A maxidesvalorização do real que fez o Ibovespa saltar 33,4% em um dia e tornou famoso o fundo Verde, de Stuhlberger

Em janeiro de 1999 o governo brasileiro não conseguiu mais aguentar a pressão e teve que mudar o regime cambial brasileiro, que passou a ser flutuante

Anderson Figo

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SÃO PAULO — O começo do ano de 1999 foi marcado por um período que ficou conhecido como a maxidesvalorização do real. A âncora cambial com o governo controlando o valor do real em relação ao dólar desde o lançamento da moeda brasileira, em 1994, ficou insustentável.

Isso forçou uma mudança no regime cambial nacional, com o fim do regime de bandas para câmbio flutuante, o que fez com que o Banco Central fosse obrigado a negociar dólares no mercado futuro, aumentando a quantidade de moeda americana nos nossos cofres e contribuindo para a queda do valor das ações da Bolsa de Valores.

Por isso, nos dias 13 e 14 de janeiro de 1999, a B3 precisou interromper suas atividades, realizando dois circuit breakers. No dia 13, o Ibovespa caiu 5,04%. No dia 14, a baixa foi de 9,97%. Já no dia 15, quando a cotação do real em relação ao dólar pôde finalmente correr livremente, houve uma forte correção do Ibovespa, e o índice disparou 33,40%.

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A maxidesvalorização do real em 1999 é o tema do quarto episódio de Os Pregões que Fizeram História. É possível seguir e escutar o programa pelo SpotifyGoogle PodcastsSpreakerDeezerApple Podcats (iTunes)Castbox e Podchaser. Se preferir, faça o download do episódio clicando aqui.

“Começou a ficar claro que ia ser muito difícil manter a âncora cambial. Digo isso por que? Se o real era US$ 1 em 1994 quando ele foi criado, quando a gente chegou no fim de 1998, a inflação brasileira de agosto de 1994 até dezembro de 1998 foi cerca de 60%. Como a inflação americana tinha sido nesse período de 10%, o real, só por essa conta, se apreciou 45%, o que é bastante, simplesmente pela diferença entre a inflação brasileira e a americana”, disse Luis Stuhlberger, CEO e CIO da Verde Asset Management.

“Para piorar, as commodities estavam em baixa, os terms of trade estavam abaixo do normal, o azar que o Fernando Henrique teve foi a sorte que o Lula teve, de petróleo a US$ 150, minério de ferro a US$ 150. Com esse passado, ficou claro que alguma coisa tinha que ser feita, ninguém sabia se era uma desvalorização controlada [do real] ou não”, completou. O gestor tornou seu fundo Verde no mais famoso do mercado justamente por ter conseguido um retorno de mais de 100% com a maxidesvalorização do real em 1999, a qual ele previa que teria que acontecer mais cedo ou mais tarde.

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“Em janeiro de 1999, o fundo deu 66% de retorno. Mas é curioso que no dia da disparada da Bolsa, o fundo só deu 1,7%”, disse Luiz Parreiras, gestor da estratégia multimercado e previdência da Verde. Eles explicaram como se prepararam para a maxi e fizeram um paralelo sobre o cenário cambial em 2020, quando  dólar chegou perto de R$ 6. Ouça o podcast acima.

Sobre o podcast

Os Pregões que Fizeram História é o novo podcast do InfoMoney e conta bastidores de dias emblemáticos para os mercados, seja por uma queda drástica ou por uma disparada, através da voz de quem estava lá — ou de quem entende muito do assunto. Ele vai ao ar toda semana, sempre às sextas-feiras.

O Plano Collor e o congelamento da poupança em 1990, a mudança para câmbio flutuante e a maxidesvalorização do real em 1999, o investment grade do Brasil em 2008, a crise do subprime naquele mesmo ano que colapsou os mercados do mundo inteiro, o Joesley Day e a delação dos irmãos Batista em 2017. Esses e muitos outros momentos marcantes para a Bolsa brasileira estarão na série.

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Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.