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SÃO PAULO – No último ano, se avaliarmos o desempenho do Ibovespa, podemos perceber que a bolsa brasileira já amarga um prejuízo de mais de 28% um pouco antes do fechamento desta terça-feira (4), número substancialmente superior ao desempenho observado pelos outros índices internacionais.
Para se ter uma ideia, nos últimos 365 dias, o índice Dow Jones, que mede o desempenho das 30 principais blue chips norte-americanas, registra perdas abaixo de 1%, enquanto o Nasdaq, que concentra as ações de tecnologia, cai um pouco mais que 1%. Na Europa, FTSE100, de Londres, perdeu cerca de 10%, o DAX 30, de Frankfurt, teve desvalorização de aproximadamente 15% no mesmo período e o CAC 40, de Paris, desvalorizou-se pouco mais de 20%.
Olhando esses números, fica a pergunta: se o centro do furacão chamado crise está na Europa e nos EUA, por que a nossa bolsa está mais descontada que as demais? Na realidade, e conforme analistas, não é que as bolsas de fora estão sentindo menos, mas é que o contágio da crise só chegou agora ao Brasil, daí as perdas acentuadas.
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Segundo Eduardo Velho, economista chefe da Prosper Corretora, há dois anos o índice brasileiro vem patinando, em um movimento de idas e vindas. “Houve pequenas reações em dados momentos, mas agora afundamos de novo”, diz Velho.
Segundo ele, mesmo em 2008, o Brasil era um dos poucos países que ainda tinha fundamentos capazes de amenizar as consequências da crise externa. O movimento percebido agora é o de maior sentimento de aversão ao risco, com uma piora da percepção do nosso crescimento.
“Agora estamos com uma expectativa ruim de crescimento. Houve um movimento mais intenso de queda das commodities nos últimos quatro meses que, por sua vez, são os papéis que mais pesam no nosso índice. O dólar contrabalança, mas o crescimento econômico é que conta no desempenho no final”, explica o economista.
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No caso das commodities, vale destacar que se tratam daquelas que mais impactam no nosso índice, ainda muito concentrado em poucos papéis, como é o caso de Petrobras. A empresa foi uma das que mais sofreram no índice, e até o momento acumula queda de 31,18%.
Mais razões…
Por sua vez, o fator câmbio, e sua variação, tem grande peso no desempenho do índice por aqui, além de ser um sinal do contágio da crise. “Há algumas semanas, quando a valorização do real era forte, a bolsa ficou cara, ou seja, a negociação não rendia o mesmo. Assim, os investidores tendem a sair”, explica Eduardo Velho.
O economista da Prosper diz que a antiga percepção dos investidores era de que o câmbio chegasse a R$ 1,60 neste ano, mas essa expectativa cambial piorou, chegando agora a R$ 1,73, segundo o relatório Focus. “O fluxo cambial financeiro também está negativo, o que significa que muitas captações foram reduzidas, e a exposição dos investidores na bolsa passou a ser mínima”, explica.
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Por fim, Velho acredita também que as assests estão com exposição mínima no mercado de ações. “Elas tem dinheiro para investir, mas está tudo parado em caixa, porque não sabem se o fundo do poço já chegou. As pessoas estão com receio de operar… a aversão ao risco é grande”.
Fuga de investidores
Podemos atribuir este movimento também, em grande parte, à saída do investidor local entre 2010 e 2011, segundo João Pedro Brugger, analista da Leme Investimentos. “Quem entrou no final de 2007, início de 2008, passou três anos operando em uma bolsa com patamares abaixo do que já foi visto. Com isso o investidor parece ter se mostrado um pouco cansado com o que vem vendo”, explica.
Para ele, os fundos também se cansaram, mas desta vez do cenário de incertezas lá de fora, e por isso estão desovando suas posições, saindo da bolsa e procurando outros investimentos. Ainda segundo Brugger, a nossa bolsa tem uma liquidez muito alta se comparada aos outros mercados emergentes, o que em momentos de crise é precioso. “Então o investidor, quando precisa de liquidez, ele prefere atuar no nosso mercado, do que em outros”.
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Medias do Governo também pesam na conta do Ibovespa
Outro fator apontado pelos profissionais foram as fortes mudanças em nosso mercado, como a queda da taxa básica de juros (Selic) no início de agosto e o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para os derivativos. “Elas trouxeram um ingrediente novo, que foi o clima de incerteza em relação à economia brasileira no médio prazo”, ressalta o economista da Leme Investimentos.
Neste sentido fica a dica de Brugger: “o investidor tem que olhar seus investimentos na bolsa no longo prazo, para além dos três anos, porque só a partir desse prazo tais descontos poderão ser corrigidos”.
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