do Golfo os preços caíram 5% desde o último reajuste da Petrobras, no dia 15 de junho.

“Por outro lado, o anúncio ocorre no mesmo dia em que os impostos sobre combustíveis são restabelecidos, o que pode levar os investidores a ficarem preocupados com possíveis pressões políticas sobre a empresa em relação à política de preços dos combustíveis e riscos de subsídios aos preços dos combustíveis”, ponderam. “Acreditamos, no entanto, que as margens de refino consolidadas permaneçam em níveis saudáveis (apesar de estarem abaixo dos picos observados no último ano)”.

O Itaú BBA afirma que o movimento reforça “a compreensão de que a empresa pode estar explorando o extremo inferior da faixa de preço atual para a gasolina desde o primeiro dia da nova estratégia comercial.

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Paulo Cunha, CEO da iHUB Investimentos, alerta que a baixa é vista como um possível sinal de que a estatal será utilizada para se fazer política.

“A medida é uma sinalização bem ruim, que hoje o mercado está punindo. Poderia estar punindo mais, mas o papel está barato, e a empresa está com índices financeiros muito positivos, o que fez o papel subir [recentemente]. Fazendo uma análise politica de como o governo tem tratado a empresa, e o rumo que ela está indo, não é bom”, disse.

Ricardo Schweitzer, CEO da consultoria Ricardo Schweitzer, fala que o corte não deveria ser surpresa. “Quando do anúncio da nova política de preços, o que foi apresentado foi um amontoado de critérios vagos e ininteligíveis: é impossível, com base no que foi publicamente anunciado, estimar o comportamento da politica de preços da empresa”, diz. “Mas, nada coincidentemente, desde então vêm sendo praticadas reduções nos preços de combustíveis – que já são comercializados em defasagem aos preços internacionais, inviabilizando as importações”.

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Apesar da queda na sessão, as ações da Petrobras acumulam ganhos de cerca de 40% em 2023, com a percepção de risco reduzida sobre a companhia e uma onda de elevação de recomendações. 

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