Antes de explicar o que é exatamente uma blockchain de segunda camada, ou layer 2 (camada 2), precisamos definir o que é uma blockchain de primeira camada, ou layer 1 (camada 1).

Em resumo, uma blockchain de primeira camada é a base de um projeto. Também conhecida como rede principal, ela não apenas define as regras básicas do ecossistema, mas também pode validar e liquidar transações.

Alguns exemplos de redes de primeira camada são Ethereum (ETH), Bitcoin (BTC) e Solana (SOL).

As blockchains da camada 1 geralmente começam com ênfase na descentralização e na segurança –  princípios básicos de qualquer rede sólida (com algumas exceções).

Via de regra, elas são mantidas por uma rede global diversificada de desenvolvedores e validadores (participantes que validam transações).

Devido à falta de qualquer autoridade ou supervisão central, essas plataformas exigem que a própria tecnologia seja extremamente segura para proteger os usuários contra golpes e ataques.

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No entanto, por causa dessa prioridade na segurança, sem mencionar os imensos recursos necessários para manter um ecossistema totalmente funcional, muitas vezes elas carecem de escalabilidade (capacidade de processar e armazenar grande quantidade de transações).

No mercado cripto, é comum desenvolvedores falarem que a tecnologia por trás das criptos não consegue alcançar um estado de equilíbrio entre segurança, descentralização e escalabilidade – esse desafio do setor recebeu o nome de “o trilema das blockchains”.

As redes de segunda camada, no entanto, tentam ser a solução para esses problemas.

O que são as blockchains de segunda camada?

A camada 2 refere-se a um conjunto de soluções externas construídas sobre as redes de primeira camada com o objetivo de reduzir os gargalos com dimensionamento e dados.

Pense nisso como a cozinha de um restaurante: se o estabelecimento tivesse apenas um funcionário responsável por atender pedidos e cozinhar, o processo seria muito lento e só alguns pedidos por hora poderiam ser atendidos.

No universo das blockchains há um problema similar, porém com transações: em momento de pico de uso de uma determinada rede, é preciso haver capacidade de atender a um número grande de pedidos concorrentes.

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As redes de segunda camada, dessa forma, são como cozinhas divididas por função: há um local para limpar e cortar alimentos, outro para cozinhar, um terceiro que prepara os pratos e assim por diante.

Dessa forma, cada grupo foca no seu serviço e cada tarefa é feita com muito mais eficiência. No momento certo, o funcionário solitário pode combinar cada prato montado com o pedido e confirmá-lo antes de enviá-lo ao destino final (o cliente).

Plataformas de pagamento como a Visa também usam um sistema semelhante. Em vez de gerenciar separadamente milhares de microtransações diárias de um fornecedor como a Starbucks, que obstruiria a rede em minutos, a Visa as agrupa em lotes a serem liquidados no sistema bancário em intervalos regulares. Os bancos então armazenam e classificam as transações por meio de seu equivalente interno de uma camada de liquidação.

Neste exemplo, a Visa seria a rede de segunda camada e a rede mais ampla de instituições e governo que mantêm o registro das transações e define as regras do setor financeiro seriam como uma primeira camada.

O Ethereum também usa um método semelhante por meio dos rollups (sistemas destinados a resolver problemas de escalabilidade de blockchains) dos tipos “Optimistic” e “Zero-Knowledge” (ZK, ou Prova de Conhecimento Zero, na tradução para o português), que aliviam o fardo de gerenciar transações da rede principal, permitindo uma maior inclusão e mais taxas de transferência por segundo.

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Tudo isso contribui para uma experiência do usuário mais prática e à prova de erros. Exemplos de redes de segunda camada do Ethereum incluem soluções como Arbitrum, Optimism, Loopring, Polygon e zkSync.

Por que as blockchains de segunda camada são importantes?

Embora a descentralização e a segurança sejam o modus operandi do Ethereum, por exemplo, a consequente popularidade do mercado ao longo dos anos fez com que a rede da criptomoeda atingisse o teto de sua capacidade atual de pouco mais de 1,5 milhão de transações diárias.

Além disso, como a rede principal só pode processar cerca de 15 transações por segundo, os períodos de alta atividade da rede geralmente levam ao congestionamento de dados.

Esse cenário, por sua vez, faz com que as taxas de transação cobradas aumentem e diminua o desempenho dos aplicativos que rodam na rede.

Para combater esses problemas, uma tecnologia de segunda camada aumenta a capacidade do Ethereum por meio de uma blockchain à parte, paralela à principal – como uma empresa terceirizada contratada para ajudar em momentos de excesso de demanda.

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A rede de segunda camada se comunica e ajuda a descarregar a pesada carga de transações da rede principal por meio de smart contracts (contratos inteligentes), que integram e se beneficiam do robusto modelo de segurança descentralizado do Ethereum.

Em essência, a rede de primeira camada lida com segurança, disponibilidade de dados e descentralização, enquanto a de segunda camada lida com o dimensionamento relacionado às transações.

Na maioria das vezes, as redes de primeira camada têm

  • Uma rede de nós – computadores ligados à rede – para proteger e validar o sistema;
  • Uma rede de produtores de blocos (espaços virtuais em que são registradas as transações);
  • A principal blockchain e dados de transação;
  • Um mecanismo de consenso (um tipo de algoritmo) associado.

As redes de segunda camada se diferenciam por oferecer:

  • Taxas mais baixas – elas agrupam várias transações da rede principal e uma única operação, o que ajuda a reduzir a carga de dados. Elas também mantêm a segurança e a descentralização ao liquidar transações na rede principal;
  • Mais utilidade – por meio das vantagens combinadas mais transações por segundo e taxas mais baixas, os projetos de segunda camada podem se concentrar em melhorar a experiência do usuário e expandir o escopo dos aplicativos.

Conforme mencionado, a maioria dos problemas de escalabilidade está relacionada à descentralização. Ao contrário dos bancos tradicionais que possuem um método fechado e mais eficiente de regular os pagamentos, as transações e o gerenciamento de dados, as blockchains devem passar por uma série de etapas sistemáticas, como aceitação, verificação e distribuição em rede (com milhares de participantes), tudo isso mantendo a segurança e a transparência.

Dessa forma, redes como o Ethereum precisam contar com uma estrutura escalável e em camadas, que possa competir com (e eventualmente substituir) os canais mais simplificados, porém restritos, de sistemas como Visa e Mastercard. As redes de primeira e segunda camadas são importantes porque trabalham juntas com o objetivo de tornar a tecnologia blockchain mais rápida e amigável.

É possível investir em blockchains de segunda camada?

Blockchains normalmente utilizam sistemas internos de incentivo na forma de criptomoedas que podem ser adquiridas por investidores interessados em navegar uma possível valorização impulsionada pela adoção da tecnologia – o mesmo acontece com algumas redes de segunda camada.

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Redes de camada 2 (layer 2) que têm seus tokens próprios disponíveis no mercado e, portanto, oferecem um meio de exposição ao seu eventual sucesso ou insucesso. Esse é o caso, por exemplo, da Polygon (MATIC), rede de segunda camada mais famosa do mundo e com o maior número de usuários.

Além disso, a Optimism (OP), Boba Network (BOBA) e Loopring (LRC) têm seu próprio ativo.

Esses são os retornos dos tokens de segunda camada em 2023 até o começo de março:

  • MATIC: +42,82%
  • OP: +137,21%
  • BOBA: +40,18%
  • LRC: +59,29%

Especula-se que a Arbitrum, outra rede de segunda camada, também lance um token próprio, mas, até março de 2023, isso ainda não havia acontecido. A zKSync, uma rede segunda camada novata, não tem criptomoeda nativa.