Os desafios de Magalu (MGLU3) e Casas Bahia (BHIA3) que reforçam a visão positiva do Goldman para o Mercado Livre (MELI34)

Banco vê que forte alavancagem operacional do Mercado Livre, associada à fragilidade da concorrência, levam a ganhos de fatia do mercado

Lara Rizério

(William_Potter/ Getty Images)

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As discussões sobre o que explica a forte queda das ações de Casas Bahia (BHIA3) e Magazine Luiza (MGLU3) no ano e o que deve se seguir para as companhias têm ganhado bastante força entre os investidores e analistas.

E, conforme destaca o Goldman Sachs em relatório de análise, enquanto o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central começou a reduzir as taxas de juros Selic, o que seria um ânimo para as ações por elevar as perspectivas de consumo por tornar o crédito mais barato, a grande preocupação do mercado sobre as duas empresas é a alavancagem. No ano, enquanto BHIA3 cai 80%, MGLU3 tem baixa de 47%, com quedas respectivas de 24% e 31% apenas em outubro.

O cenário de demanda para a categoria de bens duráveis permaneceu volátil, avalia o banco. As famílias permanecem relativamente alavancadas enquanto que, no acumulado do ano (de janeiro-agosto), as vendas no varejo de bens duráveis (eletrônicos e eletrodomésticos) cresceram apenas 1% em média, tanto em termos reais quanto nominais.

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Os dados mais recentes apontaram para uma deterioração incremental. Os analistas apontam que,  embora os dados das vendas no varejo para setembro/outubro ainda não estejam disponíveis, o feedback inicial das empresas sugere que a demanda permaneceu fraca, mesmo com os preços ficando praticamente estáveis na impressão anual do IPCA-15 de outubro.

Contudo, apontam os analistas do Goldman, o foco recente do mercado mudou – mais uma vez – para a solidez do balanço.

“Apesar das contínuas incertezas no plano macro/demanda, as nossas conversas recentes com investidores sugerem que o debate voltou a ser centrado nas preocupações em torno dos níveis relativamente elevados de alavancagem financeira dos dois principais varejistas de bens duráveis. Embora o mercado de crédito doméstico tenha voltado após um quase ‘bloqueio’ no 1T23 e o Banco Central tenha começado a cortar taxas, a preocupação é que a alavancagem e o peso das altas despesas financeiras demorem até pelo menos 2025 para cair, limitando a flexibilidade comercial e estratégica das varejistas”, avalia o Goldman Sachs.

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O banco vê que, para o Magazine Luiza, a capacidade de buscar oportunidades de ganho de participação de mercado é limitada pela alavancagem financeira. “O Magalu se concentrou na lucratividade em vez de ganhar participação de mercado no 1º semestre de 2023, mesmo com a situação financeira complicada do concorrente Americanas (AMER3), que seria uma oportunidade para fortes ganhos de mercado.”

A companhia tem por volta 40% da dívida bruta (cerca de R$ 2,8 bilhões) com vencimento até o final de 2024. O banco não vê desafios quanto à liquidez da empresa, uma vez que conta com R$ 4,3 bilhões em recebíveis de cartão de crédito que poderiam descontar para gerar fundos para qualquer necessidades de caixa de curto prazo.

Até o 2T23, a alavancagem estava em 7,2 vezes a dívida líquida/Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) ajustado. O banco vê esse número caindo para 5,5 vezes ao fim de 2023 e a 3,9 vezes no fim de 2024.

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Para o banco, se o Magalu buscasse um aumento de capital para acelerar o processo de desalavancagem e aumentar sua flexibilidade de alocação de capital, o estatuto atual limitaria esse aumento a 1,025 bilhão de ações (15% dos papéis em circulação), o que implicaria em R$ 1,5 bilhão em novos recursos brutos, levando em conta o último fechamento de R$ 1,47 por ação. Isso reduziria a alavancagem esperada para o fim de 2023 de 5,5 vezes para 4,8 vezes. Para um aumento de capital maior, haveria a necessidade de obter aprovação através de uma Assembleia Extraordinária de Acionistas.

A recomendação para as ações é neutra, com preço-alvo de R$ 2,80 (ainda uma valorização de 92%, dada a forte queda recente dos ativos).

Já sobre as Casas Bahia, o Goldman Sachs aponta que a empresa se concentrou também na geração de caixa em vez de ganho de participação de mercado, enquanto a estrutura de capital da empresa tem sido foco dos investidores já há algum tempo.

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Neste contexto de reestruturação, a empresa lançou uma oferta primária de R$ 620 milhões no contexto de um plano de transformação mais amplo, focado em preparar um crescimento sustentável a partir de 2025.

No entanto, a alavancagem permanece relativamente elevada, com uma relação dívida líquida/Ebitda de 7,4 vezes esperada para o terceiro trimestre. A gestão está focada na otimização de estoque e da localidade de lojas físicas, em vez de ganhar participação de mercado.

Para o fim do ano, o banco estima que a alavancagem feche 2023 em 7,3 vezes, sendo negativamente afetada pelo baixo Ebitda projetado para o 3T23.  “Até o final de 2024, em um ambiente operacional mais normalizado, estimamos que esse indicador possa cair para 4,2 vezes.”

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O banco recomenda venda das ações da Casas Bahia, com preço-alvo de R$ 0,50 (avanço de 4% frente o fechamento de sexta).

Preferência por Mercado Livre

Neste contexto, para o Goldman, o Mercado Livre (negociado na Nasdaq, mas cujo BDR MELI34 é negociado na B3) mostra-se bem melhor posicionado para ganhos de participação no mercado.

“A significativa alavancagem operacional no modelo de negócios do Mercado Livre proporcionou à administração maior flexibilidade para investir por meio de uma variedade de alavancas estratégicas de crescimento. Aliada à relativa fragilidade da concorrência, vemos espaço para um avanço relevante nas vendas 1P [estoque próprio], especialmente em torno da Black Friday e das promoções de fim de ano no 4T23”, avalia.

O banco americano projeta que a companhia eleve sua fatia no mercado online do Brasil de 33,7% em 2022 para mais de 40,0% em 2023.

“Isso está bem à frente do Magazine Luiza, com uma participação estimada de 17,7% em 2023 e da Casas Bahia, com 7,5%”, avalia.

A recomendação do banco é de compra para as ações do Mercado Livre negociadas na Nasdaq, com preço-alvo de US$ 2.150, ou um potencial de valorização de 79% frente o fechamento de sexta.

O Mercado Livre divulgará seus resultados do terceiro trimestre no próximo dia 1 de novembro. Segundo o Itaú BBA, a companhia deverá voltar a apresentar bons resultados em ambas as divisões de comércio e Fintech.

“Dado o foco da empresa em investir no crescimento, estimamos uma desaceleração anual nos ganhos de margem Ebit em relação ao primeiro semestre. Esperamos um crescimento anual de 3,2 pontos percentuais na margem Ebit, especialmente impulsionado por menores provisões (embora esperemos um crescimento da carteira de crédito). Projetamos um lucro de US$ 312 milhões no trimestre”, apontou.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.