As 5 maiores altas e as 5 maiores baixas do Ibovespa no ano: o que esperar para elas em 2021?

4 papéis do índice subiram mais de 100%, enquanto as 5 maiores quedas foram de ao menos 50%; CSN foi destaque positivo, enquanto IRB teve a maior baixa

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Quem observa apenas a modesta alta de 2,92% do Ibovespa no ano, com o índice renovando máximas históricas ao final de 2020, poderia até imaginar que o ano foi tranquilo, o que ficou bem longe de acontecer, em meio à forte turbulência registrada durante todos esses 12 meses encerrados nesta quarta-feira (30). E que trouxeram desempenhos bastante positivos e também bastante negativos para as ações que compõem o índice.

Em destaque como a maior alta, está a ação de uma empresa que surpreendeu na reta final, figurando entre as poucas do índice que subiram mais de 100%. Trata-se da CSN (CSNA3, R$ 31,85, +126,02%), que fechou o ano com ganhos de 126% – e as perspectivas seguem positivas para 2021.

Em relatório na última semana, o Credit Suisse destacou que a forte recuperação dos resultados das siderúrgicas deve seguir no ano que se inicia na sexta-feira em meio aos prováveis novos reajustes nos preços de aço plano.

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Analistas do banco destacaram no mês de dezembro, citando fontes do setor, que há outro aumento de preço para aços planos em andamento para janeiro, de 10% a 15%, com pelo menos uma siderúrgica indicando isso como uma possibilidade realista.

As siderúrgicas estão usando o recente aumento nas referências internacionais para o aço, alta nos custos dos insumos, com os preços do minério de ferro subindo, e volume de pedidos já em carteiras como argumentos para elevarem ainda mais os preços. “Atualmente, enxergamos equações de paridade de importação para aços planos no Brasil com um prêmio de 1% contra um prêmio histórico normalizado de 5-10%”, afirmaram os analistas em relatório recente.

“Isso indica que um aumento adicional de preço é possível – pelo menos uma implementação parcial -, mas claramente as siderúrgicas têm se tornado mais agressivas ultimamente em busca de prêmios em relação às referências internacionais, enquanto nos últimos anos os preços domésticos foram negociados com desconto”, acrescentaram.

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As negociações com as montadoras de veículos estão em andamento, apontam os analistas, e as siderúrgicas esperam repassar um reajuste no preço para 2021 de 30% a 40% neste momento. No início de dezembro, o movimento recebeu críticas do presidente da associação de montadoras, Anfavea, que citou que o setor não terá como não repassar o reajuste aos seus preços o que poderá afetar a demanda.

O Credit Suisse acrescentou que alguns obstáculos podem surgir com a retomada dos altos fornos no Brasil e o potencial fim do auxílio emergencial ligado ao coronavírus. “No entanto, por ora, a dinâmica dos lucros parece muito forte para o setor no quarto trimestre de 2020 e primeiro trimestre de 2021”. No setor siderúrgico brasileiro, os analistas do banco afirmaram que preferem estar posicionados em CSN e Gerdau (GGBR4).

No final de novembro, o Inda, entidade que representa distribuidores de aços planos no Brasil, afirmou que 2020 deve terminar com forte crescimento de vendas de aço no pais, com 2021 sinalizando nova expansão, em meio à demanda de indústrias que incluem a de construção civil e máquinas e equipamentos. O presidente do Inda, Carlos Loureiro, disse que esse ritmo apoiou aumento de cerca de 10% nos preços de aço vendido aos distribuidores em novembro.

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Também positivo com a CSN, está o Itaú BBA, que destacou que a administração está otimista sobre a capacidade dos negócios de aço da empresa de superar o crescimento da indústria nacional em 2021 e mencionou sua forte carteira de pedidos até abril próximo.

Com relação à desalavancagem, ainda há expectativa de abertura de IPO da CSN Mineração. O IPO poderá ocorrer no início do ano que vem, disse ao Valor Econômico o presidente da CSN, Benjamin Steinbruch.

WEG e Magazine Luiza: forte alta em 2020, dividindo opiniões para 2021

Na sequência entre as altas, estão os papéis da WEG (WEGE3, R$ 75,74, +120,40%) que, apesar de diminuírem o ímpeto na reta final do ano, seguiram com uma das maiores altas do ano. A fabricante de equipamentos elétricos, tintas industriais e produtos de automação e controle industrial teve mais um ano de forte alta, mostrando a resiliência de seu negócio.

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Dentro dos negócios da companhia, a principal divisão está entre equipamentos de ciclo curto e de ciclo longo, algo muito relevante para entender os números do segundo trimestre. Entre os negócios de ciclo longo, estão os motores de média tensão e painéis de automação destinados principalmente a projetos de papel e celulose e mineração, água e saneamento e óleo e gás, bem como na área de Transmissão & Distribuição (T&D). Já os equipamentos de ciclo curto são equipamentos como motores elétricos de baixa tensão.

Com relação às operações brasileiras, a WEG se beneficiou da demanda crescente nos setores de construção e agronegócio e também de eletrodomésticos, principalmente linha branca, motobombas e compressores comerciais.

Na avaliação do BB-BI, a companhia segue bem posicionada no longo prazo, com um portfólio competitivo de produtos para energia renovável, motores elétricos para caminhões, armazenamento de energia e soluções da indústria 4.0. No entanto, entre os pontos de atenção, a pandemia e a queda de novos pedidos de ciclo longo em várias regiões de óleo e gás, papel e celulose e água e esgoto pode trazer volatilidade nos preços das ações nos próximos trimestres.

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Após o resultado do terceiro trimestre, em que a companhia registrou fortes números, mas que também levou a questionamentos sobre se a ação já havia subido demais, os analistas do Bradesco BBI reiteraram a recomendação neutra para os ativos, mas elevaram o preço-alvo estimado para 2021 de R$ 62 para R$ 73, de forma a incorporar os resultados melhores que o esperado. “Nossa recomendação Neutra se deve principalmente à seu valuation. No entanto, reconhecemos seus sólidos resultados financeiros, uma perspectiva positiva para GTD doméstico e os ganhos potenciais das soluções da indústria 4.0”.

Sobre isso, no final de dezembro, o Bradesco BBI fez uma análise sobre as ações do setor de bens de capital. Citando a a Cúpula da Ambição do Clima no início do mês, que resultou em compromissos ambiciosos de vários países para alcançar a
neutralidade de carbono até 2050, os analistas apontaram que a WEG  é a ação da cobertura dos analistas que deve se beneficiar mais com o plano de recuperação verde.

“O plano de carbono zero exigirá grandes investimentos na geração de energia renovável nos próximos anos. A WEG tem presença global e uma linha completa de produtos para geração hídrica, eólica, biomassa e solar. A WEG também pode fornecer equipamentos para transmissão e distribuição de energia elétrica, enquanto já desenvolveu postos de recarga para veículos elétricos e fornecerá motores elétricos para o eDelivery, caminhão elétrico da Volkswagen, que deve iniciar as entregas no primeiro semestre de 2021”, avaliam os analistas do banco.

Entre os mais otimistas, está o BB Investimentos, com recomendação de compra elevada em novembro e preço-alvo de R$ 94. “Apesar da elevada valorização e dos múltiplos caros, acreditamos que o mercado deve continuar apostando na companhia à frente em função da resiliência de seu modelo de negócios em meio à crise, comprovada pelos resultados apresentados”, ressalta a analista Catherine Kiselar.

Também com recomendação de compra, o Bank of America reiterou a sua avaliação positiva para a companhia após o resultado do terceiro trimestre, com preço-alvo de R$ 90 para o papel (veja mais clicando aqui).

Na sequência, mais uma ação que já havia destacado em 2019 e que se beneficiou do cenário de pandemia global, levando  a maiores compras online, foi o Magazine Luiza (MGLU3, R$ 24,95, + 109,61%), que já vem em forte alta desde 2016 na B3. Tanto o cenário pandêmico levando as pessoas a ficarem mais em casa por conta das restrições de mobilidade quanto a introdução do auxílio emergencial, impulsionando as vendas no setor, e a já bastante elogiada capacidade de execução da companhia impulsionaram a alta dos ativos.

No terceiro trimestre, as vendas totais e em lojas online do Magalu saltaram 81%, para R$ 12,3 bilhões. Delas, quase 67% foram de sua operação digital, totalizando R$ 8,2 bilhões de vendas brutas de mercados (GMV, na sigla em inglês, importante indicador para o setor), uma alta de 148,5% na base de comparação anual.  Na ocasião, o Credit Suisse ressaltou que o Magalu entregou um resultado bastante forte que indicou uma combinação bastante interessante de crescimento fantástico com geração de caixa excelente.

Mas, assim como no caso da WEG, as opiniões se dividem sobre se a ação é um bom investimento para 2021.

Para 2021, aponta a XP, no setor, as oportunidades devem estar, principalmente, no varejo físico por i) demanda reprimida e do aumento em poupança; ii) maior alcance das marcas através de iniciativas multicanais; e iii) fácil base comparativa, afinal os resultados de 2020 foram fortemente impactados pela pandemia. A XP possui recomendação neutra para os ativos MGLU3, principalmente por conta do valuation já bastante esticado da companhia, com preço-alvo de R$ 20 para o ativo.

Por outro lado, o BB Investimentos colocou a ação na sua seleção de investimentos para 2021, com recomendação de compra e preço-alvo de R$ 34,70, em razão do desenvolvimento bem sucedido de seu ecossistema varejista, composto por uma forte estrutura logística e em elevados investimentos tecnológicos, além do amplo sortimento.

“A tese de investimentos da Magazine Luiza está baseada (i) na capacidade da companhia em combinar crescimento elevado a margens saudáveis; (ii) no desenvolvimento de uma estrutura logística omnicanal, integrando as lojas físicas e as vendas online de forma a reduzir custos e elevar o nível de serviço; e (iii) nos investimentos realizados para aproveitar todas as oportunidades do ecommerce, com incremento no sortimento de produtos, desenvolvimento de um super app (o que inclui meios de pagamento), e aprimoramento nos serviços prestados aos vendedores cadastrados em seu marketplace. A criação de um ecossistema varejista cada vez mais robusto tem permitido que a companhia se destaque frente aos seus pares”, avalia a equipe de análise do BB-BI.

Entre os riscos citados pelos analistas, estão o de (i) resultado inferior ao esperado nos investimentos em aquisição de cliente e no desenvolvimento da omnicanalidade; (ii) incapacidade de atrair e reter os melhores vendedores na sua plataforma de marketplace; (iii) incapacidade de escalar e rentabilizar a solução financeira oferecida aos seus clientes (Magalu pay); e (iv) aumento nas provisões para devedores duvidosos acima do esperado.

PetroRio: petroleira surpreende e salta mais de 100% no ano

Também figurando entre as maiores altas do índice com desempenho superior a 100% está a ação da PetroRio (PRIO3, R$ 70,19, +112,31%). Ela estreou no Ibovespa em setembro e ainda tem pouca cobertura dos analistas, mas registrou um desempenho bastante expressivo, ainda mais levando  em conta o cenário desafiador para o mercado de petróleo durante o ano. Apesar da recuperação da commodity no segundo trimestre, a queda acumulada em 2020 ainda é de cerca de 20%, impactada principalmente pela queda da demanda por conta da pandemia.

Porém, a companhia vem se destacando, principalmente após ter marcado a sua entrada no pré-sal, que fez a ação subir 30% apenas no pregão de 19 de novembro, através do anúncio da assinatura do contrato de aquisição de participação em dois campos do pré-sal detidos pela britânica BP Energy por US$ 100 milhões.

Os campos já concluíram a fase de avaliação, se tornando reservas provadas (aquelas em que a produção é viável) e estão em fase de desenvolvimento. A PetroRio estima, em seu plano base, que o investimento total no desenvolvimento ficará em torno de US$ 800 milhões, durante três anos de desenvolvimento do campo, com a primeira extração de óleo estimado para o fim do segundo ano de investimento.

“A aquisição marca a entrada definitiva da empresa na produção do pré-sal, com potencial de triplicar sua capacidade de extração de petróleo, adicionando cerca de 40 mil a 45 mil barris por dia em uma produção atual de 27 mil barris de óleo por dia. A notícia é bastante positiva para a companhia, podendo combinar o aumento da capacidade com redução de custos, além da sinergia com a operação atual”, destacou a equipe de análise da Levante Ideias de Investimentos.

Segundo os analistas, um ponto importante a se observar é que os campos adquiridos, sobretudo o bloco de Wahoo, está a apenas 35 quilômetros do bloco de Frade, onde a companhia já atua, o que permitirá compartilhar a infraestrutura, inclusive a plataforma FPSO já operante, de modo a gerar uma grande eficiência operacional.

Em meados de dezembro, a companhia ainda anunciou estudos para captar um valor equivalente a US$ 250 milhões através de oferta de ações (follow-on), o que foi bem visto pela Levante, uma vez que tira a incerteza sobre qual será a fonte de recursos para a compra dos campos de pré-sal anunciados pela companhia.

Os analistas destacam que a companhia pode ter visto o atual momento como propício para o follow-on em meio à retomada dos preços de petróleo para patamares pré-covid.

“Essa retomada pode incentivar os investidores a enxergarem um cenário menos arriscado para o setor petroleiro, o que levaria a um aumento de demanda pelas ações da companhia. Além disso, a realização do follow-on será direcionada ao financiamento dos campos adquiridos da BP e sinaliza oportunidades adicionais de crescimento projetadas pela PetroRio”, apontam os analistas.

Bradespar e Vale: boas perspectivas para o ano que começa, mas com riscos no radar

Com altas de menos de 100%, mas ainda bem expressivas, estão duas ações diretamente relacionadas: a da Bradespar (BRAP4, R$ 63,71, +73,55%), holding da Vale (VALE3, R$ 87,45, +70,94%), sendo que ambas bastante beneficiadas pela alta do minério de ferro e também pela maior visibilidade dos investidores sobre os próximos passos da mineradora após a tragédia de Brumadinho, em 2019.

Para Yuri Pereira, analista da XP, os ativos da mineradora seguem sendo boas oportunidades de investimentos para 2021. “Acreditamos que as ações da Vale oferecem um retorno mínimo com dividendos de 7,5%, considerando uma média de US$100 a tonelada para o minério de ferro em 2021. Portanto, também por conta da baixa alavancagem, não descartamos potenciais dividendos extraordinários”, avalia.

Já os principais riscos  estão relacionados a uma potencial desaceleração da demanda na China e no Brasil, como novas medidas restritivas contra a covid-19 e menores estímulos dos governos. Além disso, um dólar mais alto aumentaria a alavancagem das empresas, embora beneficie os resultados operacionais.

A falta de um acordo com as autoridades e gastos acima do esperado com Brumadinho também podem impactar negativamente os preços das ações.

Sobre o tema, cabe lembrar que, em dezembro, um trabalhador de empresa terceirizada a serviço da Vale foi morto após ser soterrado na mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, Minas Gerais, onde há dois anos morreram quase 300 pessoas, com algumas ainda soterradas no local, reacendendo preocupações sobre as práticas ESG (de meio ambiente, segurança e governança corporativa) na Vale, bem como levantando preocupação sobre um possível aumento do escrutínio de órgãos governamentais e reguladores.

Cabe ressaltar ainda um outro fator de risco: o preço do minério de ferro recentemente sentiu o impacto dos planos da China de controlar a produção de aço no próximo ano, uma ameaça à demanda em um ano de fortes ganhos para a commodity. O abalo coincidiu com novos sinais de ampla oferta. O gigante asiático quer assegurar uma produção menor de aço bruto em 2021, segundo a agência de notícias Xinhua, que citou o ministro da Indústria, Xiao Yaqing. O governo planeja novas diretrizes para a substituição da capacidade de aço e também visa reduzir as emissões de carbono, disse.

Confira as maiores altas do Ibovespa em 2020 e as recomendações das casas de análise, segundo dados da Refinitiv: 

Empresa Ticker Preço de fechamento Alta no ano Recomendações de compra Recomendações neutra Recomendações de venda
CSN CSNA3 R$ 31,85 +126,02% 4 2 2
WEG WEGE3 R$ 75,74 +120,40% 4 3 6
PetroRio  PRIO3 R$ 70,19 +112,31% 0 1 0
Magazine Luiza MGLU3 R$ 24,95 +109,61% 10 4 0
Bradespar BRAP4 R$ 63,71 +73,55% 3 1 0
Vale* VALE3 R$ 87,45 +70,94% 7 0 0

*A Vale ficou em sexto lugar no ranking, mas foi mencionada por sua forte relação com o quinto lugar, ocupado pela Bradespar

Maiores quedas: IRB e Cogna na dianteira

Apesar da recuperação recente, com alta de 23,38% apenas em dezembro, o IRB (IRBR3, R$ 8,18, -76,88%) encerrou o ano como a maior queda do Ibovespa, em um ano bastante turbulento para a empresa – e não só por causa da pandemia.

No começo do ano, tudo caminhava para ser um 2020 bastante positivo, com a expectativa de que a companhia de resseguros visse seu crescimento de prêmio continuando a subir, além de aumentar a sua participação no mercado na América do Sul.

Porém, desde o início de fevereiro, a tese de investimentos mudou totalmente para a companhia. No primeiro domingo daquele mês a Squadra, uma das mais tradicionais gestoras de ações do Brasil, publicou uma extensa carta (de 184 páginas, mais precisamente) apontando uma série de “inconsistências” no balanço do IRB, gerando muita repercussão entre os investidores. Três semanas depois, um novo documento da gestora após o IRB rebater os pontos destacados pela Squadra. Entre as acusações, estavam a de avaliações otimistas da sinistralidade, venda de participação em ativos “non-core” sem detalhamento, que teriam impulsionado o lucro do IRB.

Mas esse foi apenas o começo: em março, ganhou destaque ainda a polêmica após a notícia enganosa de que Warren Buffett teria comprado ações da companhia, negado posteriormente pela Berkshire Hathaway, do megainvestidor americano, aumentando a uma crise de credibilidade para a companhia e levando à saída de dois importantes executivos.

Vale ressaltar que, naquele mês, no auge da polêmica sobre o caso Berkshire, muitas casas interromperam a sua cobertura para o ativo, esperando maior visibilidade sobre os verdadeiros números da empresa e também sinais da nova gestão, uma vez que os principais comandantes haviam saído em meio aos escândalos.

Em meio a tantas turbulências, a gestão da companhia mudou, houve uma verdadeira virada na comunicação e, gradativamente, a empresa se tornou mais transparente, enquanto os últimos dados mensais apresentados pela empresa mostraram recuperação dos seus números. Nesta semana, por exemplo, a ação subiu 12% apenas na segunda-feira após a resseguradora apresentar dados mensais que mostraram prejuízo de R$ 23,8 milhõesem outubro, mas lucro líquido R$ 110,3 milhões se excluídos efeitos não recorrentes.

O faturamento bruto (prêmio emitido) somou R$ 692,9 milhões em outubro, aumento de 17,9% frente ao mesmo mês de 2019, sendo R$ 370 milhões no Brasil (+18,2%) e R$ 322,9 milhões no exterior (+17,7%), de acordo com dados não auditados divulgados no último dia 24. Vale ressaltar que, no terceiro trimestre, o IRB teve prejuízo líquido de R$ 229,8 milhões.

Apesar da recuperação, os analistas seguem bastante cautelosos com a companhia. “Por enquanto, é muito cedo para ter uma visão mais clara do quarto trimestre de 2020. Porém, embora esperemos um resultado ainda fraco, os números de outubro sinalizam uma recuperação sequencial em relação ao terceiro trimestre”, afirmou o analista Luis F. Azevedo, da Safra Corretora.

Leia mais: O que esperar para o IRB em meio à montanha-russa das ações na Bolsa?

A expectativa da maior parte dos analistas é de recuperação gradual, mas não em números comparáveis com os divulgados pela companhia antes da crise de confiança, como um Retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) médio que girava em torno de 40% a 45%, enquanto o resto do mundo entrega um ROE entre 10% a 15% na média.

Em meio a esse cenário para a companhia, a palavra de ordem é de cautela, conforme destacado no quadro de recomendações abaixo.

Na sequência entre as maiores quedas, estão os papéis da Cogna (COGN3, R$ 4,63, -59,49%), que também prometeram muito à espera da abertura de capital da Vasta (subsidiária da companhia de educação digital) mas, desde o fim de julho – depois do IPO da companhia na Nasdaq -, registraram forte queda.

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Cogna: mudanças no caminho certo, mas por que ação não anima analistas mesmo depois da forte queda em 2020?

A companhia sofreu bastante na pandemia, com destaque para a operação da Kroton, de ensino superior, que teve o maior impacto negativo e vem passando pela maior reestruturação, que teve início anunciado em agosto.

Na ocasião, logo após o resultado do segundo trimestre, a empresa informou que os cursos presenciais iriam passar por uma mudança para versões via ensino à distância, reduzindo os custos da companhia, com a maior parte das ações para isso devendo ocorrer entre a segunda metade de 2020 e o início de 2021.

Em meados de dezembro, a companhia realizou o Investor Day, trazendo as suas expectativas para o ano que irá começar.

A Cogna destacou que prepara o lançamento de um marketplace de educação voltado para jovens e adultos que vai integrar produtos próprios com outros oferecidos por terceiros, na expectativa de preservar seus negócios em meio à crise gerada pela pandemia. O marketplace, na avaliação da companhia, deve permitir a expansão do mercado em mais que o dobro no Brasil, passou dos atuais R$ 56 bilhões para R$ 121 bilhões.

O Credit Suisse ressaltou que as projeções da companhia são realistas para um cenário de recuperação. A empresa espera lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) recorrente de R$ 1 bilhão para 2020 e R$ 2,4 bilhões para 2024, abaixo do cálculo para o curto prazo, mas que condiz com nossas projeções para 2024.

Por outro lado, o Credit afirmou, que embora a alavancagem financeira da companhia seja elevada, o problema não foi abordado no evento, nem as possíveis soluções. A recomendação do banco para os ativos COGN3 é underperform (desempenho abaixo do mercado), com preço-alvo de R$ 6.

O Bradesco BBI destaca que a empresa está se movendo na direção certa, o que deve significar resultados mais saudáveis a partir de 2022, após dois anos de pressão, apontando que os números iniciais parecem promissores.

Contudo, a recomendação é neutra para os ativos COGN3, com preço-alvo de R$ 6,50. “No geral, esperamos que os resultados da Cogna sofram pressão no curto prazo, já que a empresa tem o ajuste de sua base de alunos no campus enquanto a provisão para devedores duvidosos deve permanecer em um nível alto para 2021″, avaliaram os analistas.

Embraer e Cielo: cautela com ações permanece após 2020 desafiador

Em terceiro lugar, a Embraer (EMBR3, R$ 8,85, -55,14%) teve forte queda no ano, de cerca de 55%. Bastante afetada pela pandemia de coronavírus em meio à redução na carteira de pedidos, a fabricante de aviões sofreu mais um baque no final de abril após a Boeing desistir de joint venture com a companhia. As partes planejavam criar uma joint venture composta pelo negócio de aviação comercial da Embraer e uma segunda joint venture para desenvolver novos mercados para a aeronave de transporte aéreo médio e mobilidade C-390 Millenium.

Logo após a rescisão do contrato, o Bradesco BBI cortou a recomendação para os American Depositary Receipts (ADRs) da Embraer de outperform para underperform, com o preço-alvo sendo cortado de US$ 25 para US$ 4. “Em nossa opinião, a COVID-19 resultará na adiamento de entregas de aeronaves e novos pedidos. Além disso, a Embraer como empresa independente precisará competir com a Airbus no mercado de jatos regionais”, apontaram na ocasião.

Em outubro, contudo, os analistas do BBI elevaram a recomendação de volta para neutra, com o preço-alvo sendo elevado de US$ 4 para US$ 4,50, depois de atualizar as projeções de entrega de aeronaves em 2020 e 2021, a redução de custos da empresa e um maior equilíbrio entre risco e recompensa dos ativos.

“A Embraer tem dinheiro suficiente para superar a pandemia de covid-19 e se reajustar ao status de companhia ‘solteira’”, destacou o relatório. No segundo trimestre, a Embraer reportou uma posição de caixa de US$ 2 bilhões e fez uma captação de US$ 600 milhões por meio de um empréstimo em julho e US$ 750 milhões em emissão de bônus de 7 anos em setembro.

Para os analistas, a confortável posição de caixa da Embraer deve conceder tempo suficiente para adaptar sua estrutura de custos fixos à nova realidade pós-COVID-19 e ajudar a competir com a Airbus.  Eles também destacaram que Francisco Gomes Neto, CEO da Embraer, tem um excelente histórico. “Como ex-CEO da Marcopolo, ele transformou a fabricante líder global de carrocerias de ônibus, mesmo durante a recessão econômica no Brasil, ao mesmo tempo em que melhorou a eficiência em suas linhas de produção”, apontou o BBI na época.

Contudo, as preocupações após a desistência da Boeing e os efeitos do coronavírus seguem no radar. Os riscos do negócio destacados pelos analistas incluem a empresa de leasing de aeronaves Aercap e outros clientes poderem anunciar novos adiamentos de entregas de aeronaves, potenciais cortes no orçamento de defesa brasileiro para 2021, a renegociação dos pedidos do cargueiro KC390 pela Força Aérea Brasileira, cancelamentos de pedidos e competição mais acirrada com a Airbus.

Quem também teve um ano bastante desafiador foi a Cielo (CIEL3, R$ 4,00, -52,02%), que mostrou que a companhia tem um longo caminho para se recuperar em meio a maior competição, com os desafios em geral para o setor de maquininhas e também depois de resultados poucos animadores durante o ano, que chegaram a ser classificados como “tempestade perfeita”.

Somente no mês de dezembro, a Cielo teve a recomendação reduzida pelo Morgan Stanley e preço-alvo cortado pelo Safra, mostrando que a cautela segue predominando entre os analistas de mercado apesar da forte queda dos papéis no ano.

O Morgan Stanley cortou a recomendação de overweight (exposição acima da média do mercado) para equalweight (exposição em linha com a média do mercado), cortando o preço-alvo de R$ 5,80 para R$ 4 ao cortarem as estimativas de receita líquida para 2021 e 2022 em 36% e 39%, respectivamente. Já a estimativa de lucro líquido em 2021 de R$ 751 milhões,17% abaixo do consenso, enquanto a estimativa de lucro líquido em 2022 de R$ 827 milhões, 18% abaixo do consenso do mercado.

“Acreditamos que a Cielo está muito atrasada na atualização de sua estrutura de negócios para competir de forma eficaz no Brasil. A empresa perdeu 13 pontos percentuais de participação no mercado de em termos de volume total de pagamento (TPV, na sigla em inglês) nos últimos três anos e preveem que as perdas continuem em ritmo elevado nos próximos 2 a 3 anos, pelo menos. “Vemos a participação de mercado em 2023 em 27%, contra 33% hoje”, avaliam os analistas.

Eles também apontam que a Cielo, como empresa de capital aberto, opera em desvantagem competitiva em relação a seus principais rivais Getnet e Rede, isso porque o Santander e o Itaú pensam no cliente de forma holística, maximizando o valor do cliente, não do produto, podendo fazer isso porque Getnet e Rede são subsidiárias integrais do banco. A Cielo, por outro lado, não tem conseguido se equiparar às políticas agressivas de precificação da Getnet e da Rede porque “precisa” ser lucrativa, visto que possui investidores minoritários, independentemente dos interesses dos controladores Banco do Brasil e Bradesco.

“Além disso, achamos que a Cielo também tem uma desvantagem competitiva porque tem um conflito de interesses com os controladores em oferecer serviços bancários a seus clientes – algo que as empresas de pagamento não pertencentes a bancos (ou seja, Stone) podem fazer”, apontam os analistas. Os papéis até esboçaram uma recuperação em meio aos rumores de que o BB poderia vender a sua participação na companhia, mas não o suficiente para reverter as fortes baixas do ano.

No final de dezembro, a Safra reduziu o preço-alvo para a ação da empresa de maquininhas de R$ 6 para R$ 5, também com recomendação neutra. Os analistas apontam que é positiva a estratégia comercial da empresa de preservar rendimento (preços) em vez de volumes (market share), e também os esforços na melhoria da eficiência operacional.

“Mesmo assim, acreditamos que o ambiente competitivo acirrado, o fraco dinamismo dos resultados e as incertezas quanto ao ritmo de recuperação da empresa, nos levam a manter uma visão mais cautelosa sobre o nome, portanto, uma recomendação neutra para a ação”, aponta a equipe de análise do banco. Apesar do desconto para pares, os múltiplos não são vistos pelo Safra como tão encorajadores considerando a dinâmica de deterioração dos lucros.

CVC: otimismo com vacinas ou cenário continua complicado?

Por fim, estão os ativos da CVC (CVCB3, R$ 20,58, -50,02%): enquanto que, no caso das outras maiores quedas, há uma grande cautela para 2021, a visão dos analistas aponta para um cenário mais ambíguo para o próximo ano.

O setor de turismo foi um dos mais impactos pelas restrições de circulação impostas pela Covid-19. Isso agravou ainda mais a perspectiva para a CVC, que já vinha passando por desafios em meio ao fim das operações da Avianca , além de ter que reconhecer irregularidades contábeis em exercícios de anos anteriores.

No terceiro trimestre de 2020, a CVC apresentou receita líquida de R$ 62 milhões, representando uma retração de 86,7% na comparação com o mesmo período do ano anterior, com destaque negativo para a drástica queda, de quase 85%, das reservas totais entre os períodos.

A CVC apresentou ligeira melhora em relação ao segundo trimestre de 2020, porém com seus resultados ainda sendo fortemente afetados pelos efeitos da pandemia.

Daniel Barcellos, analista da Capitalizo, destacou em relatório no início de dezembro ver a empresa como um case complexo, onde os riscos se agravam principalmente pela dependência mantida a outras companhias, de acordo com seu modelo de negócios. Companhias estas, de setores também mais arriscados, como o caso do aéreo por exemplo. “Vemos, portanto, opções mais interessantes para compor uma carteira de longo prazo. No momento não temos recomendação de longo prazo em CVC, sem definição de um preço alvo para o ativo”, apontou.

Por outro lado, também neste mês (mais precisamente no dia 7), a Eleven Financial elevou a recomendação de neutra para compra, com preço-alvo de R$ 30, ressaltando a conclusão do processo de repactuação das debêntures ao final de novembro e os avanços no desenvolvimento das vacinas contra o coronavírus, que levaram à recuperação das ações nos últimos três meses (ainda que não de forma suficiente para reverter as perdas do ano).

Para os analistas da Eleven, a CVC também deve seguir ganhando participação no mercado, uma vez que muitos dos concorrentes do segmento não conseguiram sobreviver à pandemia ou operar com a mesma estrutura. Eles apontam ainda que o pior para o setor de turismo após o forte impacto pelas restrições por conta da Covid-19.

Confira as maiores quedas do Ibovespa em 2020 e as recomendações das casas de análise, segundo dados da Refinitiv: 

Empresa Ticker Preço de fechamento no ano  Desempenho no ano Recomendações de compra Recomendações neutra Recomendações de venda
IRB IRBR3 R$ 8,18 -76,88% 0 4 4
Cogna COGN3 R$ 4,63 -59,49% 1 9 3
Embraer* EMBR3 R$ 8,85 -55,14% 1 1 0
Cielo CIEL3 R$ 4,00 -52,02% 1 10 3
CVC CVCB3 R$ 20,58 -50,02% 1 3 0

*Recomendações para o ADR ERJ da Embraer:  1 de compra, 6 de manutenção e 2 de venda

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.