Economistas revisam PIB de 2022 para cima e cortam para 2023; expectativa para inflação chega até 10% este ano

Força de dados de atividade do 1º tri guia projeções altistas, mas expectativa é de desaceleração; já aperto monetário deve afetar economia em 2023

Lara Rizério

Bandeira do Brasil  (Foto: Tim Clayton/Corbis via Getty Images)
Bandeira do Brasil (Foto: Tim Clayton/Corbis via Getty Images)

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Na última quinta-feira, o Ministério da Economia revisou as suas projeções para a economia nacional, mas manteve alguns números, como a projeção de crescimento econômico para 2022 em 1,5%. A pasta também deixou inalteradas as projeções de crescimento da economia de 2023, 2024, 2025 e 2026, todas em 2,50%.

Já para a inflação, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), a estimativa da equipe econômica subiu para 7,90% em 2022, contra 6,55% da projeção feita em março. Para 2023, o patamar subiu de 3,25% para 3,60%.

Enquanto o governo manteve as projeções para o PIB, diversas casas de análise têm revisado para cima as projeções para 2022, enquanto cortam as estimativas para o próximo ano – ou ao menos vendo um crescimento bem menor do que neste ano.

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Rodolfo Margato, economista da XP, aponta um cenário de revisões altistas para o PIB de 2022 em um movimento parecido ao de 2021. “Mas, desta vez, não pela forte expansão do setor agrícola e pela expressiva variação positiva dos estoques, mas sim na esteira da reabertura econômica, da recuperação sólida do emprego, do avanço da renda disponível das famílias e do salto nos preços das commodities, que impulsiona muitos setores exportadores e gera efeitos de ‘trasbordamento de renda’ sobre outras atividades locais”, avalia o economista. A casa elevou a sua projeção para o crescimento da economia brasileira em 2022 de 0,8% para 1,6%.

O Citi também revisou para cima, ainda que de forma mais módica, a sua projeção para o crescimento do ano, passando de previsão de alta de apenas 0,1% para avanço de 0,7%, citando força de indicadores econômicos recentes após dados de produção industrial, construção civil, vendas no varejo e atividade de serviços.

As leituras mais recentes do IBGE mostraram que a produção industrial do Brasil teve seu primeiro ganho trimestral em um ano nos primeiros três meses de 2022, enquanto o setor varejista cresceu mais do que o esperado em março – período em que o volume de serviços saltou 1,7%, resultado mais forte para o mês na série histórica iniciada em 2011.

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Após os serviços divulgados em 12 de maio, o Credit Suisse também elevou de forma significativa a sua estimativa para a economia nacional, projetando avanço de 1,4%, ante previsão anterior de apenas 0,2% de crescimento.

“As surpresas para cima nos serviços foram mais expressivas em setores que foram fortemente afetados pela pandemia, indicando uma recuperação mais rápida do lado da oferta da economia. Além disso, a demanda seguiu robusta apesar do aperto das condições financeiras e da inflação mais alta”, disse o banco em relatório assinado por Solange Srour, Lucas Vilela e Rafael Castilho.

Os economistas destacaram que a forte surpresa para cima confirma uma dinâmica muito melhor para a atividade econômica vista em outros indicadores econômicos (também ressaltando o outro conjunto de indicadores que inclui  produção industrial, vendas no varejo e taxa de desemprego)”, o que justifica a melhora de 1,2 ponto percentual no prognóstico de crescimento deste ano.

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Já o Bank of America elevou as suas projeções para o PIB brasileiro de 2022 de 0,5% para 1,5%.

“Acreditamos que o crescimento do país aumentará em 2022, uma vez que os recentes desenvolvimentos na frente externa estão beneficiando mercados emergentes não-europeus como o Brasil. Especificamente, o choque dos preços das commodities eleva os números da balança comercial do país, aumentando a produção e desbloqueando investimentos incrementais no setor primário”, explica o BofA.

Além disso, o maior estímulo fiscal anunciado pelo governo aumentará a demanda agregada, ajudando a mitigar a deterioração das finanças das famílias. A soma de estímulos fiscais já concedidos pelo governo – como o corte do IPI, o Auxílio Brasil e a autorização de saques do FGTS – já atinge R$ 258 bilhões este ano (2,7% do PIB), 54,1% acima dos R$ 167,4 bilhões (1,9% do PIB) concedidos em 2021. Essas medidas devem ter impacto positivo sobre a demanda agregada, especialmente no segundo trimestre, avalia o BofA.

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Os últimos dados de atividade também sustentaram a expectativa de um início de ano mais forte, aponta. Por fim, o Bradesco BBI revisou para cima as suas projeções para o PIB deste ano, de alta de 0,8% para avanço de 1,5%, também destacando os dados positivos nos primeiros meses de 2022. Na mesma linha, esteve o Goldman Sachs, revisando as projeções para o ano de alta de 0,6% para 1,25%.

O inverno está chegando?

Enquanto as projeções para 2022 são altistas, principalmente para o primeiro semestre, as revisões para 2023 são para baixo, com a desaceleração da atividade já devendo ocorrer no segundo semestre. Ao mesmo tempo, as expectativas inflacionárias para este e para o próximo ano se elevaram, o que também ajuda a explicar as revisões para baixo na atividade em 2023.

A estimativa de crescimento do Bank of America, por exemplo, para o próximo ano foi reduzida de alta de 1,8% para 0,9%, com a perspectiva de um carrego estatístico negativo (quando o resultado de um trimestre causa um impacto nos seguintes, assumindo taxas de variação nulas ao longo de ano), com os impactos da política monetária mais apertada sobre a atividade.

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A projeção é de uma queda do PIB já no terceiro trimestre, com a materialização dos impactos defasados da política monetária. “Acreditamos que os juros reais só atingiram o território contracionista em março de 2021. Para nós, isso significa que o efeito cumulativo de juros mais altos terá um impacto mais forte no crescimento no terceiro trimestre, culminando em uma leitura negativa interanual no primeiro trimestre de 2023″, afirmam os analistas.

Na passagem de 2022 para 2023, o cenário do BofA considera que aceleração do consumo das famílias (de 0,7% para 0,9%) e dos investimentos (de 4,1% para 11,2%) será prejudicada pelos juros altos e pela incerteza eleitoral. Enquanto isso, haverá desaceleração do consumo do governo (1,7% para 0,0%) e das exportações (3,9% para 1,7%); já a normalização da demanda interna deve levar a uma aceleração também das importações (4,1% para 11,2%).

Já o Credit Suisse reduziu sua projeção para a expansão econômica em 2023 de 2,1% para 0,9%. A projeção de elevação da Selic para patamares bastante elevados até o fim desde ano e de início mais tardio de um ciclo de afrouxamento monetário foram citados como responsáveis pelo ajuste, além de uma “perspectiva piorada para o crescimento econômico global no próximo ano”.

A Selic deve encerrar este ano em 14% (atualmente está em 12,75%) e o próximo em 9,5%, segundo o cenário atual do Credit Suisse. Em 10 de maio, o banco elevou seus prognósticos para a inflação em 2022 e 2023, a 9,8% e 5,1%, respectivamente.

O Goldman Sachs revisou para baixo a sua projeção de crescimento para o ano que vem de 1,2% para 0,9%, vendo riscos de novas revisões para baixo. “Em suma, esperamos que a economia se expanda no primeiro semestre de 2022, mas enfrente ventos contrários intensos no segundo semestre. Isso legaria a um carrego estatístico negativo para 2023 (projetado em -0,25 ponto percentual). Além disso, a economia no segundo semestre do ano que vem provavelmente sofrerá o impacto defasado de condições monetárias e financeiras muito restritivas de 2022”, apontam.

A XP manteve a projeção de alta de 0,5% para o PIB de 2023, mas em desaceleração em relação a sua projeção para o ano anterior, também prevendo contração da atividade doméstica no segundo semestre deste ano.

“As condições monetárias mais restritivas devem impactar a demanda de forma mais expressiva a partir de meados deste ano, principalmente os investimentos privados e o consumo de bens duráveis. O endividamento das famílias em trajetória de alta, a menor massa de renda disponível aos consumidores (considerando as medidas de antecipação para o 2º trimestre) e o crescimento mais lento da economia global são outros ‘ventos contrários’ relevantes para o PIB do Brasil nos próximos trimestres. Além disso, os benefícios da reabertura econômica – especialmente sobre as atividades de serviços – devem se dissipar gradualmente”, avalia o economista da casa.

Também houve elevação nas projeções de inflação pela XP. A casa ainda vê desafios na frente inflacionária, e subiu de 7,4% a 9,2% e de 4% para 4,5%, respectivamente, suas estimativas de inflação para este ano e o próximo.

“Em nosso último relatório mensal, discutimos e quantificamos o viés altista para a nossa projeção de inflação. Desde então, muitos dos riscos elencados se materializaram ou tiveram aumento considerável da probabilidade de ocorrência”, disse a XP na véspera. “Destaque para o agravamento das rupturas das cadeias de suprimentos globais devido às medidas de lockdown na China, a pressão nos preços de combustíveis e serviços acelerando com a reabertura da economia”, completou.

No início do mês, o BNP Paribas tinha revisado as suas projeções para a inflação brasileira, passando de uma projeção de avanço de 8,5% para 10% em 2022, destacando quatro frentes principais para as revisões para alta. São elas: i) petróleo; ii) alimentação em casa; iii) restrições globais nas cadeias de suprimentos e iv) aquecimento do setor de serviços, com liberação do FGTS. Assim, em meio às projeções cada vez mais altas para a inflação levando à extensão do ciclo de aperto monetário, a expectativa é de que o impacto na atividade seja sentido, mas no ano que vem.

(com informações da Reuters)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.