Mais espaço para altas: as projeções para a Bolsa e as ações mais beneficiadas com o corte de juros pelo Copom

Analistas reforçam visão positiva e veem que Ibovespa tem ainda mais espaço para subir

Lara Rizério

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O Comitê de Política Monetária (Copom), iniciou o seu ciclo de flexibilização de juros nesta quarta-feira (2), com um corte de juros de 0,5 ponto percentual que surpreendeu uma parte importante do mercado.

Esse foi o primeiro corte de juros em 3 anos, quando a taxa básica de juros chegou ao mínimo histórico de 2% durante a pandemia.

A expectativa é de que, com esse corte se tornando realidade, mais um dos gatilhos para a Bolsa brasileira será acionado.

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Conforme destaca a XP em relatório, desde março deste ano, o Ibovespa já sobe mais de 20%. Esse rali na Bolsa brasileira é em grande parte impulsionado pelas expectativas de queda de juros desde então.

Porém, para os estrategistas, esse movimento não precifica toda a queda de juros à frente.

“Olhando para dados históricos de ciclos de corte de juros, vemos que ainda pode haver mais espaço para Bolsa subir adiante”, avaliam Fernando Ferreira, Jennie Li e Julia Aquino, equipe que assina o relatório.

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Ferreira, Julia e Jennie apontam que, nos últimos 20 anos, houve 6 ciclos de cortes nos juros, nos quais, em cinco dos últimos seis ciclos de cortes, o benchmark da Bolsa apresentou retornos positivos.

Além disso, a mediana do retorno do Ibovespa foi de 35,4%, enquanto o MSCI Brasil (em dólares) apresentou uma mediana de retorno de 26,0%. O índice de small Caps superou large caps com mediana e média de retornos de mais de 40% durante os ciclos de cortes nos juros.

Apesar dos retornos positivos 1, 3 e 6 meses antes dos ciclos de flexibilização, o Ibovespa também conseguiu registrar ganhos após o primeiro corte de juros. Em 3, 6 e 12 meses após o início da queda da taxa Selic, o Ibovespa registrou mediana de retornos de +5,6%, 18,3% e 14,9%, respectivamente.

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Na mesma linha, ao observar a variação mensal da Selic e do Ibovespa desde 2005 (ou seja, em 18 anos), o JPMorgan observa que uma queda de 1 ponto na taxa de juros traz um retorno de 8% para o benchmark da Bolsa, mantendo todos os fatores constantes.

Considerando o corte de 175 pontos-base esperado até o fim do ano, o upside seria de 14%, trazendo o Ibovespa para 138 mil no final do ano, bem perto da projeção do próprio JPMorgan de 135 mil.

Analisando os ciclos anteriores de flexibilização da taxa de juros desde 2005, a equipe de estratégia aponta que até o momento foram 5 ciclos, que resultaram em queda média da Selic de 525 pontos-base e valorização média do Ibovespa de 33%, o que levaria o benckmark da Bolsa para 162 mil pontos.

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“No entanto, acreditamos que o ciclo de cortes será de 375 pontos-base, o que daria um upside de 23,5%, levando o Ibovespa para 150 mil pontos [até meados de 2024]. Mas há quem diga que a valorização pode ser limitada porque o Ibovespa acumula alta de 17% nos últimos três meses, ante média de 5% no mesmo período dos ciclos anteriores. Assim, fazendo esse desconto, a alta do Ibovespa em relação ao nível atual seria de 12%, trazendo-nos de volta ao Ibovespa em 136 mil, um pouco acima do nosso target”, avalia a equipe.

Setores beneficiados

Mas quais devem ser os setores mais beneficiados com a queda dos juros?

Em relatório, a XP apontou que durante os ciclos de corte de juros no passado, os setores cíclicos, como Papel & Celulose, Mineração & Siderurgia, Varejo, Transportes e Bens de Capital, tendem a ter um desempenho melhor do que o resto do mercado.

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Os estrategistas também destacaram o comportamento dos papéis da sua cobertura que são mais sensíveis aos juros.

Abaixo, estão as ações com maior correlação negativa com taxas de juros, isto é, que tendem a se beneficial de cenário de queda de juros, que também incluem diversas ações do setor de consumo doméstico. Dentre elas, do setor de construção, shopping, transportes e varejo:

A XP destaca seguir otimista com a Bolsa brasileira, vendo ainda como bastante descontada. O Preço/Lucro do Ibovespa atualmente negocia em 8,5 vezes, um desconto relevante em relação à média histórica de 11 vezes.

“Além disso, o Brasil também é barato quando comparado às ações globais: o MSCI ACWI é negociado a um P/L projetado muito mais alto, de 16,8 vezes, e o Brasil está próximo dos maiores descontos históricos”, avalia a casa, que recentemente elevou a projeção para o Ibovespa no fim do ano de 130 mil para 133 mil pontos.

Como possíveis catalisadores, estão a entrada de fluxo de investidores institucionais locais, que continuam sendo vendedores líquidos de ações em ao redor de R$ 30 bilhões. “Isso em linha com os fluxos de fundos, que mostram saídas recordes de ações de multimercados. Porém, vemos uma forte correlação entre a taxa Selic e os fluxos para os fundos de investimentos (…). Ou seja, com o início de um ciclo de flexibilização de juros, vamos um potencial do retorno desses fluxos de capital”, avalia a XP.

Os fluxos de investidores Pessoa Física (PF) também têm sido tímidos até agora, sendo compradores líquidos de apenas R$ 3 bilhões de reais no acumulado do ano. Porém, as pesquisas da XP com assessores mostram que o sentimento já está se tornando positivo.

O JPMorgan também ressalta esse ponto como importante, vendo que há um consenso maior do mercado de estrangeiros para exposição no país, além da expectativa de fluxo local, que está muito baixo, com as ações respondendo por menos de 10% da exposição dos ativos sob gestão totais dos fundos mútuos brasileiros. Isso também pode aumentar, mas é mais um processo do que um grande fluxo de dinheiro chegando. “Está começando com os resgates diminuindo, mas ainda há um longo caminho a percorrer”, avalia.

A Guide Investimentos acredita que o índice pode se valorizar até 140 mil pontos nos próximos meses considerando o valuation baixo e também o crescimento dos lucros das empresas. A casa destaca que a queda dos juros possui um impacto direto nos lucros: o endividamento das empresas do Ibovespa aumentou sensivelmente após a pandemia e diversas empresas têm arcado pagamentos de juros elevados. A queda dos juros deve aliviar este fardo, principalmente em 2024.

Nos ciclos de corte de juros, em particular, ações “small caps” têm desempenho melhor, avalia. A casa acredita que, desta vez, não será diferente e isto já está acontecendo desde abril, quando o mercado passou a precificar mais fortemente a queda da Selic.

Outro ponto que deixa a instituição confiante com a recuperação do Ibovespa é o ponto de partida: as ações brasileiras estão sendo negociadas com uma relação preço/lucro de cerca de 8 vezes, bem abaixo da média histórica de 11 vezes.

“Em momentos de queda nos juros, a relação preço/lucro costuma ser maior que a média. Ou seja, somente pela ‘reprecificação’ do Ibovespa pode gerar uma apreciação de mais de 50% nos próximos meses. Normalmente quando os juros estão caindo, o ‘earnings yield’ (lucro/preço) do Ibovespa também diminuiu, ou seja, a relação preço/lucro aumenta. Em termos simples, os investidores aceitam pagar mais pelos lucros das empresas quando os juros são baixos”, avalia.

Como destaca a Guide, além de historicamente small caps terem ganhos superiores ao Ibovespa em ciclo de corte de juros, os setores de saúde, educação e concessões apresentaram desempenho melhor como é possível ver nos dois gráficos abaixo.

“Empresas do setor imobiliário, tanto construtoras quanto administradores de shoppings, também apresentam desempenho positivo durante os ciclos de redução dos juros”,

Vale destacar que estes grupos tiveram desempenho ruim durante a alta dos juros entre junho de 2021 e agosto de 2022. Estes mesmos grupos já começaram a ter melhor desempenho recentemente, a partir de abril.

Isabel Lemos, gestora de renda variável do Fator, destaca também a visão de maiores ganhos para as empresas ligados ao setor doméstico.

Entre eles, o imobiliário, consumo, industrial. “Todo mundo acaba ganhando com juros mais baixos, mas a gente entende que esses sejam os setores que tenham uma reação melhor”. Outro ponto importante na queda de juros é que provavelmente também haverá mais investimentos. Outras empresas que se beneficiam são as endividadas em moeda local.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.