Resilientes com juros altos, ações de varejistas e construtoras de alta renda ainda são boas opções quando a Selic cair?

Poder de compra do público alvo se mantém mesmo em cenários de inflação elevada ou de taxas de juros mais altas; analistas fazem projeções

Vitor Azevedo

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Alguns nomes dos setores de varejo de moda e de construção civil focados em pessoas com maior poder aquisitivo vêm se destacando recentemente por um motivo comum: certo grau de resiliência com o mercado cambaleante dos últimos anos por conta dos juros altos. Como explicação para esse fenômeno está, basicamente, a capacidade das classes mais altas continuarem consumindo mesmo em momentos de crise.

Desde março de 2021, quando teve início o ciclo de alta da Selic de 2% para o atual patamar de 13,75% ao ano, no setor de moda e consumo, as ações ordinárias do Grupo Soma (SOMA3) acumulam alta de 8,4%, enquanto as da Vivara (VIVA3) avançam 26,7% e as da Arezzo (ARZZ3), quase 20%. Já no de construção civil, as ordinárias da Lavvi (LAVV3) subiram 21% e as da Cyrela (CYRE3) caíram 10% – menos, no geral, do que pares ligados a classes mais baixas (salvas algumas exceções).

Analistas apontam que essas companhias, geralmente, oferecem mais segurança. Porém, com uma possível inflexão nos juros, com as projeções de que a Selic possa começar a cair já em agosto, elas ainda seguirão como boas opções de investimentos ou as demais empresas do setor ganharão atratividade?

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Para analistas, elas podem não disparar tanto quanto pares ligados a rendas mais baixas, cujos consumo dos participantes está mais ligado ao crédito, mas devem surfar um pouco o movimento. Além disso, podem ser parte de um portfólio mais equilibrado, ainda mais em um cenário de que os juros irão cair, mas ainda devem seguir altos.

De acordo com um levantamento realizado pela XP em meados de junho, as varejistas de moda de alta renda eram as que mais apareciam nas carteiras de gestores, junto da Lojas Renner (LREN3), essa mais bem quista por conta da sua forma de conduzir suas operações.

No setor imobiliário, companhias mais focadas no público de baixa renda roubaram a atenção nos últimos meses por conta dos programas de construção como o Minha Casa Minha Vida. Ações de nomes como Cyrela, Even (EVEN3) e EzTec, focadas no alta renda, trazem, no entanto, performances em geral melhores do que companhias como MRV, Cury (CURY3) e Tenda (TEND3) no últimos cinco anos.

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“O mercado de alta renda realmente traz uma certa resiliência dentro das teses da Bolsa de Valores. Os investidores têm uma predileção por empresas dentro desse segmento, principalmente nesses momentos de pressões inflacionárias, de cenário de juros em alta, como a gente vem acompanhando nos últimos dois anos principalmente”, comenta Victor Bueno, sócio e analista da Nord Research.

O impacto dos juros para varejistas e construtoras

O especialista lembra que companhias dos dois setores, no geral, foram muito impactadas pela alta dos juros. As da alta renda, no entanto, trouxeram resultados positivos em meio às adversidades.

“Os mais ricos não vão deixar de comprar joias por conta dos juros altos, isso falando dentro do mercado de varejo. Os ricos não vão deixar de comprar apartamentos luxuosos, grandes apartamentos, falando mais na parte de construtoras. Então existe, sim, essa maior solidez por parte do segmento de alto luxo dentro do consumo, e é por isso que os investidores acabam optando por essa forma de investimento”, avalia Bueno. “Muitas empresas continuaram, e continuam, a trazer crescimento no médio e no longo prazo, apesar do cenário”.

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Ele cita, em primeiro lugar, a Vivara, companhia que no primeiro trimestre de 2023 trouxe sua receita líquida saltando 16,1% no ano, para R$ 391,6 milhões, e Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações, na sigla em inglês), 13% para R$ 80,1 milhões.

“Dentro das construtoras, a gente tem a Lavvi, uma empresa que é uma joint venture da Cyrela, que atua com um segmento de alta e altíssima renda. Vem fazendo parcerias importantes com grandes marcas de fora do país, com estilistas. Caso da Versace  e do El Saab, um estilista libanês. Isso acaba trazendo ali uma certa exclusividade para os seus empreendimentos e, também, uma grande resiliência”, explica.

A Lavvi, no primeiro trimestre, trouxe uma alta de 60% da sua receita, que foi a R$ 159,1 milhões, e de 119% do Ebitda, que foi para R$ 13,3 milhões. As ações da construtora saltaram 50% apenas em 2023.

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“Há uma preferência por essas companhias como Vivara e Lavvi pois elas oferecem mais visibilidade no longo prazo. A gente está vendo uma C&A (CEAB3), por exemplo, que é uma empresa focada mais nas classes média e baixa e que subiu mais de 100% no ano de 2023. Mas se trata também de uma empresa que não traz tanta visibilidade pensando para os próximos anos”, complementa.

Companhias de alta renda são, porém, também menos elásticas

Por terem resultados mais estáveis, as empresas de alta renda, no caso de viradas de ciclos, também tendem a não ver seus lucros sendo tão impactados como as empresas focadas no baixa renda, dada a menor “elasticidade”.

“Os públicos de rendas mais altas são menos suscetíveis a ciclos econômicos. A renda dessas classes geralmente são mais protegidas em cenários mais frágeis e econômicos”, aponta Danniela Eiger, analista de varejo da XP Investimentos. “Quando entramos na dinâmica da queda de juros, no entanto, as vendas tendem a crescer menos. Mas isso não quer dizer que os impactos sejam nulos. É um pouco menor”.

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Ela destaca entre os fatores que levam o Grupo Soma a ser o favorito da XP no segmento de moda e alta renda, além de possíveis melhoras operacionais, é o fato de a companhia estar exposta à alta renda, com a Farm, por exemplo, e também a tickets mais baixos, com a Hering.

“A Vivara tem a marca Life [segmento de prata], que é um ticket um pouco mais baixo. Ainda que não dê para dizer que é voltada a uma classe muito baixa, ela acaba atingindo ali talvez um público B+ e eventualmente, pode ter algum benefício”, acrescenta.

Ygor Altero, analista do setor imobiliário da XP Investimentos, vai no mesmo sentido ao comentar as construtoras.

“Pode acontecer um movimento de rotatividade de ações de construtoras de alta renda para a classe média, que é a terceira opção. Mas é necessário que os juros caiam mais. O juro do financiamento imobiliário ainda está muito alto”, fala. “A classe mais alta não depende tanto de financiamento imobiliário, já paga boa parte do imóvel. Nós gostamos do segmento de alto padrão”, diz o especialista da casa, mencionado a Cyrela e a Lavvi.

Por outro lado, o Itaú BBA reforça a EzTec como a sua top pick. “As ações de construtoras tiveram ganhos de cerca de 50% no acumulado do ano, ante um ganho de 9% para o Ibovespa. Apesar do bom desempenho, ainda enxergamos upside para as empresas de renda mais baixa, mas continuamos a preferir o segmento de renda média como uma forma de capturar o cenário macro atual”, aponta.

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