Petrobras (PETR4) coloca nova política em teste: chegou a hora da estatal elevar os preços dos combustíveis?

Analistas veem preços descolados das cotações internacionais e mesmo dos novos parâmetros com a recente alta dos preços do petróleo

Equipe InfoMoney

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Chegou a hora da Petrobras (PETR3;PETR4) aumentar o preço dos combustíveis?

Em meio a tantos fatores a serem monitorados pelos investidores da estatal (ruídos políticos, política de dividendos e espera por balanços), a política de preços também está no radar do mercado em meio a alta do petróleo. O do tipo brent, utilizado como referência para a estatal, atingiu na véspera suas máximas desde abril, a US$ 84 o barril.

A alta dos preços internacionais é vista como um dos mais expressivos testes para a nova política de preços, anunciada em maio. Na ocasião, a petroleira criou uma nova política comercial que leva em conta os custos internos de produção, os preços dos concorrentes em diferentes mercados no país e as parcelas de combustíveis produzidas no país ou compradas no exterior, parâmetros estes vistos como incertos pelos analistas de mercados.

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Atualmente, a companhia tem vendido gasolina e diesel a um valor cerca de 20% abaixo das cotações internacionais, gerando preocupação sobre o impacto de segurar os preços para as contas da estatal com impacto na rentabilidade, remetendo assim aos “tempos sombrios” de combustíveis subsidiados que tanto afetaram a empresa.

O Bradesco BBI aponta que tem recebido muitos questionamentos sobre se a estatal deve subir o preço da gasolina e, mesmo com base na nova política da empresa, que sugere não vender preços de combustível abaixo do custo marginal (próximo à paridade de exportação), parte do mercado acredita que chegou a hora de elevar os preços.

Por outro lado, os investidores começaram a ficar apreensivos sobre quais poderiam ser as consequências políticas caso a empresa anunciasse seu primeiro aumento de preço do ano.

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Na época da divulgação da nova política de preços, os analistas do BBI apontaram entender que o custo marginal da Petrobras é o custo do petróleo bruto para as refinarias brasileiras (referenciado em Marlim/Búzios/outros blend) + um custo de refino, que tende a ficar em torno de US$ 2 por barril (dependendo da capacidade de utilização de cada refinaria).

“Ou seja, quaisquer que sejam as variáveis macroeconômicas, a Petrobras nunca deve vender combustível abaixo de seu custo marginal de petróleo bruto + custo de refino (como fez em governos anteriores)”, apontou o banco.

Para os analistas do BBI, a Petrobras está vendendo atualmente a gasolina abaixo do valor marginal (VM), o que sugere que ela deveria ajustar os seus preços para cima. Em cálculo, o banco aponta que esse valor corresponde a US$ 95 o barril, sendo que a estatal tem vendido o combustível, a US$ 86, como destacado no gráfico abaixo.

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Comparação entre o custo marginal e o preço da gasolina ao longo do tempo:

Além disso, o preço da gasolina no Brasil também está muito próximo dos preços do brent, sendo que a última vez que isso foi visto foi no governo Dilma.

“Analisando o passado, a única vez que a Petrobras vendeu gasolina e diesel a preços abaixo do preço do petróleo foi nos anos Dilma, de 2011 a 2014 (cerca de US$ 10 abaixo por barril). Neste momento, a Petrobras está vendendo gasolina no Brasil a US$ 86 o barril, muito próximo ao preço spot do brent de US$ 84,50, mas ainda acima dele”, avalia o banco.

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Isso significa na prática é que a Petrobras está vendendo a gasolina muito próxima do seu custo marginal de produção, que na visão do BBI seria em torno de US$ 84 o barril.

Preço de diesel e gasolina da Petrobras em relação ao brent:

Fonte: Bradesco BBI

Porém, pode haver algum ruído político se os preços aumentarem?

Este tem sido o temor recorrente, aponta o banco. Porém, cabe ressaltar também que os preços da gasolina na bomba caíram drasticamente desde o pico de R$ 7,50 o litro em meados do ano passado, em cerca de R$ 1,90 o litro, para R$ 5,60 o litro em média atualmente.

Olhando para a teoria sobre a nova política de preços, a Petrobras precisaria aumentar os preços em cerca de R$ 0,30 o litro, ou 6% na bomba, o que não seria um aumento muito acentuado.

Além disso, os analistas estimam que, com essa gestão introduzindo uma política de valor marginal, a Petrobras esteja cobrando R$ 0,65 a menos pela gasolina do que estaria sob a paridade internacional. Assim, a política de preços implementada por esta equipa de gestão já mostra um “impacto social”, apontam.

“De qualquer forma, caso sejam anunciados aumentos de preços, acreditamos que o mercado temerá as repercussões negativas que isso possa ter entre alguns membros do governo. Isso já está acontecendo, a nosso ver”, avalia a equipe de análise.

O BTG Pactual também aponta que o preço do petróleo, que subiu 15% no último mês, é um risco.

Porém, pondera ao apontar que, enquanto alguns argumentam que isso pode causar ruído significativo sobre as políticas de preços de combustível, a companhia ainda está exposta aos preços da commodity, o que significa que o brent mais alto abriria caminho para dividendos extraordinários até o final do ano.

Pressão aumenta

Enquanto o petróleo sobe, a queda do câmbio tem gerado alívio, com o dólar em baixa de cerca de 10% no ano, na casa dos R$ 4,75. Nesta semana, em entrevista, o ministro da Fazenda Fernando Haddad afirmou que a queda do dólar tem gerado espaço que permitiu reajustar preço de combustível para baixo.

Porém, a visão de que o dólar não tem mais tanto espaço para cair no curto prazo, enquanto analistas ainda veem resiliência para o petróleo acima de US$ 80 o barril por conta da oferta mais restrita, torna o cenário ainda desafiador para manter os preços de combustíveis baixos.

Em menos de duas semanas, a defasagem em relação aos preços praticados no Golfo do México, usado como parâmetro pelos importadores, aumentou de percentagens em torno dos 10% para mais de 20%.

Conforme destacou Sergio Araújo, presidente da associação, ao Estadão, as defasagens de preços estão em patamares muito elevados. No caso da gasolina, a defasagem atingiu 23% nas refinarias da Petrobras na última segunda-feira, enquanto o diesel registra diferença de 17%.

A Acelen, única refinaria privada de grande porte do País, estava até então com os preços 14% e 10% defasados, respectivamente, e começou a exportar diesel por não conseguir concorrer no mercado brasileiro.

“O fato da Acelen estar exportando diesel significa que a Petrobras está deixando dinheiro sobre a mesa, porque os preços estão artificialmente muito baixos, mas como ela não tem a necessidade de acompanhar a paridade de importação, a gente fica em dúvida do que vai acontecer”, disse Araújo.

Enquanto isso, os últimos dados mostraram que a Petrobras está aumentando sua importação para garantir o abastecimento.

Na quarta, a estatal divulgou dados de produção e vendas, mostrando que as suas importações de gasolina saltaram 642,9% no segundo trimestre de 2023 em relação ao mesmo período de 2022, passando de 7 mil barris por dia (Mbpd) para 52 mil Mbpd. No primeiro semestre, o avanço foi de 228,6%. Já a importações de diesel subiram de 70 mil bpd no 2T22 para 93 mil no 2T23, embora estejam em linha com o 2T22 (96 mil bpd).

Enquanto isso, a taxa de utilização das refinarias da Petrobras aumentou 8 pontos percentuais (p.p.) no trimestre para 93% após a conclusão das manutenções em diversas refinarias durante o 1T23. O aumento da capacidade utilizada ainda não resultou em vendas significativamente maiores da empresa, mas pode indicar que a Petrobras está tomando as medidas necessárias para aumentar sua participação no mercado nas vendas domésticas de combustíveis, avalia o BBI.

No curto prazo, o banco ressalta que, como as importações de gasolina foram maiores no trimestre, isso  poderia levar a maiores perdas de importação, embora este não deva ser o caso no 2T23, uma vez que os preços estiveram em linha com a paridade de importação em média durante o período. Mas este é um fator a ser monitorado daqui para frente.

A XP também destacou em relatório na véspera que tem aumentado a pressão sobre a Petrobras por reajuste no preço da gasolina.

Na quinta, aponta, a 3R (RRRP3) e a Acelen anunciaram um aumento no preço da gasolina. A 3R subiu o preço em R$ 0,12 por litro, com o preço em Guamaré (RN) a R$ 3,20 o litro. Já a Acelen subiu em R$ 0,22 o litro para entrega na Bahia (preço médio de R$ 3,05) e R$ 0,29 nos demais estados do Nordeste e nos estados em que entrega no Norte (preço médio de R$ 2,99). Enquanto isso, a média de preço da Petrobras nos estados do Nordeste está em R$ 2,42.

Com isso, a diferença para o preço da Acelen na Bahia já está em R$ 0,63. “Já foi maior no passado (o recorde de diferença foi de R$ 1 por litro em março de 2022), mas começa a se aproximar de patamares que levaram a reajustes por parte da Petrobras no passado”, aponta a casa.

Já para o presidente da Associação Brasileira de Investidores, o economista Aurélio Valporto, a Petrobras ainda consegue ter lucratividade no atual cenário, dado que o seu custo de produção é baixo.

“O fato é que a Petrobras pode baixar ainda os preços, substancialmente, e ainda assim manter sua lucratividade. Vender a preços inferiores à paridade internacional é muito diferente de ‘subsidiar combustíveis’. Ela subsidia combustível quando vende abaixo de seu preço de custo, considerando preço de custo aquele que remunera o capital próprio a par da Selic . E isso está muito longe de acontecer”, aponta.

Ele destaca que o Brasil é virtualmente autossuficiente no refino de gasolina e, assim, a necessidade de importação é marginal. “O problema maior é o diesel, em que precisa importar 25%”, aponta. “O Brasil, através do pré-sal, tem hoje um dos menores custos de produção do planeta, comparável ao da Rússia”, complementa, avaliando que no Brasil o combustível está muito caro para um país autossuficiente em petróleo que precisa importar apenas pequena parcela dos refinados. Assim, Valporto defende a medida atual e aponta que o governo está colhendo os frutos com uma menor inflação.

Bradesco BBI e BTG Pactual têm recomendação neutra para as ações da Petrobras, também à espera de mais definições para a empresa sobre outros temas, como dividendos e alocação de capital.

(Com Estadão Conteúdo)

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