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Os investidores bem-sucedidos sempre são acompanhados de perto pelos “menores” no mundo inteiro, o que não é diferente no Brasil.
Por isso, as falas de Luiz Barsi Filho, que se destaca como um dos maiores investidores individuais de ações no Brasil, com uma estratégia batizada por ele de “carteira previdenciária”, são sempre monitoradas de perto pelos investidores, que usam seus ensinamentos como referência.
O histórico fala por si só. Barsi tem posições conhecidas em empresas sólidas e com bom histórico de desempenho, como Banco do Brasil (BBAS3) e Klabin (KLBN11). Mas nos últimos meses, decisões de investimentos e opiniões consideradas fora da maré do mercado levaram a questionamentos quanto algumas visões do investidor – e se todas deveriam mesmo ser levadas a ferro e fogo pelos “sardinhas” do mercado.
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No passado recente, seu investimento mais emblemático foi no IRB (IRBR3). Em entrevista ao InfoMoney em julho de 2021, Barsi revelou que vinha montando posição na empresa, quando suas ações valiam por volta de R$ 6 (no dia do anúncio, as ações fecharam valendo exatamente esse valor).
Barsi argumentava que as ações estavam muito baratas, que a nova gestão da empresa vinha fazendo um bom trabalho para sanear as contas após o escândalo de fraudes contábeis relevado pela gestora Squadra e que o ceticismo de boa parte dos analistas de mercado se devia a uma visão imediatista.
Houve controvérsias. Em agosto do ano passado, poucas semanas após a declaração de Barsi, Guilherme Aché, sócio-fundador da Squadra, disse em live que seguia com posição vendida (apostando na queda do papel) em IRB, dado seu ceticismo com a empresa, prevendo que a rentabilidade futura “ainda seria muito difícil”. Ele tomava como base as indicações quanto aos níveis de sinistralidade previstos para os próximos anos pela cúpula da resseguradora.
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Desde que Barsi anunciou a compra, até o fechamento da última segunda-feira (5), as ações do IRB caíram 80%.
Além de sentir o impacto de contratos antigos em seus resultados nos últimos trimestres, o IRB também sofreu com os efeitos da crise hídrica sobre os contratos de riscos rurais entre abril e junho deste ano, levando a um forte aumento da sinistralidade.
Um novo aumento de capital se fez necessário para a empresa se reenquadrar às normas da Susep (Superintendência de Seguros Privados). O IRB captou R$ 1,2 bilhão, vendendo novas ações a R$ 1, em oferta restrita àqueles com mais de R$ 10 milhões em aplicações no mercado financeiro – o que levou a uma diluição dos demais investidores. Apenas na semana da oferta, os papéis caíram 38%.
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Analistas destacam ainda a baixa visibilidade para a rentabilidade da companhia e, mesmo os que melhoraram a perspectiva para o papel ainda não o veem como atrativo. O JPMorgan, por exemplo, elevou a recomendação para as ações do IRB de underweight (exposição abaixo da média do mercado) para neutra. Agora, os analistas veem o IRB negociando a múltiplos mais consistentes com o que acreditam ser o retorno do negócio, mas ainda na faixa entre R$ 1 e R$ 1,40 – bem distantes dos R$ 6 a que estavam contados quando Barsi demonstrou seu otimismo publicamente.
“Nitidamente, Barsi errou, porque agora a empresa veio com o follow-on, o mercado não gostou e vendeu as ações”, destacou Leandro Petrokas, Diretor de Research e sócio da Quantzed, casa de análise e empresa de tecnologia e educação para investidores. “Não há perspectiva de as ações voltarem a R$ 6, salvo se houver uma transformação exponencial na empresa, até mesmo atuando em outras linhas de produto. Unicamente e só com resseguros, é algo bem difícil. Tenho visão negativa para o ativo”.
Na sequência do follow-on, Carlos Daltozo, head de research da Eleven Financial, destacou que o nível de incerteza para o IRB após a capitalização ainda é elevado e o cenário turbulento deverá permanecer por mais alguns trimestres. “A principal dúvida é se realmente o valor captado na oferta resolverá a situação ou se veremos uma nova chamada de capital em um futuro não muito distante, caso a companhia continue queimando caixa e fique novamente abaixo dos requisitos regulatórios mínimos”, diz o analista, que possui recomendação neutra para o ativo.
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Louise Barsi, filha mais nova de Luiz Barsi, recentemente eleita para o Conselho Fiscal do IRB, destacou em live no dia 19 de agosto que a empresa se enquadra na “carteira de oportunidades”. “Oportunidades que, se um dia derem certo, vão dar muito certo e pagar muitos dividendos. Mas não existe certeza”, declarou. Além disso, afirmou que o investimento em IRB segue em baixa alocação por conta do risco elevado. “É sempre o dinheiro da pinga, e não do leite”.
A investidora apontou, na ocasião, as posições em Cielo (CIEL3) e IRB até então não ultrapassavam 3% da carteira de investimentos do seu pai e, enquanto IRB acabou ficando “mais ou menos na mesma”, Cielo – ação do Ibovespa com maior alta no ano – acabou despontando. Procurados pelo InfoMoney, Barsi e Louise preferiram não se manifestar sobre os temas.
Barsi, por sua vez, recorrentemente critica os “vendidos” do mercado ao falar sobre a pressão recente sobre os papéis de IRB. Na visão do investidor, as operações vendidas – apostas contra as ações – deveriam ser proibidas por causar distorções. Outros especialistas, por sua vez, avaliam que as vendas a descoberto são ferramentas importantes e ajudam os preços a convergir ao equilíbrio.
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“O mercado é composto por oferta e demanda, e qualquer investidor pode comprar ou vender a descoberto as ações, o que é importante até para dar liquidez e possibilitar que os investidores ganhem dinheiro ou protejam o patrimônio nos momentos de queda”, avalia Petrokas.
Rodrigo Cohen, analista CNPI e co-fundador da Escola de Investimentos, empresa de educação financeira, ainda cita o caso da Squadra, que percebeu que as operações do IRB não eram compatíveis com o preço da ação e assim montou a operação “short”, não sendo uma especulação.
Magalu vai mesmo quebrar?
Outras declarações de Barsi, algumas que causam temor aos pequenos investidores, também são contestadas no mercado. Recentemente (e reiteradamente), o investidor tem afirmado que uma das grandes varejistas brasileiras, o Magazine Luiza (MGLU3), irá quebrar, assim como boa parte do e-commerce brasileiro.
“Pelo menos 40 empresas de varejo quebraram e as próximas quebrarão. Magazine Luiza um dia vai quebrar. Não sei quando, mas vai. Eu não sou profeta, estou falando em termos de histórico. A Máquina de Vendas e a Via (VIIA3) também estão penduradas”, disse Barsi em junho, em entrevista ao podcast Irmãos Dias. A declaração foi feita ao ser perguntado sobre quando é o momento de vender uma ação.
Barsi aponta que as varejistas não têm uma operacionalização confiável, já que essas empresas são muito expostas aos ciclos econômicos e têm os resultados facilmente corroídos pela inflação. Em outra entrevista, no começo do ano, ele já havia mencionado que quem comprou os papéis de Magazine Luiza adquiriu uma “vela de 30 anos”.
“Para ele [o investidor do Magazine Luiza] recuperar esse investimento vai ser muito difícil. Falo isso não por causa do Magalu especificamente, mas em função do setor. O setor de comércio e varejo, eletroeletrônicos e linha branca, tem um histórico [de falências] que te deixa com muito medo”, apontou na ocasião.
As ações do Magalu registram uma maré de baixa na Bolsa. Os papéis caem cerca de 80% nos últimos doze meses, dado o cenário de maior concorrência e vendas desacelerando após uma onda de crescimento impulsionada pelas compras online na época em que as restrições à mobilidade foram implementadas para conter a pandemia de coronavírus. Em agosto, contudo, as ações acumularam ganhos de 65%, segundo melhor desempenho do Ibovespa.
Além disso, apesar das dificuldades, o cenário de falência da companhia é considerado distante. Analistas que se debruçam sobre os números da empresa não consideram essa hipótese.
“O mercado já reconheceu que as ações estavam muito caras e castigou os papéis. Da máxima de 2021 para a mínima deste ano, as ações já caíram 93%”, diz Petrokas. “Porém, quebrar seria algo irreversível, o que é exagerado tendo em vista que a empresa tem uma excelente gestão e vários bons ativos, ainda que esbarre na concorrência”.
Na ponta oposta das críticas de Barsi ao Magalu, o analista destaca sinais macroeconômicos recentes positivos, como o PIB mais forte que o esperado no segundo trimestre deste ano e o arrefecimento da inflação, que potencialmente beneficiam o segmento.
“Não vejo o Magalu quebrando. Vejo um ambiente de concorrência alta, mas com uma forte equipe de gestão, ainda que sem entregar um crescimento tão forte como se visualizava e se concretizou durante muitos anos. O cenário é conturbado, mas sem chance de quebrar”, complementa o analista.
No episódio #32 do GainDelas, Fabrizio Gueratto, criador do canal 1 Bilhão Educação Financeira, destacou que a afirmação de Barsi foi “uma grande força de expressão”. Gueratto apontou ainda que, no limite, “todas as empresas irão quebrar em algum momento”. Bea Aguillar destacou não ver a empresa em situação crítica no curto prazo, em episódio também comandado por Martha Matsumura.
E os FIIs, são “conto do vigário”?
Saindo do mercado acionário e indo para o de fundos imobiliários, Barsi também gerou polêmica ao declarar, em entrevista em abril ao Valor Econômico, que os fundos imobiliários são um “conto do vigário”, o que repercutiu no mercado.
“Fundo imobiliário é um conto do vigário. Assim como fundos em geral. A previdência privada é outro conto do vigário”, disse na ocasião. “Fuja dos fundos. Você enriquece os donos de fundo. Eles te cobram taxa de administração, taxa de êxito, taxa de performance, e não conheço ninguém que ganhou dinheiro com fundo além do banqueiro”.
Na ocasião, diversos especialistas contestaram a fala do investidor. “Os fundos imobiliários são a porta de entrada do investidor de renda fixa para a renda variável”, afirma Raphael Vieira, head de renda fixa e sócio da consultoria financeira Arton Advisors. Para Vieira, o produto tem se mostrado uma boa opção de geração de renda passiva, mas precisa ser melhor compreendido.
A visão de que são investimentos ruins contrasta com o desempenho recente dos FIIs. Depois de sofrer por alguns meses as consequências da pandemia de um lado (que limitou a circulação em escritórios e shoppings) e da elevação da taxa Selic de outro (que atraiu investidores para a renda fixa), os fundos imobiliários tiveram, em agosto, o melhor desempenho do ano.
A elevação de 5,76% do Ifix – índice da B3 que reúne FIIs mais líquidos – no mês passado foi influenciada principalmente pelo desempenho dos fundos de “tijolo”, que investem diretamente em imóveis. Em média, esses fundos subiram mais de 11%, contra alta 3% dos fundos de “papel”, que investem em títulos de renda fixa ligados ao setor imobiliário.
“Foi um gol contra do Barsi”, afirma Marcos Baroni, da Suno Research. Ele destaca o respeito pela história de Barsi, mas, neste caso em especial, contestou o investidor. “Os fundos imobiliários são veículos de dividendos, sim”.
Em meio a visões de Barsi, notoriamente sobre IRB, sendo contestadas – ao menos no momento – por agentes de mercado, qual a lição que fica para o investidor?
Tiago Reis, fundador e CEO da Suno Research, destacou em post recente no Twitter: “Todos cometem erros em investimentos. Só não perde quem não investe em ações. E recomendo que jamais você invista em um ação porque seu investidor favorito comprou. Compre uma ação porque ela tem fundamentos”.
Para Petrokas, o que é importante para o investidor é saber calcular o risco e o quanto pode perder, além de traçar o seu perfil de investidor.
Louise Barsi, ao comentar sobre o IRB em live, apontou em que medida alocar numa ação considerada arriscada. “É aquilo que é suficiente para ganhar dinheiro, mas aquilo que, se você perder, vai ter seu ego arranhado, e não seu patrimônio. É melhor ter seu ego ferido do que ter seus recursos abalados. É aquele percentual que, se der certo, fará a diferença, mas se der errado não atrapalhará seus planos na carteira previdenciária”, explicou.
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