Ambev (ABEV3): analistas projetam balanço do 2º tri, mas risco Argentina e possível fim do JCP que estão no radar do mercado

Analistas esperam redução de custos nas operações brasileiras, mas questões não operacionais podem compensar momento operacional positivo

Felipe Moreira

(Divulgação/Ambev)
(Divulgação/Ambev)

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A Ambev (ABEV3) vai divulgar seus resultados referente ao segundo trimestre de 2023 (2T23), no dia 3 de agosto, antes da abertura do mercado. De acordo com os analistas, a expectativa é que o volume de vendas de cerveja no Brasil, que chegou a ser um destaque nos últimos trimestre, tenha menos brilho com uma base de comparação difícil, enquanto os custos de commodities e fatores não operacionais estarão no radar dos investidores.

Vale lembrar que as ações da Ambev tiveram um desempenho inferior ao Ibovespa em 5 pontos percentuais no acumulado do ano (avanço de cerca de 2% de ABEV3 ante alta de 7% do Ibovespa) , devido a “preocupações sobre uma possível reforma tributária que acabaria com os benefícios do juros sobre capital próprio (JCP), enquanto as preocupações com a desvalorização da moeda na Argentina (país responsável por aproximadamente 10% de sua receita total) também podem ter pesado sobre o nome”, comenta Bradesco BBI, em relatório.

A equipe de research do BBI também pontua que essas preocupações já estão precificadas nas ações e espera que elas tenham melhor desempenho, pois as margens da companhia devem se expandir acima do consenso nos próximos anos. Isso graças ao benefício da queda dos custos dos insumos (custos menores de alumínio, trigo, milho), enquanto os preços da cerveja estão historicamente resilientes.

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Em termos de rentabilidade, o Bradesco BBI reduziu suas estimativas para o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da Ambev em apenas 1% neste ano, mas aumentou a projeção do Ebitda em 1% para 2024 (resultando em um número 6% acima do consenso), pois projeta uma redução do custo produto vendido (CPV)/ hectolitro em 7% contra alta prevista de 4% anteriormente, devido à forte queda dos preços das commodities em reais (que são responsáveis por uma parcela relevante dos custos da Ambev) nos últimos meses.

Para o 2T23, o BBI projeta um Ebitda 6% abaixo do consenso, portanto, os resultados podem ser lidos como ligeiramente negativos para as ações, já que prevê uma contração de margem mais forte no trimestre para a divisão América Latina Sul da Ambev (que inclui a Argentina, um país que enfrenta desafios macroeconômicos) e para seu segmento brasileiro de bebidas não carbonatadas. Diante disso, o banco acredita que os volumes de cerveja brasileira (um fator-chave para a ação) caindo 1% na comparação anual no 2T23 (forte base de comparação) está amplamente em linha com as expectativas do mercado.

A XP espera um 2T23 misto para a AmBev, em uma base de comparação difícil levando a uma visão neutra sobre os números. As iniciativas de gestão de receita devem continuar a sustentar nossa percepção positiva, levando a uma sólida tendência positiva para a receita operacional líquida (ROL) por hectolitro (hl) no Brasil, enquanto uma redução no custo das mercadorias vendidas (COGS) é uma mudança de cenário bem-vinda.

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No entanto, a casa também aponta que o volume deve decepcionar (Cerveja Brasil em queda de 2% na base anual). Os analistas da XP veem um posicionamento errático da marca que pode prejudicar as melhorias de margem.

“As perspectivas internacionais são mistas, com uma melhora sazonal no Canadá e CAC (América Central e Caribe) voltando aos trilhos, mas LAS (América Latina do Sul) não deixa de decepcionar, com condições melhores no Chile, Bolívia e Paraguai, mas ainda com perspectivas difíceis na Argentina. Apesar da ainda tímida recuperação de margem no 2T23, os analistas esperam que a tendência seja de aceleração nos próximos trimestres.

O JPMorgan também espera que a Ambev publique “resultados mistos” no segundo trimestre, com o volume de cerveja no Brasil diminuindo 2% em relação ao ano anterior, devido a comparações difíceis, mas prevê um crescimento de 286 pontos-base da margem Ebitda, explicada por preços médios 14% mais altos e uma expansão suavizada do custo de produtos vendidos.

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Em termos consolidados, o banco americano prevê receita de R$ 19,7 bilhões (+10%), Ebitda de R$ 5,280 bilhões (+14%, -1,5% em relação ao consenso do Bloomberg) e lucro líquido de R$ 2,840 bilhões (+62%, +8% em relação ao consenso do BBG).

O JPMorgan também projeta resultados desafiadores e mistos nas divisões fora do Brasil, com América Central e Caribe (CAC, na sigla em inglês) e Canadá sendo os destaques negativos, apesar de melhorias sequenciais.

Já o Bank Of America afirma que o segundo trimestre foi bom para as cervejeiras. “Os preços estão subindo em geral, principalmente no canal off-trade (pontos de venda como supermercados, hipermercados e lojas de varejo em geral), enquanto os custos (para impactar principalmente os resultados de 2024) estão diminuindo com o real mais forte e os custos de alumínio mais baixos”, comentam analistas.

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Além disso, o BofA destacou que a valorização do real e os baixos preços do alumínio estão levando a uma queda substancial nos custos a serem incorporados à base de custos de 2024. O índice de custos em reais agora é 16% menor em relação ao ano anterior. “Essa deflação de custos deve apoiar a expansão da margem para as cervejarias em um ambiente de preços superando a inflação geral.”

O Itaú BBA mantém uma visão cautelosa sobre a ação, uma vez que questões não operacionais compensam o momento operacional positivo. Analistas esperam que a divisão de Cerveja no Brasil se beneficie de ventos favoráveis relacionados aos preços favoráveis do alumínio, milho e cevada, bem como à valorização do real no 2º semestre de 2023 e em 2024.

Apesar do momento operacional favorável na principal operação da Ambev, o BBA reitera uma postura neutra em relação à ação devido à falta de visibilidade sobre temas relevantes que poderiam ter um impacto significativo no valuation da empresa, incluindo: i) a potencial reforma tributária e fim de benefícios fiscais de juros sobre capital próprio; ii) passivos fora do balanço; e iii) hiperinflação na Argentina.

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O Morgan Stanley, na mesma linha, mantém recomendação underweight (exposição abaixo da média do mercado, equivalente à venda) para Ambev. Para os analistas, menor crescimento da receita, riscos na Argentina, possível fim dos benefícios de JCP/fiscais e valuation pouco descontado reforçam essa avaliação.

A Ambev teve um desempenho de receita acima do esperado em 2022 tanto em receita/hl quanto em volumes, avalia, algo que o Morgan vê como mais difícil de executar em 2023 devido a um cenário macro mais difícil no Brasil e competição mais intensa da Heineken e sua nova capacidade, entre outros.

O BBI vê a negociação das ações a um atraente Preço/Lucro em 2024 de 13 vezes, abaixo da média histórica de 21 vezes, apoiando assim a recomendação de compra e preço-alvo de R$ 21. O JPMorgan também reiterou classificação overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra) e preço-alvo de R$ 16,50, pois projeta margens melhores e sólida recuperação dos lucros no próximo ano. A XP também recomenda compra para as ações ABEV3, com preço-alvo de R$ 18,70 (upside de 26%).

Já o BofA manteve recomendação neutra, pois acredita que a expansão da margem no Brasil está para acontecer, mas o sentimento do investidor é parcialmente prejudicado pelas questões sobre a reforma tributária no Brasil. O BBA também reiterou avaliação equivalente à neutro e preço-alvo de R$ 17.

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