Plano&Plano (PLPL3) sobe 7%, Cyrela (CYRE3), EzTec (EZTC3) e Trisul (TRIS3) despencam após resultados; veja análises

Ações da JHSF também registraram forte queda, em dia negativo para os mercados como um todo

Lara Rizério

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As ações das empresas de construção civil que divulgaram os resultados do quarto trimestre de 2022 (4T22) registraram forte queda na sessão desta sexta-feira (17), com baixas que chegaram a ser de mais de 10%. A exceção ficou com a Plano&Plano (PLPL3), o destaque positivo do setor entre os balanços.

“Observamos resultados negativos no segmento de renda média-alta, com algumas construtoras relatando compressão da margem bruta, prejudicadas pelos custos de construção sob pressão e dados operacionais moderados em termos de vendas líquidas e lançamentos, excluindo Cyrela CYRE3. Plano & Plano foi o destaque neste trimestre, combinando sólido crescimento no lucro líquido e melhora significativa na margem bruta”, apontam os analistas da XP.

Contudo, vale destacar que as ações da Cyrela também registraram forte queda, fechando com desvalorização de 7,47% (R$ 14,74), assim como a EzTec (EZTC3), com baixa de 10,73% (R$ 13,31). Já a Trisul (TRIS3) teve forte desvalorização de 8,99% (R$ 3,24), seguido por JHSF (JHSF3), com queda de 7,66% (R$ 3,88). Já a Plano&Plano avançou 7,08%, a R$ 5,14.

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Confira as análises dos balanços:

Plano&Plano (PLPL3)

A XP aponta que os resultados da Plano&Plano foram robustos, impulsionados pelo sólido crescimento da margem bruta, acelerando para 31,4% (+2,1 pontos percentuais na base anual e trimestral), ligeiramente acima de estimativas da casa (+20 pontos-base), impulsionada por (i) custos sob controle; e (ii) eficácia no repasse de inflação na carteira de recebíveis.

“Destacamos a margem a apropriar (REF) atingindo 36,3% (+240 pontos-base ao ano e +150 pontos-base no trimestre), impulsionada por aumentos consistentes de preços ao longo de 2022 (+7,7% versus 2021)”, avalia a XP. Dito isso, a casa tem perspectiva positiva de margem bruta (consolidada) para a Plano&Plano, sugerindo um potencial aumento à medida que novas vendas são reconhecidas no resultado.

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A receita líquida acelerou significativamente, atingindo R$ 436 milhões (+46,3% na base anual), ligeiramente acima das estimativas da casa (+4% versus o esperado pela XP), explicada pelo desempenho recorde de vendas líquidas no 4T, atingindo R$ 519 milhões (+70,3% na base anual).

Além disso, o lucro líquido aumentou acentuadamente para R$ 58 milhões (+110,7% ao ano), levando o Retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) nos últimos doze meses a níveis sólidos de 36,8%. “Dito isso, reiteramos nossa recomendação de compra para PLPL3 com preço-alvo de R$ 7,00 por ação”, ressalta a XP.

O Itaú BBA ressalta que a empresa superou as estimativas do banco em todas as linhas. “A receita ficou 10% acima da nossa projeção, refletindo o melhor desempenho de vendas no trimestre. A margem também expandiu e o lucro ficou 40% acima na nossa expectativa”, avalia o banco.

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O Bradesco BBI aponta impacto positivo para a sua tese. A Plano & Plano apresentou resultados sólidos tanto do ponto de vista operacional quanto financeiro, com uma recuperação de margem, assim como fortes vendas e lançamentos.

“Vemos a companhia em uma tendência operacional positiva, com espaço para melhorias de margem, enquanto a história permanece muitas vezes negligenciada e subvalorizada. Mantemos nossa recomendação de Compra para PLPL3”, apontam os analistas.

Cyrela (CYRE3)

A Cyrela teve lucro líquido de R$ 208 milhões, queda de 4,5% sobre o desempenho do mesmo período de 2021, diante de alta marginal nas receitas, queda na margem bruta (com queda de 2 pontos percentuais, para 31,4%) e queima de caixa. A construtora teve uma queima de caixa de R$ 54 milhões nos três últimos meses do ano passado.

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O Itaú BBA ressalta que, apesar de uma ligeira queda na margem bruta, os gastos administrativos foram melhores do que o esperado e a venda das ações da Cury (CURY3) teve um impacto positivo, fazendo com que o lucro ficasse um pouco acima do previsto pela instituição. O banco também cita o gasto de caixa.

Para o BBI, o impacto em sua tese para o ação é neutro. A Cyrela apresentou resultados mistos com resultados operacionais sólidos e um lucro líquido adequado, apesar de uma pequena queda na margem bruta, na visão do banco.

“Vemos a Cyrela se segurando bastante bem em meio aos desafios macroeconômico do segmento, e seus resultados foram sustentados por uma atividade comercial adequada e uma sólida carteira de receitas a ser reconhecida que deve ajudar a navegar por 2023, o que muito provavelmente será um ano desafiador”, afirmam os analistas. A ação CYRE3 negocia a 0,8 vez o múltiplo P/VPA [Preço sobre Valor Patrimonial por ação], sendo o nome mais líquido do setor, o que pode ajudar a ação a manter seu desempenho superior aos pares no acumulado do ano, concluem.

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Já para a XP, os resultados foram ligeiramente positivos no 4T22, com uma receita bruta resiliente de R$ 1,37 bilhão (+4,1% ao ano e queda de 2% versus o esperado pela XP), explicada por (i) sólidas vendas líquidas de lançamentos e estoque; (ii) reconhecimento de receita (POC) aumentando, motivada pela evolução na construção de lançamentos.

Além disso, a queda na margem bruta foi impactada por (i) comparação mais difícil com o 3T22; (ii) contribuição negativa de novos lançamentos com margens menores versus 2021; e (iii) custos sob pressão.

“Na nossa visão, o desempenho mais forte das joint ventures e o ganho não-recorrente com a venda da participação da Cury (CURY3) impulsionaram o lucro líquido para R$ 208 milhões, quase em linha com nossas estimativas. Como resultado, a Cyrela apresentou um fluxo de caixa negativo de R$ 54 milhões versus R$ 100 milhões no 4T21 (ex-dividendos), levando sua alavancagem (Dívida Líquida/ Patrimônio Líquido) a 7,8%, que continuamos a ver como saudável”, avalia a XP, que mantém visão positiva sobre a ação com uma recomendação de compra e preço-alvo de R$ 33 por ação.

O Credit Suisse destaca que a companhia encerrou 2022 com um desempenho impressionante e nadando contra a maré, considerando a deterioração da dinâmica do setor. “A empresa conseguiu entregar um ROE de 12,5%, o que acreditamos justificar o premio no seu valuation versus os pares e reforça a posição da empresa como líder do segmento de média/alta renda”, avalia.

Mas, ainda sem sinais de melhora no affordability [acessibilidade financeira] e com o estoque da cidade ainda em níveis elevados, os analistas do Credit Suisse estão cautelosos para que a Cyrela consiga replicar esse desempenho em 2023, algo que o mercado parece precificar, na visão da casa.

“Se uma tendência de queda nas taxas de longo prazo se concretizar, acreditamos que a ação continuará reagindo positivamente, porém, com o custo de capital atual, estimamos que a Cyrela teria que entregar um ROE de cerca de 15% em 2023, o que parece desafiador”, avalia.

EzTec (EZTC3)

A EzTec teve queda de 56,5% no lucro líquido do quarto trimestre de 2022 ante o mesmo período do ano anterior, a R$ 31,5 milhões, diante de uma forte queda de margem gerada por provisão após uma entrega de projeto em São Paulo atrasar. O grande destaque negativo foi a margem bruta da empresa, que cedeu 19 pontos percentuais, a 24,8%.

A companhia apresentou resultados majoritariamente negativos no 4T22, disse a XP. Do lado positivo, a receita líquida aumentou (+76% no ano), ajudada pela venda de terrenos, vendas recordes de estoque concluído com um POC maior, impulsionando o reconhecimento de receita (+4% acima da projeção da casa).

Por outro lado, a margem bruta foi impactada por (i) provisões dadas os atrasos de entrega (Parque da Cidade); (ii) custos sob pressão; (iii) e novos projetos com margens mais baixas lançados desde 2019.

Maiores despesas de venda (+33% na base trimestral) foram explicadas pelo aumento dos lançamentos no 4T22. Consequentemente, o lucro líquido atingiu R$ 32 milhões (-57% ano e -16% abaixo da projeção da XP), também prejudicado pelo menor resultado financeiro versus 3T22. “Mantemos nossa recomendação de compra, com base em um valuation atrativo, negociando a 0,6 vez o P/VPA. No entanto, continuamos a ver um cenário desafiador para o segmento de renda média, com base em taxas de juros imobiliárias mais altas, piora da acessibilidade e menor confiança”, avaliam.

O Credit Suisse aponta que a EzTec apresentou resultados negativos dentro do esperado, com a margem bruta (MB) impactada pelos atrasos no Parque da Cidade, que acabaram pesando no resultado. Os analistas do banco têm uma visão mais cautelosa para a média renda e mantêm o neutro para o papel.

O Itaú BBA ressalta que os resultados foram fracos, como esperado, enquanto a margem (rentabilidade) bruta teve uma queda devido a gastos extras e atrasos no projeto Parque da Cidade. Mas, vale ressaltar, que a empresa já provisionou totalmente o impacto negativo do projeto.

Alguns fatores pontuais também afetaram as despesas gerais e a receita  de participações. “Mantemos nossa recomendação neutra (desempenho em linha com a média do mercado) para EZTC3, com preço-alvo de R$ 14 ao fim de 2023”, avalia.

O impacto do resultado é negativo para a tese do BBI. Apesar dos sólidos resultados operacionais no 4T22, a Eztec registrou um impacto pior do que o esperado em sua margem bruta devido ao atraso no projeto Parque da Cidade. O Bradesco BBI aponta que a EZTC3 está sendo negociada a um múltiplo P/VPA deprimido de 0,7 vez (raramente o múltiplo de EZTC3 fica em níveis tão baixos por muito tempo), mas ainda vê a empresa com alguns desafios estruturais pela frente, principalmente relacionados à rentabilidade (ROE) para o resto do ciclo de negócios em curso (durante os próximos 2 a 3 anos).

“Como resultado, isso provavelmente exigirá uma aceleração significativa nos lançamentos e/ou uma redução significativa em seu valor contábil para trazer retornos de volta ao padrão histórico de ROEs atraentes da Eztec. Permanecemos Neutros em relação à Eztec e favorecemos a Cyrela no segmento de média/alta renda”, aponta.

Trisul (TRIS3)

O lucro líquido ajustado foi de R$ 9 milhões (recuo de 8% no trimestre e de 45% em base anual), abaixo do projetado pelo BBI e pelo consenso em 67% e 46%, respectivamente. O ajuste no resultado veio de um impacto não recorrente de R$ 18 milhões de dois ativos marcados a mercado, ambos para locação.

O impacto do resultado é negativo para a ação, segundo o BBI. Apesar de apresentar um sólido crescimento da receita, impulsionado por lançamentos mais fortes no 4T22, a margem bruta caiu 5,3 pontos percentuais no trimestre e 7,2 pontos no ano, enquanto o resultado ajustado ficou bem abaixo das expectativas da casa e do consenso.

“Portanto, os resultados indicam uma possível revisão baixista para nossas estimativas”, avalia o Bradesco BBI, mantendo recomendação neutra.

A Trisul apresentou resultados neutros no quarto trimestre, na visão da XP. Pelo lado positivo, a receita líquida aumentou para R$ 204 milhões (+19,4% ao ano), em linha com as suas estimativas, impulsionada por (i) aceleração das vendas líquidas, atingindo R$ 234 milhões (+43,1% no ano), impulsionadas pelo aumento de lançamentos no trimestre (R$ 617 milhões no 4T versus falta de lançamentos no 3T22); e (ii) vendas de estoques com maior percentual de conclusão (POC), auxiliando no reconhecimento da receita.

Do lado negativo, a margem bruta caiu significativamente para 25,1% (-7,2 p.p. ao ano), abaixo de nossas estimativas (-4,0 p.p. versus estimativa da XP), impactada negativamente pela estratégia de descontos da Trisul para aumentar o volume de vendas líquidas.

JHSF (JHSF3)

A JHSF lucrou R$ 85,2 milhões de forma líquida no quarto trimestre de 2022 (4T22), uma redução de 66,5% em relação ao valor reportado no mesmo período de 2021, impactado pela diminuição das receitas e aumento das despesas operacionais e financeiras.

O lucro antes juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado totalizou R$ 133,7 milhões no 4T22, um recuo de 49,2% em relação ao 4T21.

A margem Ebitda ajustada atingiu 33% entre outubro e dezembro, baixa de 21,7 pontos percentuais (p.p.) frente a margem registrada em 4T21.

Para o Bradesco BBI, embora a JHSF tenha apresentado um desempenho operacional positivo no 4T22, o desenvolvimento baseado em PoC teve uma participação maior no mix da empresa (cerca de 60% das vendas imobiliárias do trimestre versus 26% no 4T21), levando a um reconhecimento de receita mais lento do que para venda de terrenos.

Além disso, as margens ficaram abaixo do esperado pelo BBI, explicadas principalmente pelos investimentos em Varejo+Digital.

“Para 2023, devemos ver uma tendência de queda de P&L [demonstrativo de Lucros e Perdas] porque os desenvolvimentos baseados em PoC terão uma participação mais relevante no mix de receita, o que deve desacelerar o ritmo de ganhos da empresa. No entanto, a desaceleração deve ser lida como um cenário temporário, que não impacta nossas perspectivas de longo prazo para a JHSF”, avalia o BBI.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.