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*Atualizada às 12h20 (horário de Brasília) do dia 21 de novembro de 2023
Já no seu primeiro dia como presidente eleito, Javier Milei – que ganhou as eleições da Argentina com 55,7% dos votos, contra 44,3% de Sergio Massa -, movimentou o mercado de ações, ainda que seja feriado no país. Os ADRs (American Depositary Receipts) da estatal de petróleo YPF chegam a disparar em Nova York mais de 30% com as falas do presidente eleito sobre privatização, enquanto outros ativos também sobem forte no mercado acionário.
Já o chamado “cripto dólar”, stablecoin que reflete a moeda americana em pesos argentinos, mostrada forte valorização do dólar, com a moeda chegando a 1.200 pesos, repercutindo a visão de Milei favorável à dolarização da economia.
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Mas, além das empresas e do câmbio argentinos, analistas também monitoram o impacto da eleição de Milei para as companhias de outras nacionalidades que têm exposição ao país.
Em relatório, o Bradesco BBI destacou algumas delas, com destaque para as brasileiras (e foco no efeito da desvalorização do câmbio nas empresas).
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Os analistas da casa lembram que o Banco do Brasil (BBAS3) tem exposição na Argentina por meio de sua subsidiária internacional Banco Patagonia S.A., na qual detém 80,39% de participação. “É importante ressaltar que o Banco Patagonia contribui para a receita líquida de juros do Banco do Brasil (7,2% no 3T23) e uma potencial desvalorização cambial em caso de potencial dolarização da economia poderia impactar o resultado do banco”, aponta a equipe de análise.
Embora os analistas reconheçam que as suas expectativas para 2024 já incorporam contribuições mais baixas dos ganhos de Tesouraria e do Banco Patagonia, também veem que é cedo para avaliar a dimensão do impacto total.
Em relação à rentabilidade e ao balanço do Banco Patagonia, a partir do 3T23, o Patagonia reportou receita líquida de juros de R$ 1,7 bilhão (7,2% do valor do Banco do Brasil no trimestre), com R$ 26,9 bilhões de ativos (1,2% do Banco do Brasil), R$ 6,0 bilhões de empréstimos (0,6% do Banco do Brasil), R$ 19,4 bilhões de depósitos (1,9% do Banco do Brasil) e R$ 4,1 bilhões de patrimônio líquido (2,4% do Banco do Brasil).
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Cabe destacar que, no fim de agosto, o Itaú (ITUB4) vendeu Itaú Argentina para banco Macro por R$ 250 milhões, com um impacto negativo de R$ 1,2 bilhão.
Já para as empresas de transporte e bens de capital, no universo de cobertura do BBI, Mahle Metal Leve (LEVE3) e Marcopolo (POMO4) são as empresas com maior exposição à Argentina.
“Esperamos que o cenário de desvalorização cambial atinja os resultados e margens da Mahle Metal Leve. No caso da Marcopolo, a empresa tem aumentado consistentemente a rentabilidade de sua carteira de pedidos e os contratos são denominados em dólares, o que deve limitar o impacto às transações”, avalia. O BBI tem recomendação equivalente à venda (underperform, ou desempenho abaixo da média do mercado) para LEVE3 e neutra para Marcopolo.
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Já as companhias aéreas têm exposição a voos internacionais para a Argentina e não a operações domésticas. Portanto, esses bilhetes também são denominados em dólares americanos, sendo a maior parte do tráfego originado na Argentina. A desvalorização cambial poderia aumentar a demanda turística internacional do Brasil e de outros países para a Argentina, cita o banco. Operadoras de turismo como CVC (CVCB3), Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4) estão entre as companhias destes segmentos.
Em meados do ano, o Morgan Stanley também destacou algumas varejistas listadas no Brasil ou que também possuem forte exposição ao mercado doméstico e como isso impacta seus números, como Natura&Co (NTCO3) e Mercado Livre (MELI34), esta última Argentina mas com grandes operações por aqui.
Para Natura, a Argentina respondeu por 8% da receita do grupo em 2022, apontou o Morgan, ou cerca de 9% excluindo a Aesop. A Natura não divulga o impacto do IAS 29 (norma que define a contabilização em economias hiperinflacionárias) nos resultados operacionais, enquanto eles relataram um impacto no resultado financeiro líquido, de cerca de R$ 190 milhões negativos em 2022 e de R$ 30 milhões negativos em 2021.
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Para Mercado Livre, o Bradesco BBI aponta que, desde os resultados do 2T23, a empresa publicou sua própria análise de sensibilidade para a desvalorização do peso e vê um impacto negativo de aproximadamente 15-20% no Ebit (lucro antes de juros e impostos), mas “praticamente nenhum impacto no lucro por ação”.
“Existe um efeito secundário, com uma questão sobre quais serão os impactos no comportamento de consumo do país, que é muito difícil de prever com precisão nesta fase. De qualquer forma, isso ajuda a reforçar as nossas opiniões fundamentais positivas sobre a companhia, independentemente deste evento”, apontam os analistas.
Agronegócio, distribuição de combustíveis e alimentos
O BTG Pactual destacou também o impacto em três setores com ações na B3 e expostas à Argentina: agronegócio, distribuição de combustíveis e alimentos, com foco no possível aumento da desvalorização cambial com a eleição de Milei.
Segundo os analistas do banco, desde 2019, o aumento da inflação local na Argentina não se refletiu totalmente na desvalorização da moeda local. Como resultado, os preços mais elevados com base na inflação local estão sendo convertidos nas moedas de divulgação dos balanços (real, peso chileno ou dólar) utilizando uma conversão de moeda oficial mais forte, resultando em um aumento significativo nas receitas e na contribuição do Ebitda (ou lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações).
No caso da Ambev (ABEV3), sua divisão LAS (América Latina Sul) cresceu de 17% do Ebitda total em 2014 para 25% no ano passado, ou mais da metade do crescimento do Ebitda da Ambev no período (embora este ano deva responder por cerca de 21% do total).
“Acreditamos que a Argentina representa atualmente cerca de 60% do Ebitda da LAS. Caso o peso argentino oficial convirja com o dólar azul, estimamos um impacto de 7% no Ebitda consolidado esperado para 2023 da Ambev”, avaliam.
Os analistas do BTG observam também que esta análise ignora o impacto potencial nas margens, dado que os insumos teriam sido adquiridos a uma taxa de câmbio que provavelmente se desvalorizou mais em linha com a inflação local e, eventualmente, com os volumes, caso o ambiente econômico se deteriore. “A decisão da Ambev de reduzir seus hedges no país, embora até agora acertada do ponto de vista de lucros e geração de fluxo de caixa, também significaria que o impacto de uma eventual desvalorização cambial seria sentido mais cedo do que poderia ter sido”, aponta.
A Raízen (RAIZ4), assim como no caso da Ambev, divulgou seus números no segmento de distribuição da Argentina com números contábeis mais fortes devido ao peso inflacionado artificialmente.
“Também apresentamos nosso cálculo do impacto potencial com base em um novo câmbio que se alinhe com a ‘taxa do dólar blue’. Embora este efeito por si só possa resultar numa queda de 7% no Ebitda consolidado, é importante notar que isto não leva em consideração uma nova política de preços de combustíveis que poderia ser introduzida pelo novo governo”, avalia.
O banco lembra que os preços dos combustíveis na Argentina são regulados pelo governo e já há algum tempo estão abaixo do preço da paridade de importação. “Assim, assumindo que o desconto versus a paridade de importação seja totalmente eliminada, o impacto líquido poderá, em última análise, ser positivo para as suas margens de refino”, avalia.
Já no caso da Minerva (BEEF3), o banco lembra que acabar com as restrições à exportação poderia permitir que a carne bovina da Argentina alcançasse seu potencial.
A empresa possui atualmente 17% de sua capacidade de abate de bovinos na Argentina (ou 14% após a incorporação dos ativos da Marfrig na América Latina).
“Contudo, nos trimestres recentes, os volumes de abate e de vendas no país foram deliberadamente reduzidos, possivelmente devido à crescente complexidade que envolve a maximização do valor da carne bovina num contexto de crescentes controles de exportação e fixação de preços no mercado interno”, aponta.
Desde 2005, restrições à exportação de carne bovina foram impostas e removidas na Argentina com bastante frequência, o que limitou o incentivo financeiro para os agricultores continuarem investindo no negócio, afirma. Como resultado, o rebanho bovino da Argentina está estagnado há pelo menos 20 anos.
“Qualquer governo que permita a livre circulação dos preços também ajudaria a recuperar a tradição de longa data e a competitividade de custos da Argentina na produção e exportação de carne bovina. A Minerva, que ainda tem muita capacidade ociosa no país, naturalmente se beneficiaria com isso”, afirma.
Outras empresas
Entre outras empresas, o BBI destaca a Arcos Dorados, principal franqueadora do McDonald’s na América Latina.
No ano fiscal de 2022, a Arcos Dorados informou que cerca de 15% das receitas consolidadas derivaram de suas lojas localizadas na Argentina.
A empresa possui cerca de 600 restaurantes na divisão SLAD (América Latina Sul), e a Argentina é o principal país nesta unidade de negócios.
Porém, como a empresa aloca custos indiretos consideráveis, já que uma das principais sedes da Arcos está localizada em Buenos Aires, a exposição no Ebit e no lucro líquido é menor (abaixo de 10%).
“Em nosso modelo mais recente, atualizado em 16 de novembro após os resultados do 3T23, temos uma premissa de câmbio de 490 pesos argentinos por dólar até o final do ano de 2023 e 900 até o final do ano de 2024. Em suma, a desvalorização do peso argentino (ARS) deverá impactar negativamente os resultados consolidados da Arcos Dorados, principalmente no nível de receita, e gradualmente reduzido no Ebitda (menos de 10%) dados os custos denominados em pesos”, avalia o Morgan.
Já para a chilena Cencosud, o BBI aponta que a companhia possui 275 supermercados e 57 lojas de materiais de construção localizadas na Argentina, que representam quase 25% das lojas consolidadas da empresa.
No entanto, a exposição em receitas líquidas é menor, cerca de 18%, considerando as menores receitas por metro quadrado convertidas em peso chileno (CLP).
As operações do Censosud na Argentina apresentam margens elevadas e também impacto para o Ebitda consolidado, uma vez que a Argentina é responsável por mais de 30% do total. “No geral, vemos um impacto negativo na Cencosud dada a considerável contribuição para o Ebitda consolidado”, afirma.
Do ponto de vista mais macro, para o Bradesco BBI, a vitória mais ampla do que o esperado (por uma diferença de mais de 11 pontos) de Milei pode levar a um período de maior lua-de-mel, embora esteja claro que “muitos dos votos são ‘emprestados’, uma vez que foram capturados com sucesso pela aliança com Juntos por el cambio (Mauricio Macri e Patricia Bullrich)”.
O BBI destacou que Milei deveria implementar o ajuste fiscal de forma abrupta.
“Em relação à governabilidade, o novo presidente sabe que não pode apostar que ganhará apoio do Congresso no futuro e por isso deve aproveitar a lua de mel para apresentar uma agenda legislativa que tenha o perfil de La Libertad Avanza, mas também o perfil da coalizão Juntos por el Cambio (JxC). As reformas mais emblemáticas precisarão do apoio de pelo menos uma maioria simples no Congresso, e é por isso que manter um discurso moderado e um bom relacionamento com Macri e Bullrich será fundamental para avançar na esfera política”, afirmam os estrategistas do banco.
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