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As respostas agressivas de política econômica do Tesouro, FED, e da SEC (agência reguladora) – que incluíram até o uso dos recursos públicos do balanço do FED para garantir os ativos podres da Bear Sterns – têm trazido gradualmente os mercados ao normal. No entanto, dado o alto grau de incerteza sobre o impacto da crise sobre os balanços de instituições financeiras e das famílias, é cedo para dizer que a crise acabou e que as tendências positivas voltarão definitivamente aos mercados. Ademais, mesmo com a melhora dos indicadores financeiros, os dados referentes ao consumo e a produção ainda continuarão fracos, mantendo incerta a capacidade das empresas voltarem a apresentar lucros relevantes nos próximos trimestres.
A crise interrompeu um período bastante benigno de ampla liquidez e forte crescimento econômico pelo qual o mundo passou nos últimos 4 anos. A volatilidade dos mercados, que parecia ter mudado de patamar, voltou aos níveis do final da década de 90 e início dos anos 2000, período em que o mundo enfrentava uma crise atrás da outra.
“Commodities e EM passaram de vilões das crises passadas aos preferidos dos investidores” |
Por outro lado, as chamadas economias emergentes (EM) apresentaram um comportamento bastante diferente das crises passadas. Tradicionalmente, quando aparece uma crise nos mercados mundiais como a da Ásia em 1997, Rússia em 1998, Argentina em 2001 e Nasdaq e World Com. nos EUA em 2000/1, a aversão a risco dos investidores internacionais sobe e conseqüentemente os spreads dos títulos das diversas categorias de crédito mais arriscados, entre eles os dos EM, sobem juntos.
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Desta vez, a aversão a risco parece não ter contaminado esses títulos. Comparando-se a evolução dos spreads do EMBI (índice de títulos soberanos dos EM) e de um índice de títulos corporativos americanos não investment grade (os chamados high yield bonds), os spreads dos EM sofreram muito menos nesta crise do que a correlação histórica sugere.
Mesmo quando olhamos para as taxas de câmbio, a quebra de padrão também chama a atenção. Nós brasileiros lembramos bem dos fortes movimentos de depreciação cambial do início desta década, em resposta às diversas crises globais. Desta vez, enquanto o sistema financeiro americano rumava para o caos, a nossa moeda… apreciava!
O que está por trás desta quebra de padrão? Fundamentalmente, 3 razões.
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Em primeiro, a crise foi muito específica e forte sobre o sistema financeiro americano, e não sobre um país emergente. Com a confiança abalada, muitos ativos americanos de renda fixa, tradicionais “porto-seguros” nas crises anteriores, passaram a ser a última coisa que os investidores queriam ter em suas carteiras. O dólar, que tende a se fortalecer contra o resto do mundo em momentos de aversão ao risco, acabou se depreciando contra a maioria das moedas relevantes, tanto do G7 como de EM.
No entanto, o fato da qualidade dos ativos americanos piorar não assegura, isoladamente, que os demais ativos, como EM e commodities, serão atraentes. EM, como dissemos, também costumam sofrer em crises, assim como os preços das matérias primas, uma vez que a perspectiva de crescimento mundial cai. Mas aí entram as duas outras razões para a quebra de padrões: a presença da China no mercado internacional de comércio, que vem mantendo um forte crescimento baseado em demanda interna e conseqüentemente ainda demandando agressivamente commodities; e as contas externas da maioria dos EM, com destaque para o Brasil, que estão em posição muito mais saudável do que estavam há alguns anos.
Commodities e EM, portanto, passaram de vilões das crises passadas aos preferidos dos investidores mundiais. E, neste sentido, o Brasil – que é um emergente exportador de commodities – ganhou especial destaque. No primeiro trimestre, enquanto a bolsa americana sofria, o Ibovespa resistiu, liderado pelo movimento das commodities.
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Desta forma, hedges tradicionais para períodos de crise acabaram não funcionando, simplesmente porque o mundo é muito diferente daquele das crises passadas.
O que esperar para frente? Com a gradual retomada da confiança nos EUA, é razoável que o dólar volte a ganhar terreno e as commodities, conseqüentemente, corrijam um pedaço da forte alta observada no início do ano. No entanto, é importante destacar que a recuperação da economia americana deverá ser lenta e que a Europa provavelmente irá apresentar sinais mais claros de desaceleração no segundo semestre, de modo que é plausível esperar um ambiente ainda volátil, com potencial de ganhos menores.
Por outro lado, como a China (e outros ‘Brics’) continua com um bom crescimento de demanda doméstica e as contas externas dos EM se mantêm saudáveis – as resevas internacionais do Brasil continuaram a subir, mesmo durante os piores momentos da crise – não parece razoável antecipar quedas mais abruptas dos preços de seus ativos financeiros nos próximos meses.
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Caio Megale é sócio da Mauá Investimentos e escreve mensalmente na InfoMoney, às quartas-feiras.
caio.megale@infomoney.com.br
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