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SÃO PAULO – Ignorando completamente o cenário externo, o Ibovespa oscilou ao sabor das inconstâncias fiscais em Brasília. Durante todo o dia, a Bolsa brasileira repercutiu um anúncio que foi cancelado de última hora. Todas as atenções estavam voltadas ao Planalto para o detalhamento do novo Auxílio Brasil, substituto do Bolsa Família, mas faltando menos de trinta minutos do início da solenidade, marcada para às 17h, o Ministério da Cidadania adiou o anúncio.
“O cancelamento do anúncio pode ser positivo temporariamente. Provavelmente viram que teve uma repercussão negativa e talvez estejam voltando atrás no que iriam anunciar. Mas se esse assunto ficar sem definição por muito tempo, é negativo”, afirma Aroldo Holanda, diretor de renda variável da Aplix Investimentos.
Ao longo do dia, o mercado dava como certa as informações antecipadas por veículos como Reuters e Estadão de que o programa de complementação de renda seria de R$ 400 por mês. O valor é maior do que o sinalizado pelo Ministério da Cidadania, com um agravante: para pagar o benefício, o governo estaria disposto a estourar o teto público de gastos, complicando a situação fiscal do país.
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“Seria uma medida para tentar burlar o teto de gastos e com certeza seria mal visto pelos investidores locais e estrangeiros”, afirma Bruno Komura, estrategista de renda variável da Ouro Preto Investimentos. O mercado especula que a decisão poderia custar, inclusive, na saída de Paulo Guedes do Ministério da Economia.
Ainda na seara fiscal, houve um outro cancelamento: o da votação da PEC dos precatórios, na comissão especial da Câmara, que também estava prevista para hoje. A reunião foi agendada para amanhã. A votação da PEC vai indicar se o governo terá ou não espaço de manobra para estourar o teto de gastos.
O Ibovespa chegou a perder os 110 mil pontos, mas reduziu levemente as perdas depois que o anúncio do Auxílio Brasil foi adiado. Ainda assim, fechou a terça-feira (19) com queda forte, de 3,28% aos 110.672 pontos. Foi a maior variação negativa para um fechamento desde o início de setembro último. O índice chegou a menor pontuação desde o final do mês passado.
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O dólar comercial fechou na maior cotação desde abril, com alta de 1,33% a R$ 5,593 na compra e R$ 5.594 na venda. O dólar futuro com vencimento em novembro de 2021 sobe 1,37%, a R$ 5,601.
Os juros futuros dispararam. Para os analistas, a problemática fiscal traz baixo crescimento, inflação alta e juros ainda maiores. O DI para janeiro de 2023 subiu 34 pontos-base, a 9,78%; DI para janeiro de 2025 subiu 37 pontos-base a 10,73%; e o DI para janeiro de 2027 registrou alta de 30 pontos-base, a 11,04%.
Ainda que o mercado tenha se afastado das mínimas e máximas do dia, as preocupações com os riscos fiscais permanecem. “A ameaça à quebra do teto fiscal continuará presente pelo menos até o término das eleições do ano que vem”, afirma Mauro Morelli, estrategista-chefe da Davos Investimentos.
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De acordo com apuração da XP Política com interlocutores do Ministério da Economia, a equipe econômica não viu no cancelamento do anúncio um sinal de que necessariamente o desenho do programa vá ser alterado para uma forma que requeira menos despesas fora do teto de gastos. A possibilidade pode ser de alguma alteração de formato, sem mudança substancial em termos de volume de recursos.
Nos EUA, o cenário continua sendo otimista. Das 41 empresas componentes do índice S&P 500 que informaram seus resultados relativos ao terceiro trimestre, 80% superaram as expectativas, segundo dados do FactSet. Nesta terça, Netflix, Johnson & Johnson também apresentaram resultados melhores do que o esperado.
O Dow Jones subiu 0,56%, S&P 500, 0,74% e a Nasdaq avançou 0,71%.
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