Sabe a cena clássica em que operadores da bolsa, com os olhos fixos nas telas dos computadores e de telefones nas mãos, realizam diversas operações? Em alguns aspectos, ela lembra bastante o dia a dia de quem opera com day trade. Nesse tipo de negociação, toda a atenção é pouca, já que as compras e as vendas dos ativos acontecem em um só dia.
Para quem quer entender melhor essas operações e pretende começar a fazê-las por conta própria, o InfoMoney preparou esse guia completo. Com ele, você vai entender a diferença entre esses e outros negócios comuns na bolsa de valores e saber onde buscar mais informação para operar com segurança.
O que é Day Trade?
O nome já indica: day trade é uma negociação, com os mesmos papéis, iniciada e encerrada no mesmo dia. Ela pode durar algumas horas ou até mesmo poucos minutos e, por isso, exige toda a atenção e dedicação do investidor.
É bastante comum que o day trade seja feito com ações, mas alguns investidores aplicam esse mesmo tipo de negociação com opções , contratos futuros ou criptomoedas.
Quem opera no day trade não está interessado em acompanhar o crescimento de uma empresa ao longo do tempo, ao se tornar sócio dela por ter comprado ações. Pelo contrário. O objetivo, na verdade, é lucrar com as movimentações diárias de cada papel. A volatilidade, nesse caso, é uma característica do mercado que o investidor procura aproveitar para obter ganhos.
É diferente de um outro tipo de estratégia mais comum no mercado, conhecida como swing trade, na qual o investidor realiza operações de curto ou médio prazos na bolsa. Por vezes, análises baseadas nas mesmas técnicas são usadas tanto para embasar decisões de day trade quanto de swing trade.
Enquanto um day trader está de olho na volatilidade diária dos papéis, um swing trader está mais atento às tendências de mercado de modo geral.
Quem pode fazer Day Trade
Em tese, qualquer investidor pode fazer uma operação de day trade. Na prática, no entanto, é preciso saber que essa modalidade demanda certos conhecimentos, um perfil de risco específico e um alto nível de comprometimento.
Para alguns especialistas, a dedicação de quem resolve operar como day trader precisa ser exclusiva, porque é necessário ficar atento – ao longo de todo o pregão da bolsa de valores – aos menores movimentos das ações. É aproveitando as melhores oportunidades para comprar e para vender os papéis que o investidor pode obter ganhos acima da média do mercado.
Por causa disso, o day trade costuma ser indicado para investidores que já tenham boa experiência no mercado e conhecimento sobre a dinâmica da renda variável. Como são operações muito rápidas, que podem envolver alavancagem (falaremos sobre isso mais adiante) e com alto potencial de ganho – mas também chances de frustração de expectativas – elas podem acabar demandando demais de quem ainda está começando.
O day trade é um tipo de operação tão específica que tem, inclusive, custos diferentes de outras modalidades de negociação. Tanto as taxas cobradas pelas corretoras de valores quanto o Imposto de Renda sobre o lucro são distintos dos negócios que duram mais tempo (você terá mais informações sobre isso neste guia).
Vantagens e riscos
Operações de curtíssimo prazo e de caráter especulativo como as do day trade envolvem uma certa dose de risco. O principal deles é o de que eventos inesperados ocorridos no meio do pregão – notícias sobre empresas, mudanças no governo ou até mesmo desastres naturais – acabem levando o mercado a se movimentar em direções opostas ao que era esperado.
Se o investidor comprou ações de uma companhia na expectativa de que elas subissem, mas durante o pregão elas acabaram caindo, o resultado é só um: perda. Esse risco é real e frequente para quem opera no curtíssimo prazo.
Outro risco é a possibilidade de o investidor se deixar levar pelas próprias emoções ou pela falta de disciplina e, por conta disso, acabar não realizando a estratégia que havia planejado inicialmente. A determinação ao estabelecer metas de ganho e limites para prejuízos é necessária, e não pode ser deixada em segundo plano.
Embora os riscos existam, também há algumas vantagens em realizar day trades. Uma delas é a agilidade, pois todo o lucro ou prejuízo que você obtiver com uma operação será apurado no mesmo dia. É preciso “zerar as operações” – ou seja, encerrá-las – sempre até o fim do pregão. Isso significa que, se por acaso, um negócio que você imaginou que seria lucrativo acabou gerando um prejuízo, ele estará limitado à perda verificada naquele mesmo dia. E fim.
Como uma consequência dessa característica, quem realiza operações de day trade normalmente não movimenta todo o valor nominal envolvido no negócio. Se no início do pregão comprou um lote de ações por R$ 1.000 e as vendeu, no fim do dia, por R$ 1.100, efetivamente receberá a diferença – no caso, um ganho – de R$ 100 na sua conta. Se, por outro lado, as cotações tiverem caído e a venda no final do dia tiver sido feita por R$ 900, precisará pagar R$ 100. Apenas os saldos são realmente movimentados.
Isso permite que sejam feitas operações com alavancagem, que é quando o investidor movimenta recursos superiores aos que ele efetivamente tem. Nesse caso, a corretora oferece um limite, como se fosse um “cheque especial”, mas sem a cobrança de juros.
Dessa forma, o investidor pode realizar operações maiores – com mais papéis – no mercado, e tem chance de obter um lucro nominalmente maior do que teria sem a alavancagem.
Imagine que um day trade rendeu ganhos de 0,5% para um investidor. Se os valores operados tiverem sido de R$ 1.000, o lucro em reais totalizaria R$ 5. Mas se, em vez disso, tiver negociado o equivalente a R$ 100.000, o ganho saltaria para R$ 500. Com a alavancagem, isso seria possível, ainda que o investidor não tivesse tanto dinheiro disponível no momento da negociação.
Para ter direito a usar o limite de alavancagem, o investidor precisa ter uma margem de garantia depositada na corretora, o que explicaremos no próximo tópico.
Margem de garantia
A margem de garantia é um percentual que o investidor precisa ter disponível para fazer operações com alavancagem. Ela funciona como uma caução, pois serve para cobrir eventuais prejuízos nas operações day trade e em outras que sofrem ajustes diários, como as do mercado futuro.
Essa garantia tanto pode ser mantida em dinheiro na corretora como também em outros ativos financeiros – como títulos públicos, papéis bancários e, em alguns casos, até mesmo em ações compradas na B3.
No entanto, é importante checar junto à instituição financeira quais investimentos podem compor a margem de garantia, pois nem todos são aceitos para esse fim.
Ferramentas essenciais no Day Trade
Para desenvolver estratégias lucrativas de day trade, os investidores devem conhecer dois temas essenciais.
Um é a análise técnica, indicada para operações de curto prazo. O outro é o stop loss, um mecanismo de gerenciamento de risco indispensável para limitar as perdas com os negócios.
A seguir, saiba mais sobre cada um deles
Análise técnica
A análise técnica projeta como será o desempenho das ações com base na observação do comportamento dos seus preços passados. Segundo essa metodologia, os preços dos ativos sempre formam padrões, que podem ser observados em gráficos, e entender esses movimentos permite que possamos descobrir como esses ativos se comportarão no futuro.
Diferentemente da análise fundamentalista, a análise técnica não considera fatores como participação de mercado, receita, endividamento, lucro das empresas e outros avaliados por quem quer investir no longo prazo.
Em vez disso, sua premissa é de que todas as características de um ativo em um determinado mercado estão refletidas no preço, que se move em tendências – de alta ou de baixa.
Justamente por apontar para esses movimentos e sugerir os caminhos que devem ser seguidos pelos papéis nos próximos pregões esse tipo de análise é o mais utilizado por quem opera no day trade.
Stop Loss
Uma ferramenta de gerenciamento de riscos importante para quem opera com day trade é o stop loss. Na prática, ela representa uma ordem de venda automática, programada pelo investidor para um determinado valor. No momento em que o ativo negociado atingir aquele valor, a venda é realizada.
Imagine que, em um day trade, você comprou uma determinada ação por R$ 10, esperando que ela subiria durante o pregão. Por alguma razão, no entanto, ocorreu o contrário – e o papel, em vez de subir, passou a cair.
Não era o resultado que você esperava, mas não significa que sua perda vá necessariamente ser enorme. Se sua tolerância é de um prejuízo de até 10% na operação, você poderia ter estabelecido um stop loss a R$ 9.
Assim, no momento em que a ação chegasse a essa cotação, seria automaticamente vendida – e seu prejuízo, controlado.
O stop loss dá mais segurança e flexibilidade ao investidor. Assim, ele pode ficar tranquilo se, por alguma razão, precisar se ausentar do computador por algumas horas, já que suas eventuais perdas serão limitadas.
Stop gain
Assim como o stop loss, do contrário, existem também outras ordens automáticas, como o stop gain, que dispara uma venda quando o papel atingiu o valor esperado de ganho pelo investidor.
É uma maneira de assegurar que o lucro pretendido seja realizado – e de não dar margem para que uma reviravolta do mercado acabe estragando tudo.
E há também o stop móvel, que não somente evita perdas mas protege parte do ganho de uma operação. Nesse caso, o trader não define exatamente o valor da ordem, mas sim um percentual sobre os ganhos.
Por exemplo, imagine que o preço de uma ação venha subindo por um bom tempo, mas, em algum momento, o papel reverte a tendência e começa a cair. Quando a queda atingir o percentual estabelecido, o stop móvel é acionado e a corretora vende o título, garantindo uma parte do ganho.
Os indicadores da análise técnica, portanto, ajudam a definir os melhores momentos para acionar as ordens stop loss.
Quanto custa
Operações de day trade estão sujeitas a custos semelhantes aos cobrados em negociações comuns, com duração maior que um dia. No entanto, o que muda são os valores.
A começar pelo Imposto de Renda. Nas operações comuns com ações, a alíquota que incide sobre o ganho de capital é de 15%. Mas se forem operações de day trade, esse percentual sobe para 20% sobre os ganhos – ou seja, o imposto é maior.
E um detalhe: operações de day trade não contam com a isenção de Imposto de Renda que existe para vendas de até R$ 20 mil por mês no mercado regular.
Já com a taxa de corretagem, que é cobrada pelas corretoras de valores por intermediarem as operações no pregão, a lógica costuma ser inversa.
Normalmente, ela é mais barata nas operações de day trade. É uma forma que as instituições financeiras encontraram para beneficiar os investidores. Como normalmente os day trades são frequentes e os ganhos em cada operação, pequenos, custos muito elevados acabam minando o lucro.
Lembrando que a forma de recolher o Imposto de Renda nas operações de day trade é a mesma das outras realizadas na bolsa.
Mensalmente, com base nas suas notas de corretagem, o investidor precisa calcular qual foi o ganho apurado no período, o imposto devido sobre ele e emitir um DARF (Documento de Arrecadação de Receitas Federais). Essa guia deve ser paga até o último dia útil do mês seguinte.
Horários para operar
As operações de day trade são realizadas na B3 durante o horário de funcionamento do pregão, assim como as negociações regulares com tempo maior de duração.
Vale destacar, contudo, que os horários variam em dois momentos do ano – por causa do horário de verão no EUA.
Assim, geralmente, a partir de novembro até meados de março do ano seguinte, a negociação no mercado de ações começa às 10h, com a abertura da Bolsa, até as 18h (o horário é estendido).
Enquanto isso, no mercado de derivativos, o pregão vai das 9h às 18h25 para a negociação de futuros de índice Bovespa e mini-índice Bovespa. Os contratos futuros de dólar e mini vão até as 18h30.
Fora desse período, os horários de abertura começam nos mesmos horários, mas o fechamento acontece mais cedo.
O mercado de ações segue aberto até as 16h55 – nos últimos 5 minutos, até as 17 horas, acontece o chamado call de fechamento. O after market ocorre das 17h30 às 18h.
Os mercados futuros, por sua vez, seguem até as 18h.
Como começar a operar com Day Trade
Tantos detalhes podem parecer confusos em um primeiro momento, mas quem se dedica passa a navegar com mais tranquilidade no ambiente de negociação. Ser um day trader, aliás, pode inclusive se tornar uma profissão – e uma das mais demandadas atualmente.
Na prática, o que tem acontecido é que profissionais de outros setores – sem uma formação específica na área financeira – aprendem as estratégias de day trade para investir seu próprio dinheiro. Com o tempo e o aprofundamento dos conhecimentos, passam a ter no day trade uma fonte de renda extra. E, por vezes, tornam-se day traders profissionais.
A possibilidade de obter ganhos em algumas horas chamou a sua atenção?
Se você está com vontade de se arriscar no mundo do day trade, deve estar atento às contrapartidas que precisará oferecer para conseguir bons resultados com essa estratégia.
Você tem tempo para acompanhar o mercado e o noticiário?
Como esse guia já pontuou antes, a dedicação é fundamental para ser um day trader bem-sucedido. Comprar e vender ativos no mesmo dia demanda um nível de atenção elevado aos movimentos da bolsa, e se você não tiver disposição para fazer isso, pode acabar tendo resultados negativos ou perdendo oportunidades de ganho.
Você entende de análise técnica?
Essa é uma das ferramentas mais importantes para quem quer fazer day trades, já que ajuda a prever os movimentos de curto prazo dos ativos.
Se ainda não conhece muito sobre esse assunto, dá tempo de aprender. Existem vários cursos disponíveis de análise técnica, e muitos deles podem ser feitos a distância, pela internet.
Você tem recursos para oferecer como margem de garantia?
Lembre-se que esses valores, mantidos depositados na corretora, permitirão a você alavancar suas operações de day trade, movimentando valores superiores aos que efetivamente possui. Se você tiver reservas guardadas em outras instituições financeiras, talvez valha a pena migrá-las para a corretora por meio da qual pretende realizar seus negócios.
Aliás, você já tem conta em corretora e acesso ao home broker?
Se não tem, para negociar na bolsa – seja day trade ou não – precisará abrir uma.
Normalmente, o processo é simples e envolve o preenchimento de formulários e o envio de documentos. O mais importante é qual instituição escolher. Se seu objetivo é operar com day trade, lembre-se de que o tamanho das taxas é um aspecto relevante. Não deixe de pesquisar.
Você tem estrutura financeira e preparo emocional?
Não, não é uma pergunta retórica. Para fazer day trade, você realmente precisa estar preparado. O esforço necessário para obter ganhos é grande – e até eles começarem a chegar, é provável que você registre alguns prejuízos.
Portanto, esteja com o bolso e a cabeça prontos para isso.
Cursos e livros para estudar Day Trade
Antes de começar a fazer operações de day trade, nada melhor do que dedicar algum tempo ao estudo. Prepare-se bastante antes de iniciar.
Há uma série de materiais disponíveis para isso, e muitos deles de graça ou a um custo acessível.
Aqui vão algumas dicas preparadas pelo InfoMoney para você: