Hapvida (HAPV3): ações fecham em alta de 8,25% após 1º tri quebrar tendências ruins de balanço “emblemático”

Contudo, analistas apontam ser preciso ter alguns pontos de atenção com resultados da companhia, como sinistralidade e ritmo de alta dos tickers

Lara Rizério Augusto Diniz

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Após um balanço do quarto trimestre de 2022 (4T22) emblemático, que levou a uma derrocada das ações por várias sessões e culminou numa reorganização da companhia, a Hapvida (HAPV3) registrou números do primeiro trimestre de 2023 (1T23) que animaram o mercado. Nesta terça-feira (16) pós-balanço, os ativos HAPV3 saltaram 8,25%, a R$ 3,41, após subirem mais de 10% em boa parte do dia.

A companhia de planos de saúde registrou um lucro líquido ajustado de R$ 33,1 milhões no primeiro trimestre de 2023 (1T23), uma queda de 6,3% na base de comparação anual. Sem ajustes, o prejuízo registrado foi de R$ 341,6 milhões, avanço de 25,4% ante as perdas de R$ 272,5 milhões registradas no 1T22. Mesmo com o prejuízo líquido em alta, analistas destacaram algumas tendências positivas.

O Credit Suisse aponta que houve um forte efeito pós-4T22, mas desde então a pressão sobre o papel reduziu bastante (alta de 62% das mínimas de março) após um follow on que diminuiu as preocupações de estrutura de capital, o fechamento da curva de juros e expectativas de um 1T23 marginalmente melhor.

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Os analistas do banco destacam que, de fato, o resultado do 1T23 quebrou a a tendência negativa do 4T22 em dois grandes aspectos: (i) a empresa gerou R$ 557 milhões em fluxo de caixa de operações pré-capex; (ii) houve uma queda sutil no MLR (índice de sinistralidade) devido a alguma expansão de tickets (+1,9% no trimestre).

Em relação aos pontos de atenção, destacam: i) aumentos de tickets anualizados ainda estão no nível de 7-8%, enquanto um nível seguro para recuperação de MLR deveria ser de cerca de 20% ao ano; (ii) sinistros per capita ainda estão crescendo (+2% no trimestre), o que mostra que as pressões de utilização continuam.

A empresa reportou uma redução orgânica de beneficiários (-113 mil), refletindo a limpeza da carteira por inadimplência. Já o prejuízo líquido de cerca de R$ 342 milhões refletiu o impacto de amortização de intangível de fusões e aquisições. A alavancagem líquida ficou em 4,4 vezes no 1T23, mas ajustado para o follow on de abril deve ir para 3,4 vezes.

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“No geral, acreditamos que ainda tem um longo caminho para a empresa estabelecer um novo equilíbrio econômico, mas reconhecemos os sinais de recuperação que devem suportar uma performance positiva do papel. Em termos estruturais, acreditamos que será necessário consistência nos resultados para uma recuperação mais forte da confiança do mercado”, avalia.

O Itaú BBA apontou os números como positivos, também destacando as tendências de rentabilidade melhores do que o esperado, levando a um lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) 19% acima do que esperava.

“Também saudamos o fato de o 1T23 ter ocorrido sem nenhuma receita ou despesa não recorrente pela primeira vez em alguns trimestres. Em termos de fluxo de caixa, a empresa apresentou uma sólida melhoria sequencial em capital de giro e capex, o que deve – juntamente com a operação de follow-on e sale-and-leaseback – levar a uma rápida desalavancagem financeira da empresa”, aponta.

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A XP vê que a dinâmica de receita continua desafiadora, com os cancelamentos ainda impactando as adições líquidas, mas com os preços subindo. A empresa mostrou sinais positivos tanto nos custos quanto nas despesas, com a sinistralidade começando a trazer algum alívio e as despesas administrativas se beneficiando de ganhos de eficiência.

“A alavancagem continua alta, mas é provável que diminua nos próximos trimestres, caso a empresa continue melhorando os resultados operacionais. Apesar dos resultados neutros, vemos indicações positivas de melhorias operacionais – especialmente na sinistralidade – dado que a redução pode apontar para resultados positivos ao longo do restante do ano”, avalia.

A XP destaca que a receita aumentou 3,4% no trimestre (em linha com o esperado pela casa), impulsionada principalmente pelo número estável de beneficiários de planos de saúde e um aumento de 1,9% no ticket médio de planos de saúde. As adições brutas orgânicas totalizaram 447 mil vidas no trimestre, mas o cancelamento de 560 mil vidas (6,1% da base) resultou em uma perda líquida orgânica de 113 mil vidas. A aquisição da HB Saúde, concluída no trimestre, adicionou 106 mil beneficiários de planos de saúde e compensou em grande parte a perda líquida orgânica.

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“Notamos que a empresa aumentou os preços em 9,7% ao ano na média, resultando em um aumento de 8,3% ao ano no ticket médio, levemente prejudicado pelo mix.

Hapvida: Teleconferência

A Hapvida (HAPV3) registrou, ao final do primeiro trimestre, uma queda líquida de 7 mil beneficiários, justificada pelo aumento da inadimplência, em meio a um ambiente macroeconômico difícil. Para Jorge Pinheiro, CEO da companhia, a expectativa é que a operadora não retome os patamares históricos de adições líquidas em 2023.

Segundo o executivo, a Hapvida tem focado na recomposição do tíquete médio e no controle de custos. “Já é usual (a perda de clientes) no primeiro trimestre, com variação negativa. Os clientes são afetados pelas despesas de início de ano”, justificou o executivo, durante teleconferência de apresentação dos resultados do 1T23 a analistas de mercado, nesta terça (16).

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“Olhando para a frente, a gente tem que olhar mais forte na recomposição de margem. A gente vem privilegiando os reajustes necessários que pode fazer com que a gente não tenha esse ano crescimento orgânico em níveis históricos. Especificamente, esse ano pode ser que a gente não performe com crescimento muito forte”, afirmou.

Recomposição de tíquete médio

O CEO comentou na abertura da teleconferência que a companhia segue firme na estratégia de recomposição de tíquete médio (o índice aumentou 8,3% na comparação do 1T23 com o 1T22)  e intensificação de controle de custo – as despesas administrativas caíram 0,2 p.p. em relação ao trimestre anterior.

“Sabemos que essas ações são de longo prazo, mas algumas delas já apresentaram resultados no trimestre, com leve redução da sinistralidade de tri contra tri”, disse. Jorge Pinheiros explicou que o segundo trimestre usualmente apresenta sinistralidade entre 2 e 3 p.p. acima do que o primeiro trimestre do ano.

“A gente vem trabalhando com muita força para tentar atenuar esses efeitos. É importante fazer essa ressalva que a gente tem robusto plano que envolve não só reposição de tíquete”, destacou.

Revisão de portfólio

A Hapvida, que tem feito nos últimos tempos revisão de portfólio do lado da receita e do lado da despesa ações de verticalização, padronização e integração de sistema, prevê que esse ciclo termine até o meio do ano que vem.

“Um política de reajustes para um patamar mais alto começa a impactar positivamente os contratos a partir de maio nesse ciclo, que vai até o segundo tri do ano que vem”, destacou. A previsão em maio é de reajuste médio dos planos em 15%, informou a empresa.

Mauricio Fernandes, CFO da empresa, explicou ainda que há um esforço da companhia em adequar o reajuste para uma realidade do cliente que não consegue assumir um reajuste mais alto (com mudança de produto), mas que mantenha a rentabilidade da companhia.

“Essa ferramenta tem sido muito utilizada no momento novo da companhia de aumento de patamar de reajuste”, comentou. “A gente tem sido muito forte, entende a situação de mercado, nos procedimentos de cobrança”, disse ainda o CFO.

Leitos ociosos

Por conta do cenário, Jorge Pinheiro disse que a Hapvida tem 2,5 mil leitos ociosos e que estão fechados em sua rede própria de quase 90 hospitais espalhados por todo o Brasil.

“Não tem lá o pessoal para operar aquelas unidades porque não temos cliente para isso. Isso é fruto das várias aquisições que fizemos e movimentações até hoje, incluindo expansões”, disse.

“O primeiro movimento nosso que a gente tem feito foi na revisão da grade de produtos, no direcionamento nos esforços de mídia, marketing para essas regiões onde a gente vai ter mais retorno garantindo, não só maior crescimento, mas margens muito mais eficientes dado que temos controle de nossa rede própria. Mais do que isso, vendendo e crescendo onde a gente tem rede própria ociosa”, acrescentou.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.