Magalu (MGLU3): ações desabam quase 23% após maior prejuízo da companhia para um 1º tri desde o IPO

Números mostram que o ambiente segue desafiador para as varejistas que estão expostas a taxas de juros altas e a categorias dependentes de crédito

Lara Rizério Vitor Azevedo

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Ainda à espera de melhores notícias. Foi assim que os analistas de mercado repercutiram o resultado do primeiro trimestre de 2023 (1T23) do Magazine Luiza (MGLU3), que registrou prejuízo líquido de R$ 391,2 milhões no primeiro trimestre de 2023 (1T23), perda 142,5% maior na base de comparação anual, quinto prejuízo trimestral consecutivo e o maior já registrado no intervalo de janeiro a março desde a abertura de capital (IPO) do grupo, em 2011.

Com isso, analistas destacaram, em relatórios antes da abertura, esperar uma reação negativa do mercado aos números do primeiro trimestre, que se efetivou já no início do pregão. Às 10h13 (horário de Brasília), os papéis já caíam 9,59%, a R$ 3,96; as perdas se intensificaram durante a tarde, com o ativo fechando perto das mínimas do dia, com queda de 22,83%, a R$ 3,38.

Para a XP, o Magazine Luiza divulgou resultados fracos, mas em linha com as expectativas, com tímido crescimento de receita, rentabilidade afetada pela reintrodução da cobrança do DIFAL (diferencial de alíquota de ICMS nas vendas interestaduais) e uma queima de caixa de R$ 3,2 bilhões devido à sazonalidade.

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O volume bruto de mercadorias (GMV) total aumentou 10% em relação ao ano anterior, impulsionado tanto pelo canal online (+11%), com o 1P (estoque próprio) subindo 6% e o 3P (marketplace) subindo 19%, quanto pela recuperação do canal físico (+7,5%, com vendas nas mesmas lojas, ou SSS, em alta de 6,7%), embora a receita líquida tenham crescido apenas 3% devido ao impacto do DIFAL nas deduções de receita bruta e à menor penetração do 1P.

Em relação à lucratividade, a margem bruta foi o ponto negativo, aponta a XP, com uma queda de 40 pontos-base em relação ao ano anterior devido à reintrodução do DIFAL, que foi parcialmente compensada por aumentos de preços durante o trimestre, além de receitas de serviços com aumento de 34% em relação ao ano anterior devido a taxas mais altas. A margem Ebitda ajustada ficou praticamente estável (-10 pontos-base em relação ao ano anterior), pois a pressão na margem bruta foi em grande parte compensada por economias nas despesas gerais e administrativas, embora deve-se observar que a empresa registrou despesas de R$ 124 milhões relacionadas ao fechamento de centros de distribuição, lojas, baixas contábeis relacionadas à fusões e aquisições e ajustes de capacidade, o que pode indicar expectativas pessimistas em relação à demanda no futuro.

Já o prejuízo líquido foi a R$ 391 milhões devido a maiores despesas financeiras, decorrentes do aumento das taxas de juros combinado com a antecipação acelerada de recebíveis de cartão de crédito, enquanto o fluxo de caixa livre foi negativo em R$ 3,2 bilhões, embora tenha melhorado R$ 416 milhões em relação ao ano anterior, já que a melhora na linha fornecedores mais do que compensou a deterioração na dinâmica de estoques.

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Os analistas da casa avaliam ser interessante observar que: i) a empresa anunciou oficialmente mudanças na diretoria, com Carlos Mauad assumindo a fintech, Júlio Trajano assumindo a KaBuM! e Graciela Kumruian assumindo a Netshoes; ii) o Magalu forneceu mais detalhes sobre suas metas estratégicas, incluindo a recuperação da rentabilidade histórica do 1P, a expansão do fulfillment (em que as varejistas oferecem serviços para fazer controle de estoque e cuidar de todos os detalhes logísticos dos varejistas menores) para outras regiões em 2023 e a otimização do número de softwares diferentes usados pelo ecossistema da empresa; iii) as taxas de inadimplência do LuizaCred pioraram tanto em relação ao trimestre anterior quanto em relação ao ano anterior, com a inadimplência over 90 aumentando 4 pontos percentuais (p.p.) em relação ao ano anterior e 0,4 p.p em relação ao trimestre.

Para o Itaú BBA, a reintrodução da taxa DIFAL impactou negativamente a margem bruta no trimestre, enquanto a diluição de despesas e uma melhor margem de contribuição no canal 3P não foram suficientes para compensar a contração da margem Ebitda de 10 pontos-base (isso levando em conta uma base de comparação pouco desafiadora). O prejuízo ficou acima da estimativa conservadora do banco devido a um resultado financeiro mais pesado, com desconto maior de recebíveis.

A sazonalidade impactou negativamente a dinâmica do capital de giro no trimestre, ainda que tenha mostrado melhora no
capital de giro, com níveis de estoque mais baixos e uma conta de fornecedor maior.

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Enquanto o GMV online atingiu R$ 11,3 bilhões (alta anual de 11%), liderado pelo canal 3P (+19%), as vendas na operação de lojas físicas seguiram fracas, com vendas nas mesmas lojas 1,8 ponto percentual (p.p.) abaixo do que o BBA esperava. Já a receita líquida consolidada encerrou o trimestre em R$ 9,1 bilhões, alta de 3,5% em relação ao ano anterior, mas 2% abaixo de sua projeção.

As despesas operacionais como uma porcentagem da receita líquida caiu 30 pontos-base na comparação anual, levando a margem Ebitda ajustada a cair para 4,9% (20 pontos-base abaixo do que o BBA esperava). A empresa mencionou um impacto negativo não recorrente de R$ 112 milhões no período referente à reestruturação e integração da operação logística.

“O mercado continuará aguardando uma recuperação mais concreta da rentabilidade. Apesar dos ganhos de participação de mercado no trimestre, esperamos que os investidores se concentrem no fato de que o crescimento do Magazine Luiza tem sido consistentemente inferior ao líder de mercado, apesar dos ventos favoráveis do ambiente concorrencial”, avaliam.

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Além disso, os investidores parecem bastante focados em uma recuperação da lucratividade para a empresa, e o provável impacto do repasse da reintrodução da taxa DIFAL no curto prazo leva os analistas a avaliarem que isso pode demorar um pouco.

Os números do 1T23 mostram que o ambiente macroeconômico no Brasil continua a ser desafiador para as varejistas que estão expostas a taxas de juros altas e a categorias dependentes de crédito. “Apesar de fazer um trabalho relativamente melhor no GMV e nas take rate (valor que incide sobre cada transação) do marketplace, a combinação de pressões de margem e as despesas de juros consideráveis podem continuar a pesar sobre o fluxo de caixa e os resultados em outros trimestres”, apontam.

No 1T23, o resultado financeiro atingiu 7% da receita, ficando acima da margem Ebitda que a empresa entregou nos últimos três anos. O principal gatilho para a tese do MGLU seria uma taxa Selic em queda e, enquanto os cortes de juros não se concretizarem, o poder de geração de lucros e a capacidade de investimento provavelmente permanecerão severamente
prejudicado pelo considerável serviço da dívida.

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“Assim, mantemos nossa postura mais cautelosa em MGLU3 e mantemos nossa recomendação neutra, ao mesmo tempo que reiteramos a nossa preferência pelo Mercado Livre MELI34 no espaço do e-commerce, o que pensamos ser justificado por uma melhor dinâmica operacional e lucratividade relativas. Fazemos pequenos ajustes em nossas estimativas e mantemos nosso preço-alvo em MGLU3 em R$ 4″, aponta o BBI. XP e BBA também possuem recomendação equivalente à neutra para o ativo.

O JPMorgan, por sua vez, segue com recomendação overweight (exposição acima da média, equivalente à compra) para os ativos. “O Magazine Luiza reportou resultados operacionais fracos no 1T23 com bom crescimento de receita, mas lucratividade estável devido a uma ligeira contração da margem bruta devido à introdução do DIFAL, que conseguiu compensar o maior take rate no 3P, melhor margem de serviço e repasse de preços. Ainda assim, o capital de giro permaneceu sob controle, com uma redução significativa de estoques juntamente com um menor consumo de caixa (intrínseco ao 1T devido à sazonalidade) de R$ 500 milhões no 1T23 contra R$ 1,4 bilhão no ano passado”, aponta o banco.

Em teleconferência com a administração, o JPMorgan aponta que tomou conhecimento que a precificação foi implementada gradualmente ao longo do trimestre, enquanto a take rate foi elevada em fevereiro, então ambos os efeitos devem ter impacto total apenas a partir do 2T23. Já o prejuízo líquido foi pior do que o banco esperava, devido às altas despesas financeiras e menores resultados operacionais.

Magazine Luiza vê maior participação de lojas físicas em 2023

Com o retorno da cobrança do Difal, que é a diferença entre a alíquota interna e a interestadual, nas vendas online, a Magazine Luiza enxerga que as lojas físicas devem ganhar competitividade em 2023.

O Magazine Luiza anunciou que 50% da carga gerada pela volta da cobrança foi repassada nos preços do 1P no primeiro trimestre. Os 50% restantes serão repassados ao longo do ano, com mais intensidade no segundo trimestre. De acordo com os executivos, é necessário equilibrar o repasse para não perder fatia de mercado.

“No marketplace, o mercado está muito mais racional. Há anos atrás, empresas subsidiaram a operação, pagavam o frete. O que tenho visto, agora, é que todo mês as plataformas aumentam suas taxas, racionalizar suas operações”, defendeu Frederico Trajano, diretor executivo (CEO) do Magazine Luiza.

A varejista espera continuar avançando no 3P engajando os vendedores parceiros, investindo em logística, diminuindo o prazo de entrega e avançando no plano de transformar a loja física em pontos integrados à plataforma.

“Neste ano, por fim, estamos muito de olho em inteligência artifical, buscando simplificar processos que temos dentro da companhia. Vai nos ajudar na escala”, comentou. “Capex em tecnologia está aumentando bastante, porque a operação de marketplace depende disso”.

Fabrício Garcia, diretor de operações do Magazine Luiza, afirmou que o cenário está difícil mas que a companhia está conseguindo repassar o Difal. “Também há um ambiente propício para negociar com fornecedores. Vamos melhorar a margem mês após mês”, comentou.

Os executivos também defenderam que a varejista irá melhorar o seu capital de giro, com foco nos estoques, e monetizar impostos.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.