5 ações sobem ao menos 60% e 7 papéis caem mais de 20%: as maiores altas e baixas do Ibovespa no 1º semestre (e o que esperar)

Azul e Yduqs foram os grandes destaques de alta do Ibovespa na primeira metade do ano, com avanço acima de 90%, enquanto Alpargatas caiu 38%

Lara Rizério Mitchel Diniz

(alexsl/Getty Images)

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Ainda que fechando a sessão desta sexta-feira (30) em baixa, o Ibovespa fechou o mês de junho e o semestre com ganhos expressivos de 9,17% e 7,61%, respectivamente, com uma visão de redução dos riscos fiscais e expectativa pelo início do ciclo de corte de juros pelo Banco Central no segundo semestre.

Na primeira metade deste ano, cinco ações tiveram ganhos acima de 60%. Foram elas: Azul (AZUL4), Yduqs (YDUQ3), Gol (GOLL4), IRB (IRBR3) e Cyrela (CYRE3). Em junho, Gol, Yduqs, Azul, Assaí (ASAI3) e Braskem (BRKM5) despontaram entre as maiores altas, com ganhos respectivos de 58,29%, 40,87%, 29,73%, 27,91% e 24,04%.

Na primeira metade do ano, sete ações tiveram baixa acima de 20%: Alpargatas (ALPA4), Méliuz (CASH3), Assaí (apesar de se recuperar em junho), Vale (VALE3), Carrefour (CRFB3), CVC (CVCB3) e Bradespar (BRAP4). Traremos análises mais detalhadas sobre as cinco primeiras, mas é válido destacar que CVCB3 passou por uma oferta de ações para adequar a estrutura de capital. Nos cálculos do JP Morgan, a CVC precisaria de aproximadamente R$ 1 bilhão para sanar seus problemas de estrutura de capital em meio a resultados ainda fracos. Já o desempenho da Bradespar está bastante atrelado ao de Vale e minério de ferro.

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Neste último mês, as cinco maiores baixas ficaram com Méliuz, Magazine Luiza (MGLU3), Alpargatas, Via (VIIA3) e Petz (PETZ3). As baixas foram de 12,25%, 11,32%, 10,92%, 9,66% e 9,24%, respectivamente, no último mês do semestre.

Confira os principais destaques de alta e de baixa no mês e no semestre do Ibovespa (e as projeções dos analistas para as ações):

Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4): saltos de 98,55% e de 79,43%

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Desde o quarto trimestre de 2022, as companhias vinham apresentando números operacionais apontando recuperação. Mas o valor dos papéis foi destravado com avanços nas negociações das dívidas bilionárias das empresas, principalmente com os arrendadores de aeronaves. O cenário de custos de Azul e Gol também melhorou, com a redução de 35% no preço do querosene de aviação e a desvalorização do dólar em relação ao real.

As negociações da dívida da Azul resultaram em uma redução de saída de caixa programada de R$ 5,4 bilhões nos próximos anos, de um total de R$ 26 bilhões. Assim, sua projeção, que era de queima de caixa de R$ 3 bilhões em 2023, agora está mais perto do breakeven (ponto de equilíbrio), com geração de caixa positiva já em 2024. Além disso, cerca de R$ 2,3 bilhões dos R$ 5,4 bilhões devidos aos arrendadores serão convertidos em título de vencimento em 2030 (taxa de juros de 7,5%), enquanto os R$ 3,2 bilhões restantes serão convertidos em patrimônio líquido no 3T24-4T27, implicando uma diluição de 17,5% para os acionistas.

A Gol concordou que a ABRA (atual controladora da Gol e da Avianca) faria um reperfilamento da dívida da empresa, substituindo parte dos títulos de 2024, 2025 e 2026 por um novo título conversível com vencimento em 2028 no valor de US$ 1,1 bilhão (que pode aumentar para US$ 1,4 bilhão) a uma taxa de juros de 18% (4,5% à vista e 13,5% capitalizados).

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O Itaú BBA avalia que os planos de reestruturação devem reduzir consideravelmente o risco de problemas de liquidez das companhias. A reestruturação significou uma extensão da duration do passivo das empresas e a conversão de parte dos direitos dos devedores em participação acionária, resultando em alguma diluição para os atuais acionistas.

Diante desses avanços, analistas de mercado têm revisado perspectivas para as aéreas brasileiras. O cenário, segundo eles, estaria mais otimista.

O Bradesco BBI mantém preferência para Azul, com recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra). A avaliação se baseia na maior liquidez de caixa em relação aos pares locais, à malha aérea diferenciada e a operação de novos slots no aeroporto de Congonhas.

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O Itaú BBA também atualizou os seus modelos para a Azul e para a Gol, com recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra) para a primeira e preço-alvo de R$ 28 e marketperform (desempenho em linha com a média do mercado, equivalente à neutra) para a segunda, com preço-alvo de R$ 9 para GOLL4 (upside de 16%).

Yduqs (YDUQ3): disparada de 94,89% no semestre

Resultados bastante positivas, uma sequência de elevação de recomendações, mas com um fim de semestre com um pouco mais de debates sobre até onde as ações da Yduqs podem ir.

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Em maio, a ação da companhia registrou um grande salto, muito por conta dos resultados considerados positivos. Além disso, as empresas do setor de educação têm se destacado recentemente na Bolsa com uma combinação de queda da curva de juros impulsionando as ações do setor de consumo doméstico.

Apesar dos grandes desafios macroeconômicos que as empresas do setor seguem enfrentando, o crescimento do ensino à distância  (EAD) e dos cursos de medicina permanece consistente, compensando a queda nos volumes do ensino presencial (campus). O ambiente de preços também mostra melhora, em meio a uma competição mais racional.

Isso, associado ainda às expectativas pela expansão do FIES (programa de financiamento estudantil do governo federal), tem levado a uma disparada de diversas ações do setor, especialmente para a companhia, que se destacou como a maior alta do mês. Além de ser o grande destaque da temporada de balanços do 1T23 no setor, a expectativa de que a empresa seja a grande vencedora relativa com um eventual FIES mais forte reforça a visão positiva para os ativos, mesmo após o rali.

Depois do rali, porém, há uma questão agora sobre até onde a ação pode ir. Na semana passada, o JPMorgan cortou a recomendação das ações para neutro três meses após ter elevado o papel para equivalente à compra, após um salto de quase 200% no período.

Analistas do banco comentam quem à medida que a economia melhora, faz sentido incorporar uma melhoria gradual nas margens dos campi em massa ao longo do tempo, alcançando 25% no longo prazo (em comparação com 20% anteriormente), em linha com os comentários da administração, ao mesmo tempo em que reduz as despesas com aluguel como porcentagem das receitas, com uma normalização de ocupação no longo prazo. No curto prazo, analistas também incorporam os efeitos dos cortes na taxa Selic.

No entanto, para eles, a melhora gradual das margens não é suficiente para gerar uma valorização significativa frente os níveis atuais.

O banco americano destaca ainda que o principal catalisador de valorização é o FIES, com potencial de adicionar R$ 5 por ação de emissão da Yduqs. Embora as atuais projeções não incluam nenhum impacto de uma possível reforma do FIES, analistas reconhecem que isso poderia ter um significado expressivo, adicionando 200 mil contratos incrementais, além de assumir efeitos de reparo de mercado devido à redução da concorrência por estudantes.

Por outro lado, também na última semana, o Bank of America elevou a sua recomendação para os papéis de neutra para compra.

De acordo com o banco americano, os principais motivos que o levaram a rever sua posição quanto à companhia de educação envolvem motivos operacionais, financeiros e de valuation.

Na primeira frente, a Yduqs deve se beneficiar de uma menor oferta na frente que atua. A empresa vem focando em segmentos premium, como medicina. Nesta área de estudos, por exemplo, o Ministério da Educação vem controlando o número de novas vagas, permitindo novos cursos apenas em regiões onde faltam profissionais.

O fato de que os alunos dos segmentos premium têm a renda mais protegida em momentos de crise também é um diferencial para o BofA.  ” A Yduqs se beneficia de uma tendência positiva dada a qualidade da base de estudantes capturada no ciclo passado com uma menor porcentagem de descontos”, falam os analistas. “Esperamos um impacto positivo disso tanto no PDA (provisão para contas duvidosas) quanto no capital de giro, que, junto com uma melhoria do ambiente macroeconômico, deve apoiar resultados sólidos e um desempenho ainda maior das ações”.

O BofA também destaca o resultado da empresa no primeiro trimestre. ” Vemos espaço para revisões ascendentes das estimativas de ganhos dado o forte ciclo de captação no primeiro trimestre e com uma melhor combinação de cursos premium e de ensino a distância, agora representando cerca de 60% da receita”, falam.

A empresa tem também, segundo os especialistas, uma posição de caixa sólida, de R$ 17 bilhões, que a permite lidar com sua agenda de dívidas nos próximos dois anos.

IRB Re (IRBR3): em recuperação, com ganhos de 68,80%

Ainda que com alguns tropeços e bastante volatilidade, as ações do IRB (Re) registraram uma primeira metade do ano de fortes ganhos.

Os últimos dias de abril foram bastante emblemáticos para esse movimento, com algumas notícias que representaram uma virada de página para a resseguradora.

Após ter saído do Ibovespa no início do ano, a companhia voltou a fazer parte do índice – na carteira que vigora entre maio e agosto – após ter ter realizado grupamento de ações no início deste ano.

Cabe ressaltar que a entrada de uma ação no Ibovespa, o benchmark da Bolsa brasileira, acaba por impactar positivamente a cotação por conta do aumento do interesse dos investidores nesses ativos, além do impacto do fluxo de fundos passivos.

O IRB também celebrou com o United States Justice Department (DOJ) um acordo denominado Non-Prosecution Agreement (NPA), tendo por objeto principal a informação inverídica de que o Berkshire Hathaway, do megainvestidor Warren Buffett, integraria a base acionária da companhia, divulgadas, em território americano, entre fevereiro e março de 2020.

O IRB acordou pagamento de US$ 5 milhões. O acordo não previa qualquer sanção pecuniária ou desembolso de outras quantias relativas aos fatos em apreço. Como resultado do acordo, o IRB continuará a cooperar com o DOJ para melhorar seus controles internos, governança e conformidade e estará sujeito a obrigações de monitoramento e relatórios periódicos por até 3 anos.

“Ouvimos investidores falando sobre vários ‘tamanhos de multas’ nos últimos seis meses, incluindo números superiores a 10 vezes o valor anunciado, então acreditamos que o acordo ajuda a reduzir um risco significativo de cauda”, apontaram os analistas do BTG Pactual na época.

Além disso, em suas divulgações de resultados – que são apresentadas à Susep mensalmente – a companhia tem apresentado lucros. O último balanço mensal foi o de abril, divulgado no último dia 22.

A companhia teve lucro líquido de R$ 6,1 milhões em abril, revertendo resultado negativo de R$ 92,7 milhões no mesmo mês de 2022. Com isso, o IRB acumulou nos primeiros quatro meses do ano lucro líquido de R$ 14,6 milhões, ante prejuízo de R$ 12,2 milhões em igual período de 2022.

O índice de sinistralidade ficou em 76,5%, de 103,1% um ano antes, enquanto os prêmios emitidos somaram R$ 412,4 milhões, de R$ 552,8 milhões em abril do ano passado.

Na visão de analistas do JPMorgan quando avaliou os números do mês, o valuation das ações do IRB precifica uma recuperação substancial da lucratividade, que não está refletida nos números de abril. Eles ressaltaram que o lucro líquido implica Retorno sobre o Patrimônio (ROE) de 4% e representa uma piora em relação à média de cerca de R$ 11 milhões por mês reportada no primeiro trimestre após o ajuste.

A equipe do banco norte-americano destacou que o principal impacto veio de resultados financeiros mais baixos, o que eles avaliam que é explicado pela valorização do real, prejudicando a alocação de 43% em dólares das reservas técnicas. “Se assim for, os resultados financeiros devem continuar sob pressão, uma vez que o real valorizou ainda mais em relação a abril”, afirmaram em relatório a clientes.

Em maio, o JPMorgan cortou a recomendação das ações para underweight (exposição abaixo da média do mercado, equivalente à venda) após a forte alta das ações no acumulado do ano. Apesar da recuperação das ações, analistas ainda mostram cautela com a ação, conforme compilação da Refinitiv com casas que cobrem o ativo: de seis casas, três possuem recomendação de manutenção e três de venda, com preço-alvo médio de R$ 30,33.

Cyrela (CYRE3): alta de 60,41%

O cenário de queda dos juros beneficiando as construtoras como um todo e a visão de resiliência dos números da Cyrela (CYRE3) fizeram com que a companhia aparecesse entre as maiores altas do Ibovespa na primeira metade deste ano.

Em relatório do último dia 20 de junho, quando as ações de Cyrela já haviam saltado 54% no acumulado do ano, o Goldman Sachs reforçou sua preferência pela ação entre as construtoras. Segundo os analistas, isso se deu  devido a um balanço robustos, fundamentos fortes, maior relação histórica entre a ação e a queda das taxas de juros e expectativas de melhora das vendas devido à queda esperada da Selic.

Nesta semana, o Santander também reiterou a recomendação de compra e elevou o preço-alvo para CYRE3 de R$ 21 para R$ 22,50, refletindo o balanço robusto da empresa e sua execução forte, com um alto nível de projetos de alta performance e níveis baixos de estoques.

Segundo os analistas do banco, a estratégia da Cyrela de fazer lançamentos de empreendimentos icônicos com níveis razoáveis de acessibilidade em bairros com oferta limitada de empreendimentos diferenciados deve seguir levando suas vendas a superar a dos pares, o que se reflete nos níveis saudáveis de estoque.

A compra de terrenos deixou de ser uma preocupação para os lançamentos de 2024, apontam os analistas, na medida em que a Cyrela já adquiriu 100% do banco de terrenos necessário para apoiar os lançamentos de aproximadamente R$ 6 bilhões.

Também houve sinalização da Cyrela que aquisições recentes de terrenos foram feitas em condições mais atrativas, com estudos de viabilidade indicando margens brutas de cerca de 34%.

Houve uma elevação da projeção de margem bruta para 2024 e 2025 em cerca de 0,5 ponto percentual, de forma também a incorporar os custos de construção em declínio.

Confira as 5 maiores altas do Ibovespa no semestre:

Empresa Ticker Preço Variação percentual
Azul AZUL4 R$ 21,86 +98,55%
Yduqs YDUQ3 R$ 19,82 +94,89%
Gol GOLL4 R$ 13,17 +79,43%
IRB IRBR3 R$ 43,55 +68,80%
Cyrela CYRE3 R$ 20,13 +60,41 %

Maiores quedas

Alpargatas (ALPA4): em queda de 38,33%

O cenário pode ser visto como positivo para as ações do setor de consumo em geral, mas algumas companhias ficaram para trás no primeiro semestre.

As ações da Alpargatas, dona da Havaianas, tiveram um semestre bastante negativo, após uma sequência de resultados bastante ruins e mudanças na gestão.

No começo do ano, na sessão após divulgar seus resultados do quarto trimestre de 2022, as ações desabaram 19%. Nas operações brasileiras, a Alpargatas enfrentou mais um trimestre de queda de volumes, impactada principalmente pelo baixo desempenho do canal de supermercados, o que corrobora com a tese do banco de um mercado interno saturado, levando a um crescimento limitado de volumes.

Enquanto isso, os mercados internacionais foram negativamente impactados pelo segmento dos EUA, devido a alterações na sua estratégia de mix de canais, afetando tanto os volumes como os preços.

Em abril, Roberto Funari, CEO da companhia, renunciou ao cargo. Ele ocupava a presidência do grupo há quatro anos. Logo depois, em teleconferência após a divulgação dos números do primeiro trimestre de 2023, também considerados fracos, a nova gestão da companhia buscou acalmar os investidores, destacando as estratégias iniciais da nova diretoria interina, mas sem abrir mão de reconhecer as dificuldades encontradas.

“As fundações operacionais da companhia e seus processos – seja previsão de demanda, seja de concatenação de produção, de gerenciamento de estoques, de devolução dos produtos ao mercado, ou de entrega ao mercado em tempo, na quantidade certa, do mix correto, dentro de um mercado dinâmico, em que há muitas mudanças ao longo dos trimestres, todo ano – se mostraram complexas e nós não estávamos preparados para tanta adição de complexidade na organização”, reconheceu o CEO interino, Luiz Ziegler, conselheiro indicado para o cargo.

Já no fim de maio, a Alpargatas fez um anúncio que chegou a impulsionar as ações. Os controladores sob a sociedade MS Alpa fizeram oferta pública voluntária para compra de até 32 milhões de ações da companhia de calçados, por R$ 10,50 por papel. A MS Alpa é controlada por Cambuhy Alpa Holding (22,7% do capital total) e por Alpa Fundo de Investimento em Ações (4,9%).

Na ocasião, a XP apontou o anúncio como positivo, mas manteve recomendação neutra para o papel, “uma vez que ainda esperamos que os resultados de curto prazo permaneçam pressionados pelo cenário macro atual e pelos ajustes estratégicos que estão em andamento na empresa”.

Méliuz (CASH3): baixa de 33,80% nos primeiros seis meses do ano

O primeiro semestre não foi positivo para as ações do Méliuz (CASH3), que tiveram que passar por uma operação de grupamento e depois desdobramento para permaneceram no Ibovespa, já que chegou a operar até maio abaixo da cotação de R$ 1.

O Méliuz tem apresentado prejuízos constantes e no mês passado divulgou que teve resultado negativo de R$ 5,4 milhões no 4º trimestre de 2022. Apesar do número indicar uma redução de 82% em relação ao prejuízo de R$ 29,7 milhões do mesmo intervalo de 2021, ainda não foi suficiente para animar o mercado.

Vale lembrar que a companhia anunciou em março a venda do Bankly para o BV. Sobre o tema, em junho, a companhia firmou um acordo de investimento definitivo para a operação.

Como resultado, o Memorando de Entendimento (MoU) evoluiu para um Contrato de Compra e Venda (SPA) sem alterações, o que significa que o BV pagará R$ 210 milhões para adquirir 100% do Bankly.

“A maior mudança é que, a partir de agora, o BV está autorizado a adquirir ações da CASH3 no mercado público (até 11,15%, totalizando 15% do capital da Méliuz). Embora essa etapa seja mais um passo necessário para a conclusão da operação sem alterar materialmente a probabilidade de concluir o acordo, consideramos qualquer potencial aquisição de ações da CASH3 pelo BV como um indicador chave de sua intenção de exercer a opção de compra. Como resultado, reiteramos nossa visão de que a operação está progredindo e o acordo é positivo para a empresa”, avaliou a XP.

Contudo, a recomendação da casa para os ativos segue neutra, em grande parte devido ao cenário macro desafiador que está afetando negativamente a principal linha de negócio (cashback) aliado à alocação de capital abaixo do ideal. “Paralelamente, as receitas de serviços financeiros devem seguir pressionadas até que a parceria com o BV decole. Por outro lado, não descartamos que o BV exerça sua opção de compra de ações CASH3”, avaliam os analistas da XP.

Assaí (ASAI3) e Carrefour (CRFB3): baixas de 29,09% e 23,36%

As empresas de supermercado/atacarejo Assaí e Carrefour registraram um semestre de fortes perdas, que têm sido alvo de análise pelo mercado.

O JPMorgan destacou em análise alguns dos possíveis motivos para o recuo do setor de atacarejo – que até pouco tempo era um dos favoritos dos investidores.

Em primeiro lugar, o principal índice de inflação brasileira tem registrado desaceleração. O avanço dos preços sempre foi um aliado dos atacarejos. A variação em si, normalmente, já impulsiona a receita e traz alguma margem de ganhos como por exemplo com valorização de produtos em estoque.

“A desaceleração da inflação de alimentos deve continuar prejudicando a receita até o final de 2023, com queda de faturamento e o crescimento das vendas mesmas lojas [SSS, na sigla em inglês]”, destacou o time do JP Morgan, encabeçado por Joseph Giordano.

Mas também há a maior competição no radar. De março de 2022 para março deste ano, o Carrefour aumentou o número de unidades do Atacadão de 252 para 346. O Assaí foi um pouco mais modesto, tirando 32 novas lojas do papel, chegando a 217. E o processo de mudança ainda continua, com os dois grupos ainda realizando conversões neste ano. De acordo com a pesquisa NIQ Ebit, foram mais de 400 novas lojas abertas no último ano.

“O mercado tornou-se mais competitivo no ano passado, com vários players abrindo uma quantidade considerável de lojas de atacarejo no período, colocando uma pressão extra na margem bruta, que se soma à menor alavancagem operacional”, fala o JP. “Há riscos significativos de queda das expectativas de consenso. Dados da Nielsen mostram que as vendas mesmas lojas do atacarejo para abril já estão em terreno negativo em São Paulo e no Rio de Janeiro, principais mercados do Brasil”.

O JPMorgan se mantém neutro para as ações do Carrefour e do Assaí. Já o Morgan Stanley mostrou-se mais otimista: entre as razões para manter a confiança, está, por exemplo, a possibilidade do atacarejo ganhar mercado nas vendas de alimentos.

De acordo com dados do setor e nas estimativas do banco, o atacarejo brasileiro hoje é responsável por 19% da venda de alimentos diretamente para consumidores (B2B) e 25% na venda para outros negócios (B2B).

“Do ponto de vista da estrutura de mercado, vemos ainda mais espaço para ganhos na penetração do modelo de cash & carry”, falam os analistas. “Ao analisar a penetração de formatos de desconto em outros mercados, vemos mais espaço. Dados do Euromonitor mostram que as empresas de cash & carry têm uma participação acima de 35% na Noruega, Dinamarca, Alemanha e Polônia, por exemplo”.

Sobre o Assaí, atenção ainda para uma importante movimentação nas últimas semanas. O grupo Casino vendeu, na semana passada, a participação restante de 11,7% que detinha no grupo. 

Segundo a Levante, embora uma nova redução de participação do Casino no Assaí fosse esperada para esse ano, a transação é positiva para a varejista, visto que deve melhorar a liquidez do ativo.

“Quanto à redução da influência do Casino na companhia, acreditamos que já esteja em grande parte precificado, principalmente devido ao fato de o grupo francês já não ser mais o controlador. Ainda assim, com a saída completa do Casino, o Assaí se tornará uma empresa com capital totalmente pulverizado, o que é aguardado com expectativa pelo mercado desde a primeira grande redução do Casino na empresa no ano passado”, aponta a casa de research. Em junho, as ações se recuperaram e tiveram alta, mas não evitaram a queda forte no semestre.

Vale (VALE3): desvalorização de 26,16%

Após um início de ano forte com as expectativas positivas pela reabertura da economia da China, as ações da Vale acabaram por registrar fortes perdas no semestre com dados mostrando que o gigante asiático ainda não se recuperou totalmente. Isso afetou o desempenho e também as projeções para o minério de ferro, ainda que haja um suporte por conta das expectativas de apoio da China com medidas de estímulo. 

Mas, além de China, a empresa também enfrenta desafios no seu lado operacional, conforme destacou Roberto Reis, sócio da Meraki Capital, em evento recente realizado pela XP para debater os rumos da ação. Reis destacou, por exemplo, que a mineradora frustrou nos últimos trimestres no quesito volume, por conta de desafios regulatórios e climáticos.

“Temos a pendência de alguns licenciamentos ali na região de Carajás e os próprios impactos de Brumadinho, que impõem limitações à companhia”, falou o gestor. “Além disso, na questão da qualidade, no primeiro trimestre o teor médio do minério de ferro ficou abaixo do índice de referência, o que foi visto com certa preocupação por investidores”.

Apesar de a produção ter aumentado no primeiro trimestre na base anual, tanto em minério (5,8%) quanto nas pelotas (20,1%), as vendas caíram por conta da dificuldade em embarcar, após restrições de carregamento no Sistema Norte. Os preços médios realizados, por fim, sugeriram que a mineradora não entregou muita qualidade nos seus produtos.

O gestor ainda pontuou as questões envolvendo o aumento de custos de produção, em grande parte puxado pela alta das próprias commodities. Apesar de vender um produto não manufaturado, a companhia também utiliza essas mercadorias em sua cadeia de produção – como no caso dos combustíveis usados no transporte do minério, por exemplo.

“Obviamente a Vale sofreu mais no que diz respeito ao aumento de custos do que com a produção caindo. Tem uma série de fatores aí e eu acho que não consigo achar que são transitórios”, mencionou.

A Vale tem enfrentado ainda, de acordo com ele, o que é descrito como “inflação geológica”: a empresa está retirando mais estéreo (rejeito) de suas minas, o que aumenta os custos de produção. Os acidentes de Brumadinho e Mariana, por outro lado, tornaram a obtenção de licenças algo mais difícil e, decorrentemente, mais custoso. “Pensa um fiscal que vai lá para provar uma licença da Vale. É ele que dá o nome dele ali. Então ele vai ser o responsável pelos próximos acidentes”, contextualiza. “Quando a gente soma tudo isso, começamos a ver um gargalo na produção da Vale maior”.

A própria mineradora, recentemente, diminuiu seu guidance de produção. Para 2026, o número saiu de 400 milhões para 360 milhões. A diminuição das perspectivas, bem como as recentes frustrações, são responsáveis, contudo, pela a Vale ter um valuation menor que seus pares. “A Vale terá de entregar um pouco mais para o mercado poder voltar a acreditar na tese. Para a empresa voltar a ter uma credibilidade maior e fechar esse gap”, apontou.

Porém, também há espaço para otimismo com a companhia. Em relatórios recentes, o Credit Suisse reforçou recomendação de compra, vendo potencial de longo prazo intacto para a companhia, enquanto o Morgan Stanley também reiterou sua visão positiva, mas de olho no valuation pouco esticado. 

Confira as maiores quedas do Ibovespa no semestre:

Empresa Ticker Preço Variação percentual
Alpargatas ALPA4 R$ 9,30 -38,33%
Méliuz CASH3 R$ 7,81 -33,80%
Assaí ASAI3 R$ 13,75 -29,09%
Vale VALE3 R$ 64,22 -26,16%
Carrefour Brasil CRFB3 R$ 11,20 -23,36%

*As ações de CVC, em sexto lugar, tiveram queda de 21,83% (R$ 3,51), enquanto BRAP4 teve baixa de 21,30%, a R$ 22,21.

(com informações da Reuters)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.