Política de Dividendos da Petrobras será de 45% do fluxo de caixa livre; ainda vale a pena investir com foco em renda passiva?

Política de dividendos é bem recebida pelo mercado; o que preocupa os analistas, agora, é mudança na política de preços dos combustíveis

Katherine Rivas

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A Petrobras (PETR4) anunciou a sua nova política de dividendos na noite desta sexta-feira (28). Entre as principais alterações está a destinação de 45% de seu fluxo de caixa livre ao pagamento de proventos. Na política de remuneração anterior, era previsto 60% de fluxo de caixa livre desde que a dívida da empresa estiver abaixo de US$ 65 bilhões.

O fluxo de caixa livre é a diferença entre o fluxo de caixa operacional e os investimentos, que foram ajustados para considerar, além das aquisições de imobilizados e intangíveis, também as aquisições de participações societárias. “Se a Petrobras adquirir uma participação da Vibra isso também passa a ser descontado do fluxo de caixa livre”, exemplifica Flávio Conde, analista da Levante Investimentos.

Já em relação a dívida bruta, a expressão foi substituída por nível máximo de endividamento definido no plano estratégico em vigor, eliminando a necessidade de atualização da política numa eventual mudança de referência de endividamento.

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A estatal também estabeleceu remuneração mínima anual de US$ 4 bilhões para exercícios em que o preço médio do petróleo brent, utilizado como referência pela companhia, for superior a US$ 40 o barril (bbl), a qual poderá ser distribuída independente do seu nível de endividamento.

A companhia ainda informou que poderá, em casos excepcionais, realizar a distribuição de remuneração extraordinária aos acionistas, superando o dividendo mínimo legal obrigatório desde que a sustentabilidade financeira seja preservada.

A petrolífera manteve o pagamento de dividendos trimestrais e manifestou a possibilidade de ter programas de recompras de ações.

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Como o mercado avalia a nova política de dividendos da Petrobras?

A nova política não trouxe nenhuma grande surpresa, já que boa parte dos analistas – os mais otimistas, ao menos – estavam projetando algo em torno de 40% do fluxo de caixa livre da Petrobras em proventos.

Flávio Conde, da Levante, acredita que com esta nova política o nível de distribuições de proventos em 2023 da petrolífera deve ter queda de 31%. Em um cenário positivo para o petróleo, Conde projeta um lucro líquido de R$ 110 bilhões para 2023.

“Com a política anterior, considerando 60% de fluxo de caixa livre, ficariam disponíveis R$ 9,10 para dividendos por papel em 2023. Mas com a mudança para 45% do fluxo, agora os dividendos devem ficar em torno de R$ 6,30 por ação para este ano”, calcula Conde. Este montante por ação considera também os dividendos já distribuídos pela petrolífera em relação ao exercício de 2023, que, até o momento, foram de R$ 4,75.

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Conde destaca, no entanto, que não é a redução de 60% para 45% do fluxo de caixa livre que preocupa o mercado e sim o abandono da política de preços de combustíveis que acompanhava o preço do petróleo internacional.

A nova política de preços da companhia leva em conta outros fatores, entre estes os custos internos de produção, os preços dos concorrentes em diferentes regiões do Brasil e as parcelas de combustíveis produzidas por aqui ou compradas no exterior, parâmetros estes vistos como incertos pelo mercado.

O petróleo Brent, que é referência para a estatal, atingiu na quinta-feira (27) sua máxima desde abril de US$ 84 o barril. Atualmente, a companhia tem vendido gasolina e diesel a um valor cerca de 20% abaixo das cotações internacionais, gerando preocupação sobre o impacto de segurar os preços para as contas da estatal e o efeito na rentabilidade.

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“Com R$ 6,30 de dividendos a Petrobras ainda continua sendo uma boa pagadora, mas esse descolamento do preço da gasolina e do diesel, pode fazer com que a companhia tenha uma receita menor e custo maior, puxando para baixo a projeção de lucro de R$ 110 bilhões”, pontua Conde.

Com um lucro menor, os dividendos também podem ficar mais magros. Conde cita também a remuneração mínima anual de US$ 4 bilhões se o preço médio do Brent estiver acima de US$ 40 o barril. “Se a Petrobras tiver prejuízo por não acompanhar os preços internacionais, ainda será obrigada a pagar US$ 4 bilhões”, critica.

Apesar disso, o analista da Levante ainda acredita que a Petrobras vale para estratégias de dividendos, pelo menos neste ano, onde espera um dividend yield (retorno em dividendos) de 21% considerando ainda as distribuições que podem ser anunciadas no 3º e 4º trimestre.

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“O investidor que busca dividendos da Petrobras precisa estar ciente que, a partir de novembro, quando o resultado do 3º trimestre sair, os dividendos podem ser bem menores do que o visto no primeiro semestre”, adverte.

Surpresa positiva

Para Júlio Borba, analista da Benndorf Research, a nova política de dividendos é melhor do que o mercado esperava. “O patamar de 45% do fluxo de caixa livre deve ser suficiente para retomar uma leve confiança nas ações”, observa. Com essa nova política, segundo Borba, a Petrobras deve remunerar os seus acionistas acima da Selic, taxa básica de juros, nos próximos anos, desde que nada ruim ocorra na gestão. “Projetamos um dividend yield de cerca de 12% para os próximos 12 meses, mas dependerá principalmente do patamar do Brent e dos ajustes nos preços do diesel e gasolina da companhia”, afirma.

Já em relação a valorização, Borba enxerga mais potencial em outras ações da bolsa, mais expostas à queda dos juros do que as empresas de commodities.

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Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, é ainda mais otimista. Para ele, a nova política de dividendos é boa, com mudanças sutis em relação ao que se temia no passado, como a companhia adotar o mínimo obrigatório de 25% do lucro líquido. “Petrobras é ainda uma ação que serve para estratégias de dividendos e que pode continuar pagando acima de dois dígitos, o que não é fácil de se encontrar na Bolsa”, aponta.

Em relação ao estipulado para o endividamento, Arbetman acredita que isto dará mais flexibilidade a empresa que não precisará mais alterar a política em caso de um nível maior de endividamento.

Com isso, a Ativa Investimentos deve rever sua projeção de dividend yield para os próximos 12 meses, mas Arbetman destaca que o consenso de mercado estava projetando algo em torno de 15% para dividendos. “Acho que deve ter uma revisão para baixo, algo em torno de 13%”, pontua.

A Ativa Investimentos elogia a manutenção de pagamentos trimestrais e a possibilidade de ter dividendos extraordinários e recompra de ações. “Acreditamos que os 45% devam ser bem recebidos pelos investidores. Ademais, manutenção do pagamento com relação à geração de caixa e trimestralidade nos agradaram”, destaca a instituição.

Hugo Queiroz, sócio da L4 Capital, tem uma visão mais pessimista sobre a Petrobras, e acredita que as mudanças na política de dividendos são ruins e muito subjetivas, o que acaba trazendo risco e pouca previsibilidade para o investidor.

Pela norma do mínimo de US$ 4 bilhões de dividendos anuais, Queiroz acredita que seria garantido aos investidores um dividend yield mínimo de 4%. No entanto, espera que a companhia entregue, em uma visão conservadora, 10% de retorno em dividendos nos próximos 12 meses.

Ele destaca que nos governos do PT (Partido dos Trabalhadores), a relação Capex/depreciação – indicador que mostra o quanto a companhia está investindo nela – foi de 2,5 vezes. Queiroz aponta que a depreciação da Petrobras está em R$ 60 bilhões o que daria um Capex futuro de até R$ 150 bilhões.

“Se descontar a geração de caixa, em torno de R$ 200 bilhões, do Capex futuro sobrariam R$ 50 bilhões, e 45% disso daria cerca de R$ 20 bilhões para proventos. Essa subjetividade é um perigo para o dividend yield”, defende.

Queiroz destaca que embora a companhia continue gerando muito caixa, a política de preços dos combustíveis e a necessidade de investimento (Capex) vão derrubar as distribuições futuras, portanto, não faz mais sentido manter a ação para quem busca renda passiva.

Evolução do payout e dividendos da Petrobras nos últimos dez anos

Ano  Payout PETR4 Dividend yield PETR4 Dividendo por ação PETR4
2023** 106,01% 17,10% R$ 4,75
2022 115,72% 49,93% R$ 16,77
2021 68,74 % 19,86% R$  5,65
2020 0,10% 0,00% R$  0,00
2019 29,94% 3,25% R$  0,94
2018 43,97% 4,09% R$  0,90
2017 0,00% 0,00% R$  0,00
2016 0,00% 0,00% R$  0,00
2015 0,00% 0,00% R$  0,00
2014 -58,99% 5,99% R$  0,99
2013 44,26% 3,84% R$  0,78
2012 32,53% 2,44% R$  0,52

Fonte: Levantamento Comdinheiro

Payout = parcela do lucro líquido destinada a proventos

Dividend yield = retorno em dividendos

**Dados de 2023 até 27/07, payout até 1º trimestre de 2023

Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.