SÃO PAULO – Considerado um “não-evento” por muitos economistas por ter sido a última reunião com Alexandre Tombini como presidente do Banco Central, o Copom (Comitê de Política Monetária) manteve a taxa de juros para 14,25% ao ano por unanimidade. O Banco Central repetiu o comunicado da reunião anterior, que terminou em 27 de abril. Nele, a instituição “reconhece os avanços na política de combate à inflação”, embora chame a atenção para o seu nível ainda elevado do custo de vida e para as expectativas distantes da meta.
Mesmo mantendo o comunicado, os economistas já passaram a rever as suas opiniões sobre quando será o corte de juros, agora com o BC sendo comandado pelo economista Ilan Goldfajn, que terá que lidar com variáveis como a recessão econômica e a inflação, que antes estava mostrando sinais de arrefecimento, voltando a registrar sinais de resiliência.
E, de acordo com a Folha de S. Paulo, apesar da inflação ter mostrado aceleração em maio, o governo interino de Michel Temer avalia que a queda do dólar e a credibilidade da equipe econômica garantem espaço para redução da taxa básica. O governo conta com desaceleração da inflação até fim do ano e também acredita que o dólar pode recuar um pouco mais. De acordo com a publicação, a estimativa inicial era de um corte em julho, mas inflação ainda elevada pode adiar para agosto.
E esta revisão foi feita por diversas casas de análise, como foi o caso do Bradesco e Goldman Sachs, entre outros. Conforme destaca, Luiz Eduardo Portella, sócio-gestor da Modal Asset, o comunicado do Copom repetindo o anterior, que acompanhou decisão de Selic estável em 14,25%, “passa a mesma mensagem de que juro não cai na próxima reunião”. Com isso, o “mercado vai descartar corte em julho e empurrar essa possibilidade mais para frente; ficará a dúvida sobre agosto”.
O Bradesco adiou a sua projeção do início de corte da Selic este ano, passando de julho para agosto. Desta forma, na avaliação da instituição, a taxa vai terminar o ano em 12,75%, não mais 12,25% como esperado anteriormente. “Desse modo, e levando em conta os riscos para a inflação no curto prazo (em especial, atrelados aos possíveis efeitos do clima sobre os preços dos alimentos in natura), alteramos nossa expectativa de redução da taxa Selic, de julho para agosto”, destacou o Bradesco em relatório.
Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs, também destacou que o BC deve iniciar corte da taxa na reunião de 31 de agosto com corte de 50 pbs, com inflação moderada em meio à contração da economia. Os novos cortes de 50 pbs devem acontecer em outubro e novembro, segundo a previsão do banco. O ciclo de corte da taxa deve se estender até 2017, com novas reduções de 200 pbs, levando a Selic para 10,75% no fim de 2017, afirma ele. O Santander também manteve a previsão de início de cortes da Selic em agosto, prevendo a taxa em 12,75% no final do ano.
Já para a Capital Economics, o retorno lento da inflação para tendência de baixa, a situação política frágil e o provável desejo de Goldfajn em demonstrar suas credenciais de combate à inflação são pontos que devem levar o início do corte da Selic a ocorrer somente em outubro. Os mercados, em contraste, estão precificando 50% de chance de que o primeiro corte da Selic ocorra no encontro do próximo mês. Então, o foco agora é o tom do BC liderado por Ilan.
“Os sinais iniciais não sugerem mudança grande no futuro próximo; em sua sabatina no Senado, Goldfajn disse que inflação mais baixa era um pré-requisito para qualquer recuperação econômica e que, ainda que ele prefira ver juros mais baixo e isso só pode ocorrer se as condições econômicas permitirem”, afirma a Capital Economics.
O Bank of America Merrill Lynch destaca que o foco agora é o Relatório Trimestral de Inflação que será divulgado no final do mês para buscar indicações sobre a possibilidade de início do ciclo de afrouxamento monetário. “O nosso cenário base é de cortes, começando somente em outubro”, afirmam os economistas do banco americano. Para eles, a Selic terminará o ano em 13,25%.
Sem espaço para cortes
Já o banco Credit Suisse afirmou, por sua vez, não ver espaço para o corte de juro no Brasil no horizonte. “Nós mantemos a nossa visão de que a probabilidade de início do afrouxamento monetário na próxima reunião é baixa”, destacam.
O relatório cita entre os fatores que impedem o alívio monetário alguns fatores, dentre eles a questão do IPCA ter se mantido muito alto por vários anos e o BC “ter sido incapaz de assegurar a convergência da inflação para a meta há anos”. Os economistas do banco esperam que a inflação permaneça acima do limite superior da meta de inflação ao longo de 2016 e, provavelmente, na maior parte de 2017.
Além disso, o banco afirma que o País pode apresentar déficit primário mais uma vez em 2017. “A menos que o Congresso aprove medidas duras para reduzir este desequilíbio fiscal no curto prazo, é muito provável que o Brasil continue registrando déficit primário significativo e uma crescente relação dívida bruta/PIB até 2018-2019”. Os economistas reforçam ainda que, se o governo não implementar fortes medidas de consolidação fiscal, o aumento do déficit fiscal poderia causar renovada deterioração do balanço de riscos para a inflação.
(Com Bloomberg)