Projeção que Fed comece a cortar de juro em março perde força após payroll, dizem economistas

Para especialistas, Fed deve manter o tom cauteloso na reunião da próxima semana; cortes podem começar a partir do 2º trimestre

Roberto de Lira

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A comprovação de que o mercado de trabalho americano continua apertado – com o payroll anunciado nesta sexta-feira de criação de 199 mil vagas e taxa de desemprego caindo para 3,7% – só fez elevar por parte dos economistas a aposta de que o Federal Reserve deve novamente optar pela cautela na reunião do Fomc da semana que vem. A expectativa de uma possibilidade de antecipação de início dos cortes de juros em março perdeu um pouco de força.

Segundo dado da plataforma FedWatch, do CME Group, a probabilidade de o Fed cortar os juros na reunião do dia 20 de março caiu de 55,4% para 47,4% em um dia. Já a chance de manutenção dos juros nesse encontro subiu de 35,4% para 48,8%. Para as reuniões de dezembro e janeiro, as probabilidades estão em 98,2% e 92,2%, respectivamente.

Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank, destacou que o número principal veio maior em novembro que o de outubro (199 mil ante 150 mil), mas que ele seguiu abaixo da média do ano, de 239 mil vagas por mês.

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“Com o fim de greves nos EUA, já se esperava um aumento do número de vagas criadas em novembro, mas os dados divulgados hoje vieram acima da expectativa do mercado (183 mil) e reforçam a leitura de um mercado de trabalho robusto, que dá sinais incipientes de desaceleração”, comentou.

Ela citou ainda que os ganhos por hora dos trabalhadores americanos também aceleraram, de 0,2% em outubro para 0,4% em novembro, e que a taxa de desemprego, que em outubro chegou ao maior patamar desde janeiro de 2022, recuou de 3,9% para 3,7%.

“Diante disso, acreditamos que o Fed manterá a taxa de juros no patamar atual de 5,25% a 5,5% ao ano e reafirmará a dependência de dados para decisões futuras. Na nossa visão, o começo dos cortes deve ocorrer a partir de meados de 2024 e não mais no fim do ano. Isso porque, o mercado de trabalho deve continuar desaquecendo, ainda que lentamente, e a inflação desacelerando”, previu.

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Na avaliação de Andressa Durão, economista da ASA Investments, quando excluídos os efeitos da greve do setor automobilístico, o mercado de trabalho desacelerou bem de setembro para outubro e teria desacelerado um pouco mais de outubro para novembro.

“Ainda assim, a média de crescimento do emprego nos últimos meses é próxima do período pré-pandemia. Ou seja, um mercado de trabalho ainda bem apertado”, alertou, destacando que a  taxa de desemprego de 3,7% ainda está muito baixa.

Para ela, apesar da surpresa altista na margem, as revisões divulgadas hoje apontam para uma desaceleração ainda maior dos salários, que estão em 4% em termos anuais.

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Marcelo Oliveira, sócio-fundador da Quantzed, viu um impacto inicial negativo do payroll no mercado, uma vez que se esperavam números fracos de emprego e da economia para acelerar o início da queda da taxa juros.

“Se espera uma queda de juros entre abril e maio de 2024 e, quanto mais números fortes são divulgados, mais o Fed tende a segurar a taxa de juros mais alta, o que é ruim. Os juros americanos reagiram um pouco mal com Treasuries subindo, mas não muita coisa”, comentou.

Segundo sua avaliação, para a reunião de dezembro, esses dados fortes de payroll, apesar de números bons dos relatório ADP e Jolts, podem segurar e trazer um Fed mais cauteloso, fazendo com que o mercado fique com um pé atrás ainda se realmente haverá uma queda de juros mais rápida.

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Dúvidas sobre início e ritmo de cortes

Danilo Igliori, economista chefe da Nomad, também disse acreditar que os dados de novembro mostrando que o mercado de trabalho continua apertado devem provocar dúvidas sobre os ajustes na política monetária americana, a poucos dias da última reunião do Fomc de 2023.

“A aceleração nas contratações e a queda no desemprego, certamente aumentam a emoção nestes dias que antecedem a última reunião do Fomc e a possibilidade de mais um aumento volta ao radar. Mas acredito que as chances de manutenção da taxa de juros ainda permanecem altas”, analisou.

Segundo sua observação, as principais dúvidas vão recair sobre o início, o ritmo e nível terminal da taxa do eventual ciclo de queda em 2024. “As apostas de que as taxas cairiam já no primeiro trimestre perdem força neste momento e o ‘higher for longer’ continua vivo”, explicou Igliori.

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Sávio Barbosa, economista chefe da Kínitro Capital, comentou que, em linhas gerais, os dados de hoje não mostraram nada muito diferente dos últimos meses. “Mas a linha de tendência da criação de postos estabilizou perto de 200 mil e a taxa de desemprego voltou a recuar. Ou seja, não aponta para uma deterioração rápida do mercado de trabalho.”

Para Gustavo Sung, economista chefe da Suno Research, o dado surpreendeu, especialmente considerando que outros indicadores do mercado de trabalho divulgados durante a semana mostraram resultados menos robustos. Segundo a ADP, o setor privado criou 103 mil vagas de trabalho no mês passado, abaixo das expectativas de 130 mil. Além disso, o crescimento salarial desacelerou novamente.

Já o relatório Jolts indicou uma abertura de postos de trabalho de 9,5 milhões para 8,7 milhões de setembro para outubro, representando uma queda mensal e anual de 0,3% e 1,1%, respectivamente.

“Para o banco central norte-americano, o dado do payroll é crucial e, ao superar as expectativas, é provável que o Fomc mantenha uma postura cautelosa na reunião da próxima semana. É relevante notar que os últimos dados da economia norte-americana mostraram um arrefecimento, e com a inflação em trajetória baixista, isso permite à autoridade monetária não alterar o plano atual”, analisou.

Assim, a expectativa da Suno é que o Fed mantenha a taxa entre 5,25% e 5,50% ao ano na próxima reunião. “Diante dos resultados, é provável que o Fed continue não anunciando o fim do ciclo e deixe o cenário em aberto para compreender melhor a evolução dos próximos dados”, antecipou Sung.

Para ele, apesar do otimismo do mercado em relação a possíveis cortes no 1º trimestre de 2024, as quedas na taxa de juros devem ocorrer apenas no 2º trimestre.

Para Michelle Cluver, estrategista de portfólio da Global X ETFs, no geral, este foi um relatório mais positivo do que o esperado e os rendimentos do Tesouro americano aumentaram acentuadamente na sua divulgação, à medida que os mercados reajustaram ligeiramente a escala das expectativas de corte das taxas de juro para 2024.

“É importante notar que os ganhos de emprego mais fortes ocorreram nos cuidados de saúde e no governo, com a conclusão de atividade grevista apoiando o aumento dos empregos na indústria. Os empregos no varejo diminuíram enquanto continuamos a ver força no lazer e na hospitalidade”.