China reafirma transparência e cooperação, em meio a críticas sobre a divulgação de dados da covid-19

País asiático mudou a forma de divulgar números de casos e mortes e tem sido criticado pela OMS e por países ocidentais

Roberto de Lira

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Em meio a críticas internacionais sobre a transparência na divulgação de dados sobre o novo surto de covid-19 na China – incluindo um pedido púbico da direção da Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta semana por números mais confiáveis – as autoridades do país asiático iniciaram uma estratégia de comunicação para desmentir qualquer intenção de ocultar a real situação sanitária local. A China se prepara para abrir suas fronteiras na próxima semana e tem se queixado de medidas de restrição à chegada de chineses em vários países.

Segundo a agência de notícias Xinhua, Mao Ning, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, disse em entrevista coletiva na quinta-feira (5) que a China tem compartilhado informações e dados sobre a epidemia de maneira oportuna, aberta e transparente desde o início da pandemia e sempre manteve comunicação estreita com a OMS.

De acordo com a porta-voz, desde que a covid-19 foi relatada pela primeira vez, os dois lados realizaram mais de 60 intercâmbios técnicos sobre contenção, tratamento, pesquisa e desenvolvimento de vacinas, além do rastreamento da doença. Mao Ning disse que esse compartilhamento de informações ajudou cientistas de todos os países a aprender sobre a evolução do vírus e fortaleceram a confiança da comunidade científica global na resposta ao vírus.

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O recado passado foi o mesmo por Liu Pengyu, porta-voz da embaixada de Pequim em Washington, em outra entrevista coletiva na quinta-feira. “A China sempre compartilhou suas informações e dados de forma responsável com a comunidade internacional. Anteontem tivemos outra troca de discussões técnicas com a OMS e os cientistas chineses estão agora trabalhando com a OMS para ter mais discussões sobre os dados”, afirmou

O funcionário da embaixada reconheceu que que as infecções por covid-19 continuaram a aumentar na China depois que as autoridades abandonaram quase três anos de rigorosas medidas de contenção de coronavírus que isolaram o país e limitaram severamente a circulação de pessoas.

Mas é exatamente no tipo de informações que estão sendo passadas que residem as desconfianças internacionais. Desde 25 de dezembro, o país mudou a maneira de comunicar os número de mortes pela doença: apenas os casos fatais com quadros respiratórios, como pneumonia, são contabilizados.

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Por esse tipo de contagem, a China teria apenas 30 mortes relacionadas à covid-19 desde o início de dezembro.  No dia 5 de janeiro, por exemplo, o Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) contabilizou 5 mortes, dentro de uma média de cinco óbitos nos últimos dias. Mas o OMC tem mostrado que o número diário de morte está na casa de centenas.

As divergências não são recentes e podem realmente significar uma estratégia de subnotificação: enquanto a China insiste que apenas 5,264 pessoas perderam a vida durante a pandemia, a Organização Mundial da Saúde trabalha com o número de 32.679 mortes.

Por conta disso, o temor de que uma liberação para que viajantes chineses saiam do país sem uma exigência mais ativa de testes tem gerado medidas restritivas por outros países. Seguindo uma recomendação de autoridades de saúde da União Europeia, a Alemanha anunciou ontem viajantes da China seriam obrigados a apresentar um teste pré-voo negativo para covid-19 .

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Além disso, as autoridades da UE também foram solicitadas a intensificar o teste e sequenciamento de águas residuais de aeroportos com voos internacionais e aeronaves chegando da China, para monitorar possíveis novas variantes do coronavírus. No início da semana, Pequim denunciou esse tipo de restrições de entrada não científicas e “inaceitáveis”

Sobre a negativa do governo chinês de ofertar à população vacina produzidas em outros países, como os Estados Unidos, o porta-voz da embaixada respondeu que as vacinas desenvolvidas internamente eram tão eficazes quanto as do tipo mRNA desenvolvidos nos EUA.

Ele citou um estudo produzido pela Universidade de Hong Kong que apontou que a chinesa CoronaVac tinha uma eficácia de 97,9% contra “doença grave ou fatal” entre pessoas com 60 anos de idade ou mais, em comparação com os 98,0% de eficácia das vacinas de mRNA desenvolvida pela Pfizer/BioNTech. Os resultados também consideraram a CoronaVac 50,7% eficaz contra doenças leves ou moderadas na mesma faixa etária, em comparação com 71,6% da vacina Pfizer/BioNTech.

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Pelo menos os alemães que vivem na China começaram nesta semana receber a vacina da BioNTech, num programa criado por acordo assinado pelo do chanceler Olaf Scholz quando visitou Pequim em novembro de 2022.

Enquanto isso, o South China Morning Post informou hoje que as empresas farmacêuticas chinesas estão tentando acompanhar o aumento da demanda por remédios para reduzir a febre. A produção de paracetamol e ibuprofeno aumentou mais de quatro vezes em comparação com o início de dezembro.