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O Conselho Monetário Nacional (CMN) se reúne nesta tarde em Brasília com baixa expectativa do mercado sobre alguma decisão de mudança de meta de inflação. O entendimento é que o desejo do governo de modificar detalhes do regime de metas permanece, mas que o próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se encarregou nas últimas semanas de reduzir a temperatura do debate, ao dar mais importância no momento à aprovação do novo conjunto de regras fiscais, o chamado arcabouço.
O quadro é bem diferente do verificado no início do novo governo. Há pouco mais de um mês, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou em café da manhã com jornalistas que “se a meta está errada, muda-se a meta”, reforçando leituras de que uma mudança era iminente.
Desde então, coube a Haddad e ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, adotarem um tom apaziguador, ainda que mantendo suas posições sobre a necessidade do atual patamar da taxa de juros.
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Na reunião dos ministros de finanças do G7 no Japão, Haddad afirmou que só iria discutir uma eventual revisão da meta de inflação após a aprovação do novo arcabouço fiscal. “A ordem dos fatores altera o produto”, afirmou na ocasião ao jornal O Estado de S. Paulo. Campos Neto, por sua vez, tem repetido que uma mudança de curto prazo trará insegurança, mas que admite aprimoramentos nas regras do regime.
O fato é que a desancoragem das expectativas de inflação, justificativa que o BC tem usado para a manutenção da Selic em 13,75% nas últimas reuniões, começou na fase de transição de governo e culminou com o período de maior questionamento sobre as decisões do BC.
A mediana da projeção de inflação no Boletim Focus mostrava um IPCA de 5,08% para 2023 no início de dezembro do ano passado e, agora, a estimativa se encontra em 6,03%. Para 2024, saiu de 3,50% para 4,0%, enquanto a projeção do IPCA em 2025 também foi para 4%, ante os 3,02% de dezembro.
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Leonardo De Paoli e Pedro Jobim, economistas da Legacy, afirmaram em artigo recente ao InfoMoney que foi o ruído a respeito de uma eventual elevação da meta de inflação na economia que contribuiu com a maior parte da desancoragem recente nas expectativas de inflação.
“Acreditamos que uma mudança abrupta nas metas agiria na direção contrária à esperada, ao acentuar o processo de desancoragem de expectativas, reduzindo – e não aumentando – a flexibilidade do Banco Central na condução da política monetária, gerando um custo maior para a sociedade”, escreveram.
Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital, diz que é de extrema importância dar atenção à expectativa de inflação de longo prazo porque ela também influencia na formação de preços no curto prazo. “Quanto mais essa expectativa de longo prazo estiver ancorada na meta, menos vontade as pessoas teriam de aumentar seus preços agora”, lembrou.
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Tatiana explicou que, nas expectativas de mais longo prazo, não há ainda informações como clima, tendência de salários ou de preços de commodities, entre outros fatores. “A única informação que tem é a meta de inflação, que o Banco Central tem que manter a variação de preços ao redor de 3%, com intervalo de 1,5 ponto para cima ou para baixo. Ter essas projeções de inflação em 4% sinaliza que se questiona a única informação para esse período”, disse.
A economista disse que houve expectativa de se debater a mudança de meta em fevereiro, mas que isso não ocorreu e que “torce” para que a meta seja mantida novamente. “Em termos de sinalização é muito ruim (a mudança). É melhor que a expectativa fique em 3% do que em 4%. Aumenta a probabilidade de termos uma inflação de 3% em curto prazo. Prefiro a inflação mais baixa do que a inflação mais alta”, comentou.
Andrea Damico, sócia e economista-chefe da Armor Capital, afirma que os atuais movimentos de preços nacionais e internacionais indicam que pode acontecer alguma queda nas expectativa de inflação, principalmente se não houver mudança de meta no médio prazo. Ela também disse que ficará surpresa se houver alguma mudança na reunião de hoje. A expectativa assim, ficará para a reunião de junho.
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Nessa reunião de junho, ela acredita mais numa manutenção da meta com mudança no horizonte relevante da meta, como Haddad defendeu recentemente, ou alguma dilatação das bandas da meta. “Isso pode de alguma forma colaborar para alguma queda das expectativas mais longas, em 2025 e 2026”, afirmou.
Para De Paoli e Jobim, da Legacy, a manutenção das metas de inflação de longo prazo em 3,0% contribuirá para a convergência das expectativas de inflação, ampliando a potência da política monetária e demandando um nível menor de juros à frente e reduzindo, assim, o custo para a sociedade.