Payroll mais fraco em outubro reforça expectativa de manutenção de juros nos EUA em dezembro

Economistas destacam que alta nos salários vem perdendo força e que setores com geração de emprego mais forte têm menos dinamismo

Roberto de Lira

(Crédito: Shutterstock)

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Com os dados mais fracos do payroll em outubro divulgados nesta sexta-feira (3) pelo Departamento do Trabalho americano cresceu a probabilidade de o Federal Reserve decidir por uma nova manutenção da taxa de juros no atual patamar, segundo economistas. A avaliação é que os detalhes da folha de pagamentos não-agrícola dos EUA corroboram a leitura de desaceleração do mercado de trabalho, trazendo menor pressão à inflação.

O indicador mostrou a geração de 150 mil vagas no mês, ante uma projeção de 180 mil novos postos de trabalho e abaixo das 297 mil vagas observadas em setembro. A taxa de desemprego, por sua vez, aumentou de 3,8% para 3,9%, a mais alta desde janeiro de 2022 (4,0%).

Rafaela Vitório e André Cordeiro, economistas do Banco Inter, destacaram também que os salários avançaram menos que o esperado, com taxa de 0,2% no mês e acumulando alta de 4,1% no ano contra ano.

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Cordeiro lembra que, no cálculo mais recente, a alta salarial é ainda mais significativa. “No acumulado dos últimos 3 meses anualizado, os salários avançam 3,2%, um ritmo compatível com a meta de inflação de 2%, e em tendência de queda, o que é uma boa notícia para o Fomc”, comenta.

Ele também aponta como destaque que setores considerados muito cíclicos, como construção residencial, manufatura, logística e trabalhadores temporários, completaram sete meses consecutivos de adição negativa de empregos. Nos últimos 12 meses, 10 setores tiveram adição negativa.

Ele ponderou que, ainda assim, o mercado de trabalho continua bastante apertado, o que justifica o cenário de taxas de juros elevadas por mais tempo, como delineado pelo Fed na última reunião.

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A economista chefe Rafaela Vitória lembra que o mercado de juros lá fora, que já respirava aliviado com a fala do presidente Jerome Powell pós Fomc, segue em queda, com a taxa de 10 anos voltando para o patamar de 4,5%, ou 50 pontos bases abaixo do pico de 5% de 10 dias atrás. “O cenário reflete a expectativa do fim de ciclo por lá, ou seja, não deveremos ver novas altas de juros e os primeiros cortes podem começar a acontecer no final do primeiro semestre de 2024”, estimou.

Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, também afirma que os dados reforçam a expectativa do mercado de que há grande chance de o Fed não subir mais a taxa de juros.

A CME Fed Watch, plataforma que acompanha as projeções para as decisões de política monetária, já captou uma mudança. A probabilidade de Federal Reserve manter os juros está agora em 90,4%, com 9,6% ainda prevendo uma alta adicional de 025 ponto percentual em 13 dezembro. Há uma semana, as apostas de alta estavam em 79,1% e, há um mês, em 53,3%. Após payroll, as apostas majoritárias são de que os juros podem ser cortados em maio.

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“O payroll foi de mais perda de emprego e mais aumento de desemprego, na parte menos escolarizada dos americanos. Pode significar que, mais à frente, fique estagnado ou até dê uma leve piorada o relatório. O que para os juros, para o apetite ao risco, está um pouco melhor. Há muito tempo o relatório não vinha tão fraco”, comentou.

A CM Capital destacou em relatório que, na composição do indicador, é possível verificar que os segmentos que puxaram a geração de vagas ao longo de outubro não são, necessariamente, aqueles com maior dinamismo no conjunto da economia. Especialmente nos casos do setor de saúde e da máquina pública, que devem ser encarados como fatores pontuais e não componentes da tendência do resultado.

“No primeiro caso, é importante reforçar ainda que o fechamento do gap do volume de trabalhadores atualmente e o nível pré-pandemia reforça a percepção de que as próximas divulgações devem ser marcadas por um volume mais baixo de vagas neste tipo de segmento”, diz o comentário da CM Capital.

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Pelo lado das baixas, a queda mais acentuada foi observada na indústria, que fechou 35 mil vagas. “O resultado do setor sofreu significativamente com os impactos da greve do setor automobilístico, que congelou a criação de vagas em um segmento relativamente dinâmico da economia norte-americana e responsável por absorver um número expressivo de trabalhadores ao longo dos meses. Com o fim da greve no início de novembro, a expectativa é que haja uma normalização das vagas neste setor ao longo do final deste ano”, alerta o relatório..

Outro segmento que acabou perdendo trabalhadores no período foi o de transporte e armazenagem, que fechou outubro com saldo negativo de 12 mil trabalhadores. “É importante  atentar para este número em função da correlação expressiva que este setor possui com o nível de atividade econômica, de maneira que a retração sofrida pelo volume de vagas no setor sugere que a economia dos EUA pode ter tido mau desempenho no decorrer do último mês”, apontou a CM Capital

Isso pode ser uma notícia positiva no front inflacionário, com o processo de arrefecimento dos preços se beneficiando no período, completa.

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Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank, avalia que o número de vagas em outubro ainda é robusto, mas é menor do que o do período imediatamente anterior e fica abaixo da média do período pré-pandemia (2019), de 163 mil por mês. “Na nossa visão, os números divulgados hoje aumentam as chances de o Fed manter os juros estáveis na próxima reunião, em dezembro”, previu.

A economista destacou que os dados da inflação e do mercado de trabalho em novembro serão fundamentais para confirmar ou não se existe de fato uma tendência de desaquecimento da economia e embasar a decisão do Fed na próxima reunião. “Por ora, reduziram-se as chances de o Fed promover mais uma alta nos juros ainda este ano, mas acreditamos que a autoridade monetária só deve começar a cortá-los, de forma gradual, mais para o fim de 2024.”

Antonio van Moorsel, estrategista chefe da Acqua Vero Investimentos, também considera que os dados da folha de pagamentos dos EUA ratificaram a perspectiva de fim do ciclo de aperto monetário do Fed ao evidenciar o abrandamento do desequilíbrio laboral.

“Sinais de que a maior economia do mundo começa a abrandar, após o término do verão no hemisfério norte, endossam o prognóstico de que a campanha de aperto monetário mais agressiva implementada pelo BC norte-americano em mais de quatro décadas está surtindo efeito para desacelerar a atividade”, comentou.

Por conta disso, avaliação de van Moorsel é que novos ajustes nas taxas de juros são prescindíveis, em harmonia com o discurso de Powell na coletiva posterior à divulgação da decisão do Fed.