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Ibovespa sobe 6,6% em 5 sessões e vai a 115 mil pontos, com IPCA reforçando gatilho positivo: até onde vai o ânimo?

Mês de junho tem sido de boas notícias no cenário macro para ações brasileiras, com estrategistas reforçando visão positiva e ainda vendo ativos descontados

Lara Rizério

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Os agentes que operam o mercado brasileiro devem ir para o feriado de Corpus Christi animados. Na sessão desta quarta-feira (7), o Ibovespa renovou novamente as suas máximas desde novembro de 2022, superando os 115 mil pontos e encerrou o pregão no positivo, com uma sequência de cinco altas nos cinco pregões de junho até o momento. Cabe destacar que o benchmark da Bolsa já tinha fechado maio no positivo, com avanço de 3,74%, no patamar dos 108 mil pontos.

Na máxima do dia, o benchmark da Bolsa chegou a 115.978 pontos, maior patamar intradia desde 9 de novembro de 2022, acumulando de cerca de 7%. No fechamento, os ganhos foram mais modestos, com alta de 0,77%, a 115.488 pontos, mas ainda assim superando os patamares de 115 mil pontos e também na máxima de fechamento em sete meses.

Junho, até o momento, tem sido dominado por boas notícias para a economia brasileira, que levam a um impacto direto para o mercado. O mês começou com os dados de Produto Interno Bruto (PIB) acima do esperado, com avanço trimestral de 1,9% ante projeção de 1,3%, que trouxeram uma leva de revisões para cima da atividade para 2023, ainda que com alguns alertas sobre a composição da atividade. A XP, por exemplo, elevou a projeção para a atividade econômica este ano de 1,4% para 2,2%, enquanto manteve a visão para 2024 de alta de 1%.

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Na sequência, dados de inflação animaram o mercado. Na véspera, foi divulgado o Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), que acelerou o processo de deflação em maio e mostrou queda de 2,33% no mês, ante -1,01% em abril, segundo a Fundação Getúlio Vagas (FGV). Com este resultado, a maior deflação desde 1947, o índice acumula variação de -3,56% no ano e de -5,49% em 12 meses. Em maio de 2022, o índice havia subido 0,69% e acumulava elevação de 10,56% em 12 meses.

Nesta quarta, foi a vez do tão esperado IPCA de maio, que subiu 0,23%, após alta de 0,61% em abril, acumulando em 12 meses aumento de 3,94%. Expectativas compiladas pela Reuters apontavam elevação de 0,33% e 4,04%, respectivamente. A meta para a inflação este ano é de 3,25%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos, medida pelo IPCA.

Tal cenário tende a reforçar movimento desencadeado pelo IPCA-15 de maio, que desacelerou mais do que o previsto, levando muitos a apostar que o Banco Central dará início ao ciclo de cortes da taxa básica de juros em agosto. Com isso, um catalisador para os ganhos da Bolsa foi reforçado.

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“A melhoria das perspectivas de inflação, o fortalecimento do real e a estabilização das expectativas de inflação devem sustentar um pivô [ou seja, início do corte de juros] da política monetária em 2-3 meses”, afirmou o diretor de pesquisa macroeconômica para América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, em relatório.

De acordo com a equipe da corretora Commcor, após dados recentes da inflação mostrarem um arrefecimento dos preços além do esperado, a expectativa de que um corte na Selic está cada vez mais próximo ganhou espaço. “Boa parte das projeções que antes indicavam a reunião (do Comitê de Política Monetária do Banco Central) de setembro como o início de tal ciclo agora migraram…para a reunião dos dias 1 e 2 de agosto”, afirmou em relatório a clientes mais cedo.

Nova surpresa positiva com IPCA abre espaço para BC começar a cortar os juros em agosto, dizem analistas

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Luca Mercadante, economista da Rio Bravo, aponta que os dados do IPCA “continuam indo no caminho certo”. O especialista pondera ao destacar que, apesar da surpresa grande e da desaceleração importante que sofreram as medidas de inflação, o diagnóstico do cenário não muda muito. As medidas subjacentes, que são mais persistentes, ainda não condizem com a meta do BC nem no acumulado de 12 meses e nem na média móvel de 3 meses dessazonalizada e anualizada, que é mais sensível ao curto prazo. Assim, isso deve justificar os juros ficarem onde estão por mais algum tempo.

Porém, dito isso, o economista aponta que nos aproximamos cada vez mais do início dos cortes da taxa de juros, e a divulgação de hoje aumenta a chance de que as primeiras reduções de juros comecem antes do que o esperado, possivelmente em agosto, avalia.

A curva de juros brasileira, no entanto, fechou majoritariamente em leve alta – em parte pelo mercado já ter precificado os dados da inflação melhores nos últimos pregões. Os DIs para 2024 chegarma a perder três pontos-base, a 13,09%, mas os para 2025 e 2027 ganharam, respectivamente, 1,75 e 1,7 ponto, a 10,64%. Os para 2029 foram a 10,95%, com mais 1,7 ponto, e os para 2031 ganharam a mesma coisa, indo a 11,19%.

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O cenário de corte de juros favorece a Bolsa, tornando a renda fixa menos atrativa, além de estimular a atividade real e impulsionar principalmente as empresas ligadas ao setor doméstico, como construtoras, varejistas, além de ações de tecnologia e empresas endividadas. Apenas no acumulado deste mês (até o início da tarde desta quarta), CVC (CVCB3), Carrefour (CRFB3), Yduqs (YDUQ3), Assaí (ASAI3), Gol (GOLL4), Azul (AZUL4) e Locaweb (LWSA3) subiam mais de 15%, sendo os destaques de alta do Ibovespa no período.

Soma-se a isso as perspectivas de que o Federal Reserve pode manter as taxas de juros básicas estáveis nos Estados Unidos na sua próxima reunião, de 13 a 14 de junho, após os ganhos salariais contidos apresentados pelo payroll na semana passada.

Já na véspera, os dados de serviços dos Estados Unidos mostraram que o setor pouco cresceu em maio, com a desaceleração de novas encomendas, levando uma medida de preços pagos pelas empresas por insumos para o menor patamar em três anos, o que reforçou as apostas de manutenção dos juros na próxima reunião. Sobre esse ponto, contudo, cabe destacar que as recentes decisões de política monetária do Canadá e da Austrália (de subir os juros) voltaram a deixar dúvidas sobre os próximos passos do BC americano.

Em Nova York, Dow Jones chegou a subir 0,27%, mas S&P 500 e Nasdaq recuaram 0,38% e 1,39%. O dólar ganhou força frente ao real, com mais 0,24%, a R$ 4,924 na compra e na venda.

“A melhoria da perspectiva para a inflação brasileira trouxe ânimo ao mercado doméstico hoje, mantendo o Ibovespa em território positivo durante todo o pregão e o dólar se manteve abaixo de R$ 4,95. No entanto, a sustentação do mercado foi limitada pelo resultado da balança comercial dos EUA, que aumentou de US$ 64,2 bilhões para US$ 74,6 bilhões entre março e abril. Embora o resultado tenha ficado abaixo do consenso de US$ 75 bilhões, indica crescimento na economia e levanta o sinal de alerta em relação à decisão de política monetária do Fed”, diz Diego Costa, Head de Câmbio para o Norte e Nordeste da B&T Câmbio.

Os treasuries yields ganharam força nesta quarta – e puxaram, parcialmente, a moeda norte americana.

A recente recuperação do minério, dando suporte para as ações da Vale (VALE3) e uma visão mais positiva para as ações da Petrobras (PETR4) (com o Morgan Stanley elevando a recomendação para compra, além do mercado seguir de olho na Opep+) também dão suporte ao Ibovespa em junho, ainda que a visão geral seja de mais atratividade das ações domésticas.

Brasil entre os preferidos da América Latina, mas tenha cautela

Esse avanço de curto prazo corrobora a visão otimista de muitos analistas e estrategistas de mercado, ainda que os especialistas também façam algumas ponderações.

No fim da semana passada, a equipe de estratégia da XP Investimentos elevou a projeção para o Ibovespa de 128 mil para 130 mil pontos, um potencial de valorização de 20% frente o fechamento de maio, devido à melhora nas taxas de juros futuras. Já em relação ao fechamento da véspera, a alta seria de 13,4%, dada a recente recuperação do benchmark da Bolsa, mas ainda mostrando que o índice tem espaço para subir.

Na sequência, a equipe de estratégia global do Credit Suisse elevou a exposição de sua carteira ao Brasil para “small overweight” (ou uma exposição levemente acima da média dentro de seu portfólio).

Já nesta semana, os estrategistas do JPMorgan, liderados por Emy Shayo, reiteraram recomendação overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra) para ações brasileiras em seu portfólio para a América Latina, ressaltando que as “estrelas estão de alinhando” para o país.

Os analistas ressaltam que o caso mais “fácil” entre os mercados emergentes está ainda mais interessante, com projeções para o PIB sendo revisadas para cima, inflação melhor que a esperado, assim como os resultados corporativos do primeiro trimestre.

Também destacam que a aprovação do novo marco fiscal na Câmara dos Deputados afastou por algum tempo as nuvens sobre o futuro das contas públicas, enquanto a reforma tributária (cujo relatório foi apresentado pelo relator na véspera em Grupo de Transição na Câmara)  deve ser mais um catalisador positivo, ainda que com efeitos controversos em determinados setores e empresas específicas. No mês passado, cabe destacar, a equipe do JPMorgan havia destacado alguns pontos negligenciados que poderiam impulsionar o rali do mercado. Um deles, por sinal, ainda não aconteceu, que é justamente o início do ciclo de corte de juros.

O Bank of America, por sua vez, ressaltou que o cenário de “taxas mais baixas no Brasil” agora forma uma narrativa de consenso. Apesar do movimento recente de alta, os estrategistas avaliam que o Brasil continua negociando a um valuation com preços atrativos (Ibovespa ex-commodities negociando em torno de 10% de desconto versus o histórico) e veem o país como mais atrativo do que o México neste momento em seu portfólio de América Latina.

O Bradesco BBI também reforçou sua recomendação overweight para o Brasil (junto com o Chile) em seu portfólio da América Latina. “Em nossa opinião, o MSCI Brasil continua negociado com valorizações deprimidas e uma reavaliação pode ser impulsionada por riscos macroeconômicos menores, principalmente relacionados ao cenário doméstico, com expectativa de aperto fiscal e flexibilização monetária no Brasil”, avaliam os estrategistas do banco.

O banco aponta que o principal desafio macro do Brasil é entregar um ajuste fiscal que estabilize e reduza a relação dívida pública/PIB ao longo do tempo e o arcabouço fiscal é apenas um dos passos necessários nessa direção. Como os gastos do governo continuarão crescendo, o governo precisará buscar receitas adicionais para cumprir as metas de superávit primário anunciadas. Um pequeno alívio para as contas fiscais pode vir do aumento esperado nas receitas do governo à medida que a produção de petróleo aumenta, mas são necessárias mais medidas para aumentar as receitas.

Para os estrategistas da casa, a reclassificação das ações brasileiras depende em grande parte de taxas de desconto mais baixas e da expansão dos múltiplos e citam que, desde 2022, a taxa nominal de 10 anos no Brasil caiu cerca de 100 pontos-base.  “Acreditamos que é aqui que o prêmio de risco parece mais atraente, sugerindo que os investidores devem aumentar a duration [sensibilidade em relação aos juros] em suas carteiras”, avaliam.

Para o Brasil, os estrategistas apontam ter exposição a empresas de consumo de alta qualidade, enquanto são neutros em bond proxies  (empresas cujo negócio se assemelha a um título de renda fixa de longo prazo), industriais, energia e produtos básicos, e têm exposição abaixo da média para empresas de matéria prima e estatais. O portfólio em ações brasileiras é composto por Itaú (ITUB4), Vamos (VAMO3), Vibra (VBBR3), B3 (B3SA3), CCR (CCRO3), Aliansce Sonae (ALSO3), Renner (LREN3), Santos Brasil (STBP3), Vale (VALE3) e PRIO (PRIO3).

Os estrategistas da XP, por sua vez, acreditam que pode ser a hora de começar a adicionar algum risco, mas ainda com uma visão seletiva.

“Permanecemos cautelosos pois as taxas de juros ficarão em dois dígitos por um tempo, o que significa que empresas altamente alavancadas podem continuar sofrendo. Além disso, o ruído político continua no radar, com a reforma tributária potencialmente sendo discutida no segundo semestre de 2023. E, é claro, ainda existem riscos de recessão no exterior, com o crescimento dos Estados Unidos desacelerando. No entanto, vemos mais espaço para o Brasil ir bem se as taxas de juros caírem ainda mais em direção a níveis mais normalizados”, pondera a equipe de estratégia.

Portanto, eles decidiram adicionar mais risco em suas carteiras para o mês de junho, reduzindo algumas posições de ações defensivas e adicionando um pouco de duration (mais sensíveis a taxas de juros). Em sua carteira Top 10, a XP cortou a exposição aos setores de Saúde e Utilidade Pública, realizando lucros com Hypera ([ativo=HYPE3)] e Equatorial (EQTL3); ao mesmo tempo, adicionou Petrobras (PETR4) devido ao seu valuation muito descontado.

Já o BofA, em sua última atualização de carteira, incluiu ações da Hapvida (HAPV3) e retirou os ativos de BB Seguridade (BBSE3), Localiza (RENT3) e Fleury (FLRY3).

Os estrategistas do BofA apontam que, ao longo de 2023, têm adicionado lentamente o tema de ações que ganham com  quedas de juros por meio de empresas de e-commerce de qualidade, tecnologia e bond proxies.

Os estrategistas também selecionaram empresas do setor financeiro com exposição à queda de juros, como BTG Pactual (BPAC11) e B3 (B3SA3).

(com informações da Reuters)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.