C&A (CEAB3) salta 190% na Bolsa em 2023, enquanto setor de varejo tem desempenho morno: o que explica movimento?

Melhora operacional, capital de giro e possibilidade de crescimento são alguns dos fatores apontados por analistas para recuperação

Vitor Azevedo

Fachada de loja da C&A em shopping (Foto: Divulgação)

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Em levantamento sobre o desempenho das ações de varejo, a Quantum mostrou que as ações da C&A (CEAB3) destoaram consideravelmente das demais das varejistas brasileiras ao se analisar o acumulado do ano e o dos últimos 12 meses. Os papéis da companhia, do primeiro pregão de 2023 até o dia 14 de agosto subiram 189% e nos doze meses que antecedem a mesma data, 100%.

Para dar uma dimensão da disparidade, a Arezzo (ARZZ3), segunda colocada no ranking, tem uma alta de 1,19% em 2023 e uma queda de 4,74% no período de doze meses.

Nome Retorno
no ano – diária nos últimos 12 meses – diária nos últimos 24 meses – diária nos últimos 36 meses – diária
02/01/2023 até 14/08/2023 12/08/2022 até 14/08/2023 12/08/2021 até 14/08/2023 11/08/2020 até 14/08/2023
AMERICANAS ON – AMER3 -88,91% -91,94% -97,60% -99,10%
AREZZO ON – ARZZ3 1,19% -4,74% -11,07% 53,41%
CEA ON – CEAB3 189,08% 100,00% -38,65% -41,26%
GRUPO SBF ON – SBFG3 -27,19% -57,42% -73,24% -67,64%
GRUPO SOMA ON – SOMA3 -8,26% -23,56% -48,16% -19,20%
LOJAS MARISA ON – AMAR3 -32,80% -68,18% -88,01% -88,04%
LOJAS RENNER ON – LREN3 -12,56% -33,26% -49,91% -51,67%
MAGAZINE LUIZA ON – MGLU3 3,65% -6,58% -86,42% -86,11%
PETZ ON – PETZ3 -10,79% -45,59% -78,43%
VIA ON – VIIA3 -28,33% -38,35% -86,79% -91,03%

Fonte: Quantum

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“As varejistas de moda focada no público de média e baixa renda seguem também com cenário desafiador”, fala Lucas Lima, analista da VG Research. “A única que vem se sobressaindo é a C&A, que conseguiu reportar um resultado bastante forte no segundo trimestre de 2023, com crescimento de vendas nas mesmas lojas acima de empresas de qualidade no setor como a Lojas Renner”.

Entre abril e junho deste ano a varejista de moda trouxe sua receita líquida crescendo 0,8% na base anual, para R$ 1,6 bilhão. As vendas mesmas lojas do segmento vestuário ficou em 0,7%, apesar de o número consolidado ter ficado negativo em 2,2%, impactado pelos segmentos de fashiontronics e de beleza.

“A C&A vem colhendo frutos de estratégias adotadas nos últimos anos como Push & Pull e a precificação dinâmica que levou a margem bruta para patamares acima do ano de 2019”, acrescenta Lima.

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No Push & Pull, reposição é feita de acordo com a demanda de cada loja e levando em conta cada SKU (unidade de manutenção de estoque, na sigla em inglês) — incluindo tamanho e cor específicos. A empresa adotou o modelo em 2019, depois das Lojas Renner (LREN3), que o fez em 2012. Mas é agora, para o especialista, que a empresa vem colhendo frutos.

A C&A conseguiu, inclusive, aumentar sua margem bruta em 2,2 pontos percentuais na base anual nesse segundo trimestre, para 53,5%. Para fins de comparação, a mesma Renner viu sua margem bruta recuar de 56,1% no ano passado para 53,9% neste.

Já a precificação dinâmica usa a tecnologia para aumentar ou diminuir preços de determinadas peças.

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“De alguns trimestres para cá, o mercado começou a olhar realmente para o negócio atual da companhia”, explica Caroline Sanchez, analista da Levante Corp. “A C&A vem surpreendendo positivamente do lado operacional, cortando custos e melhorando sua gestão de dívidas. Os investimentos em tecnologia deles justificaram muito os gastos nesse sentido. Avançaram muito em termos de sortimento adequado para cada loja, por exemplo”.

Se há até um tempo muitos investidores tinham a C&A em suas carteiras de olho no potencial de M&A (fusões e aquisições, na sigla em inglês) – rumores envolvendo uma compra pela própria Renner chegou a circular algumas vezes no mercado – hoje, para ambos especialistas, gestores estão de olho na companhia e na sua capacidade operacional.

“A gente consegue ver, de fato, a empresa respondendo aos estímulos, aos investimentos que ela fez nos últimos anos, e mostrando que eles foram bem acertados”, avalia Sanchez.

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Apesar dos gastos com tecnologia, os analistas destacam, no entanto, que a C&A trouxe uma disciplina enorme de caixa e de capital. A empresa fechou junho último com 333 lojas, sendo que no mesmo mês do ano passado eram 329. Isso tem sido importante para os resultados da companhia.

Por fim, Sanchez explica que a C&A é uma empresa menor do que seus pares “Diferentemente de empresas maiores, como Renner e Arezzo, a C&A é menos consolidada. Essas outras têm espaço para crescer? Tem, mas não tanto quanto a C&A”, fala.

Vitorio Galindo, head de análise fundamentalista da Quantzed, por fim, menciona o fato de a C&A estar gerando caixa e se desalavancando. A dívida líquida da empresa fechou o segundo trimestre em R$ 749,7 milhões, contra R$ 1,2 bilhão em 2022. A alavancagem, medida pela relação entre dívida e Ebitda, ficou em 1,3, contra 4,2 um ano antes.

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Os analistas lembram que parte da melhora do caixa vem, inclusive, do operacional, com a varejista de moda reduzindo seu capital de giro através do aumento do prazo do seu pagamento a fornecedores e redução do recebimento dos clientes.

Em entrevista ao InfoMoney, Paulo Correa, diretor executivo (CEO) da empresa, foi no mesmo caminho dos analistas, mencionando a busca da empresa em melhorar sua eficiência operacional, cortando custos, e melhora a gestão da dívida.

“Nenhuma linha de despesa passou ‘lisa’. Não foi uma fórmula mágica, uma ‘bala de prata’. Foi olhar pedaço por pedaço da companhia para encontrar um caminho”, falou Paulo Correa. ““A gente está em uma jornada em que o principal vilão é o endividamento. Embora tenhamos uma dívida saudável e uma alavancagem controlada, o custo do endividamento é alto”.

Por enquanto, o sell-side, após a alta, está um pouco mais cauteloso com as ações da C&A. De acordo com a Refinitiv, hoje a empresa tem uma recomendação de compra, cinco neutras e uma de venda. O preço-alvo fica em R$ 4,10, 36,7% abaixo do preço do fechamento de ontem.

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