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DXY, índice que mede “força do dólar”, dispara para as máximas em 20 anos com enfraquecimento do euro

Crise na Europa, com inflação alta e problema energético, derruba moeda do continente e leva dólar a patamares não registrados desde 2002

Vitor Azevedo

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O DXY, que mede a “força do dólar” frente a uma cesta de moedas de países desenvolvidos, atingiu hoje suas máximas em 20 anos, com ganhos, por volta das 11h35, de 0,46%, para os 110,34 pontos, maior nível desde março de 2002.

Essa disparada se dá, sobretudo, por conta do enfraquecimento do euro, que perdeu sua paridade frente à moeda norte-americana recentemente, e agora vale US$ 0,9896 – com queda de 0,30% na sessão de hoje.

“A alta do DXY é explicada, em grande parte, pelo recuo do euro, que veio de US$ 1,10 para abaixo da paridade. Chegou a bater abaixo de US$ 0,99”, explica Dan Kawa, gestor da Tag Investimentos.

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O impacto do euro sobre o DXY se explica por sua composição e pesos relativos: a moeda europeia representa 57,6% do índice, enquanto o iene participa com 13,6%, a libra esterlina com 11,9%, a coroa sueca com 4,2% e o franco suíço com 3,6%.

Além do euro, a libra esterlina, moeda do Reino Unido, também tem sua parcela de “culpa” na alta do índice do dólar, já que essa divisa recuou de US$ 1,35 do começo do ano para US$ 1,16.

O franco suíço, por sua vez, saiu de algo próximo a US$ 1,10 para ser negociado a US$ 1,02, e a coroa sueca saiu de US$ 0,11 para US$ 0,093. O iene também caiu, indo de US$ 0,0087 para US$ 0,0071.

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Apesar de o euro ter caído algo próximo a 12% em 2022, menos do que o iene japonês, que recuou mais de 18%, a moeda do Velho Continente, por conta do seu peso, é a grande culpada pelo avanço do DXY.

Diferencial de juros impacta na desvalorização do euro

“O que explica a queda do euro e da libra esterlina é, basicamente, o diferencial de juros, que está migrando para ser mais positivo nos Estados Unidos. O câmbio é sempre um valor relativo entre duas moedas”, contextualiza o gestor da Tag Investimentos.

Enquanto o Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, já elevou as taxas em quatro oportunidades, com a fed funds indo para o intervalo entre 2% e 2,5%. O Banco Central Europeu (BCE) recém fez a primeira elevação, em sua última reunião, em julho passado, quando saiu de taxas negativas de 0,5%, para 0%.

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Nesta quinta-feira (08), o BCE se reúne novamente para decidir alterações na taxa de juros, sendo que o mercado está dividido quanto a uma alta de 0,50 ponto percentual, com a taxa indo a 0,50%, ou de 0,75 ponto, a 0,75%.

Economias distintas

De acordo com os especialistas, há no encontro das autoridades monetárias europeias claras divergências. Isso porque países como Alemanha e Áustria possuem um histórico de políticas mais austeras, ao passo que outras nações do bloco, como Espanha e Itália, estão mais acostumados com níveis de inflações maiores.

Além disso, os países também enfrentam níveis diferentes de endividamento, com alguns preocupados em como arcarão com as dívidas no caso de alta dos juros.

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“É necessário ver também o diferencial de crescimento. Quando olhamos o que se passa na Europa atualmente, com uma desaceleração evidente da economia, que só piorará com a crise energética, com o fechamento do Nord Stream, o mercado coloca no preço que o crescimento europeu será muito pior do que o dos Estados Unidos”, diz Kawa.

O especialista destaca que a economia americana, apesar da alta dos juros, ainda vem se mostrando saudável. Por outro lado, as expectativas de crescimento econômico na Europa e no Reino Unidos são mais sombrias, diante de uma iminente recessão.

Crise do gás

Conforme José Raymundo Faria Junior, sócio da Wagner Investimentos, os países que devem ser mais mais afetados pela crise do gás são a Alemanha e a Itália. “Já a Inglaterra está trocando de primeira-ministra. Ela está propondo mais gastos públicos. Então, temos dois bancos centrais, britânico e europeu, que estão com muita pressão, principalmente este último”, contextualiza Faria Junior.

Nesta segunda-feira (05), Liz Truss assumiu como primeira-ministra do Reino Unido. Apesar de ter defendido, durante sua a campanha, um Estado menor, ela deve enfrentar dificuldades por conta da crise energética.

“Temos uma reunião do BCE que deve elevar os juros. O discurso alemão é de alta de 0,75, mas talvez eles tenham de subir 0,50. O PMI já está negativo na Europa, tanto de serviços quanto industrial, o que, geralmente, está relacionado a uma provável recessão. A Europa não vai escapar da recessão, e isso com uma inflação alta”, complementa o especialista da Wagner.

Inflação e baixo crescimento

Portanto, o problema do euro trata-se de uma combinação entre baixo crescimento e inflação alta. Como comparação, o iene também registrou um recuo em 2022, mas este, em grande parte, foi causado por conta da política monetária do Japão, que vem sinalizando quedas das taxas de juros, no caminho contrário do restante do mundo – sendo que o país asiático tem uma inflação anual de 2,2% em julho, muito menor do que os 8,9% da União Europeia.

“O que preocupa, por enquanto, é que a inflação na Europa está fora de controle, o crescimento está nulo e as contas de energia, muito caras. Começamos a ver medidas inusitadas para poupar energia”, diz Faria Junior.

E, para o especialista, as perspectivas não são muito animadoras. O problema energético, com o gás natural, pode gerar novos choques de preços no continente, com siderúrgicas fechando na Alemanha ou com companhias que produzem fertilizantes deixando de operar, por conta  dos custos não compensarem.

“Temos de entender melhor as deteriorações. Isso chama atenção porque, justamente agora que as pressões altistas de preços estão caindo, temos de ver até que ponto isso deve atrapalhar”, defende o especialista da Wagner.

“Resumidamente, o BCE está com um problema sério nas mãos. Os países terão de dar alguns subsídios. Há ainda o risco de esses também serem inflacionários”, acrescentou Wagner.

Dólar na mira da compra

Renan Mazzo, head de câmbio da SVN Investimentos, relembra que o dólar, em momentos de crise, também costuma ser alvo de compra.

“É uma questão global. A moeda americana é a mais forte do mundo e em momentos de instabilidade ela tende a apreciar frente a outras. Em momentos de crise ou turbulentos, o fluxo para a economia norte-americana aumenta. Tivemos a pandemia e, desde o começo do ano, temos a guerra da Ucrânia e a inflação global”, explica.

Todos esses fatores, que levam risco à economia global, por si só criam fluxo para o dólar, e fortalecem o DXY.

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