Com aumento do combustível, distribuidoras podem aderir ao diesel russo

Mais comum nos chamados postos sem bandeira, o petróleo da Rússia poderá se propagar pelas grandes redes

Augusto Diniz

Combustível

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Uma notícia publicada pela Bloomberg saltou aos olhos na semana passada. Segundo a empresa de análise do setor de energia, a Kpler, as importações de derivados de petróleo da Rússia, principalmente diesel, devem aumentar 25% em agosto em relação a julho.

O reajuste de preço de combustíveis anunciado pela Petrobras (PETR4) recentemente favorece ainda mais a importação do produto russo.

Desde o início do ano, quando a União Europeia e os Estados Unidos adotaram sanções à venda de várias commodities russas por conta da guerra contra a Ucrânia, o petróleo da Rússia tem chegado ao Brasil em volumes crescentes, inclusive criando um desequilíbrio no mercado, amplamente tratado pelas grandes distribuidoras na apresentação de resultados do último trimestre.

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“Circunstância internas e externas trouxeram uma forte volatilidade para as margens do setor e resultaram em um ambiente operacional complexo, com um excesso de oferta de diesel, além dos efeitos macroeconômicos na América Latina”, disse Ricardo Musa, CEO da Raízen (RAIZ4), empresa que opera os postos Shell.

“Adicionalmente, sucessivas quedas nos preços de todos os produtos trouxeram efeitos nos estoques”, acrescentou.

Aumento já esperado

Sobre o aumento de preços promovido pela Petrobras, Mussa comentou que já era esperado “porque a situação estava muito desafiadora de manter, principalmente no suprimento de diesel no Brasil”.
E exaltou o fato de o reajuste ser positivo para o etanol, combustível que a Raízen produz.

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“Nós estávamos preocupados com preços baixíssimos de etanol. Nós estamos vendo uma recuperação dos preços do etanol com esse aumento de preço da Petrobras”, ressaltou.

Defasagem insustentável

Leonardo Linden, presidente da rede de postos Ipiranga, controlada pela Ultrapar (UGPA3), chegou a citar na teleconferência do 2T23, realizada antes do anúncio de reajuste da Petrobras, que o mercado local ficaria “difícil” trabalhar com a defasagem de preço com relação ao mercado internacional.

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Linden chamou de “deficiência” local o fato de a empresa continuar importando produto petrolífero, sem citar sua origem.

Segundo o Goldman Sachs, no 2T23, as importações de diesel russo (que foram negociadas com desconto em relação ao preço da costa do Golfo) aumentaram e representaram 55% do total de diesel importado pelo País.

A Vibra (VBBR3), ex BR Distribuidora, usou o termo “estrutural” para definir sua escolha de comprar a partir de agora pelo diesel russo.

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Ernesto Pousada, CEO da companhia, havia comentado na apresentação de resultados do 2T23 que a redução do preço do diesel com a importação russa havia impactado o custo dos estoques.

A empresa não havia importado o diesel russo no 2T23, mas já considerava nesse trimestre como alternativa de sourcing (abastecimento).

Conformidade para importar

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“A gente investiu bastante nosso tempo para assegurar que tinha sob controle todos os processos para fazer essa operação de forma controlada”, disse ele com relação à importação do combustível russo, que exige conformidades para aquisição por conta do embargo.

A Vibra e a Raízen, no entanto, disseram que atualmente o diesel russo tem migrado para outros mercados por conta do preço de importação para cá estar acima do teto definido pelas sanções aos russos.

Postos não bandeirados

Mas Ricardo Mussa disse que ainda vê o Brasil como região para entrada do produto da Rússia e aponta que ele tem crescido em distribuidoras menores.

O BB Investimentos, em análise sobre os resultados da Vibra no 2T23, dá uma explicação sucinta do que ocorre (pelo menos até aqui) na área: “O setor de distribuição de combustíveis continua com elevada volatilidade devido à marcação a mercado dos estoques, além de um crescimento lento nos volumes e um ambiente competitivo, que tem favorecido a atuação dos postos bandeira branca (não ligados às grandes marcas do setor ou não bandeirados), que vêm aumentando sua participação de mercado nos últimos trimestres”.

O Goldman Sachs aponta que bandeiras brancas e distribuidores menores, que dependem mais de importações do que as maiores distribuidoras, que possuem contratos mais longos e segurança de entrega da Petrobras, conseguiram ampliar a participação no mercado de diesel em 3 p.p. no último trimestre.

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