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O cenário benigno para a inflação de 2023, reforçado com a divulgação na quinta-feira (25) do IPCA-15 de maio, consolidou a tendência de revisões para a inflação oficial, que já havia aparecido no Boletim Focus desta semana (a mediana das projeções recuou de 6,03% para 5,80%). Vários bancos e casas de investimentos reduziram suas estimativas para o IPCA cheio desde ontem – ou estão em processo de revisão. Embora isso não signifique uma mudança de política monetária no curto prazo, os analistas acreditam que o Banco Central incorporar em sua comunicação essa melhora no ambiente já na reunião de junho de Copom.
Andrea Damico, sócia e economista-chefe da Armor Capital, disse que sua projeção para o IPCA de 2023 recuou de 5,7% para 5,5% e que também houve um redução marginal para a inflação de 2024, de 4,0% para 3,9%. Ela destacou na divulgação do IPCA-15 a leitura melhor dos núcleos do indicador e, em especial, o comportamento dos preços dos bens duráveis, que apontou deflação.
Ela lembrou que divulgações recentes mostraram variação forte de alta nos duráveis, mas que esse último dado já veio para deflação. “Ficamos mais convencidos que essa deflação do IGP (preços ao produtor) vai ser repassada para o consumidor e incorporamos esse repasse do atacado para o varejo”, comentou.
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Sobre a próxima reunião do Copom, em junho, Andrea vê possibilidade de mudança na comunicação do BC para o cenário prospectivo. Ela destacou que isso já apareceu na entrevista que o presidente da autoridade monetária deu ontem para a Globo News, quando ele reconheceu os dados melhores que o esperado do IPCA-15 e elogiou o texto do arcabouço fiscal aprovado pela Câmara durante a semana.
“Esses elementos devem ser considerados na próxima reunião do Copom, uma vez que eles melhoram o balanço de riscos, principalmente na preocupação com a tramitação (do arcabouço) no Congresso. No final, acabou sendo uma tramitação para melhor e não para pior em relação ao texto original”, disse a economista da Armor.
Andrea Damico citou ainda entre os fatores positivos a melhora das commodities em reais, cujos preços continuaram cedendo desde o último Copom. “O BC deve promover uma mudança na comunicação nessa reunião para começar a deixar a porta aberta para cair os juros”, previu, reforçando que a expectativa da Armor é que o primeiro corte ocorra na reunião seguinte, em agosto.
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Até lá, a economista disse esperar que haverá condições técnicas para o BC eduzir a taxa de juros, incluindo uma previsão de que a meta de inflação será mantida em 3% pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). A mudança esperada será no horizonte para o alcance da meta, que passará para o médio prazo, em substituição ao ano-calendário atual. “Isso deve ajudar as expectativas mais de longo prazo, de 2025 e 2026, a virem um pouco para baixo”, afirmou.
Intervalo mudou
O Banco Original também está fazendo uma revisão de projeções, ainda não concluída, afirmou o economista-chefe, Marco Caruso. Ele disse ver possibilidade até de o IPCA cheio de maio vir abaixo dos 0,30%. Além da prévia da inflação mais baixa que o esperado divulgada ontem, ele destacou a melhora na parte qualitativa do indicador, especialmente a média dos núcleos, com surpresa de quase 10 bps em relação à estimativa.
Esse é um dos fatores que explica a atual tendência de revisões, disse o economista. “Me parece que o intervalo das projeções dos economistas para o IPCA do ano está migrando para de algo entre 5,5% e 6% para algo entre 5% e 5,5%, com algumas casas já na ponta de baixo desse intervalo”, afirmou.
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Caruso não acredita, entretanto, que isso é suficiente para uma mudança muito enfática no comunicado do Copom. Ele admite que o próprio Roberto Campos Neto disse na entrevista da TV que o ambiente melhorou e que ele salientou que o arcabouço fiscal tem trazido uma melhora nos preços de alguns ativos, como na curva mais longa de juros.
“Algum tipo de sinalização de que a conjuntura está um pouco melhor, ele (o Copom) vai trazer. Mas daí a ter uma sinalização mais clara de corte de juros, eu não vejo espaço”, afirmou.
O economista-chefe do Original lembrou que o BC tem sido bem claro em seu rito em que está “amarrado” no modelo utilizado. “Se toda essa melhora não repercutir no modelo de longo prazo, aquele projetado para o final de 2024, que é o cenário relevante para as decisões, dificilmente ele faz uma mudança mais explícita de postura”, destacou. Assim, Caruso prevê na comunicação apenas a mudança de percepção das condições correntes, sem uma sinalização explícita de mudança na política de juros.
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Ricardo Jorge, sócio da Quantzed e especialista em renda fixa, também não prevê uma mudança substancial na forma de o BC se comunicar, mesmo com as revisões que estão sendo feitas. “A gente tem visto sim a inflação cedendo, mas os níveis de emprego e de atividade ainda são preocupantes. A inflação está caindo numa velocidade menor do que o esperado”, alertou.
Para, esse quadro dá motivos suficientes para o BC não mexer nos juros por enquanto. Ele também afirmou que, apesar da aprovação na Câmara do arcabouço fiscal, ainda não aconteceu uma ancoragem definitiva das expectativas.
“Não vejo nenhuma razão para o BC mudar o discurso, só por conta do IPCA-15 que foi divulgado. Acho que não é esse o momento. Para a próxima reunião, minha expectativa é de manutenção. Talvez em setembro, se os números corroborarem para isso”, previu.
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Outras casas estão ajustando suas projeções. Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital disse que sua estimativa para o IPCA foi revisada, de 6,0% para 5,7% e que sua expectativa para a taxa de juros foi mantida em 12% ao final de 2023.
Já o Citi não reduziu sua projeção para a inflação de 2023 e 2024 do IPCA, mas o banco já está com estimativa abaixo do consenso de mercado (5,5% e 4,0%, respectivamente, ante 5,8% e 4,1%). Pata a Selic, o banco também prevê uma taxa final de 12,25% ao final do ano, projetando assim um corte de 1,50 ponto.
O Bradesco BBI informou que revisamos suas projeções de curto prazo para incorporar as mudanças nos preços administrados, com estimativa de 0,38% para o IPCA de maio, reduzindo a previsão de 2023 para 6,0%, dos 6,3% anteriores. Mas foi mantida a previsão que o BC só deve começar a cortar juros em novembro.
Já a Necton disse à Reuters que desaceleração do IPCA-15 em maio, divulgada na quinta-feira, desencadeou apostas de que o BC pode começar seu ciclo de afrouxo monetário em agosto. Antes da divulgação, destacou, as previsões no mercado apontavam para o corte em setembro da taxa básica de juros.
Dólar e commodities
Na XP Investimentos, a projeção de inflação para 2023 foi reduzida de 6,2% para 5,4%. E os efeitos inerciais dessa redução, juntamente com uma projeção de real mais valorizado implicam em uma redução líquida de cerca de 30 bps para o IPCA de 2024, que recuou de 5,0% para 4,7%. Isso considerando também uma atividade econômica mais forte do que o esperado neste ano.
Relatório assinado pelos economistas Alexandre Maluf e Rodolfo Margato, aponta que as condições econômicas globais trouxeram um viés de valorização ao real brasileiro, uma vez que o provável fim do aperto monetário do Fed deve continuar a desvalorizar o dólar. “Além disso, espera-se que os preços das commodities se estabilizem após alguma correção baixista nas últimas semanas, principalmente para produtos agrícolas”, diz o relatório.
A expectativa para o câmbio caiu de R$ 5,30 para R$ 5,00 em 2023 e de R$ 5,40 para R$ 5,15 em 2024.
Sobre as metas de inflação, a XP vê chances crescentes de que o CMN, em sua reunião de junho, opte por uma convergência mais longa da inflação, sem alterar a própria meta.
O UBS, por sua vez, atualizou sua projeção de inflação para 2023 dos 5,2% anteriores para 5,0%, embora não tenha mexido na estimativa para 2024, que continuou em 3,5%.
“Assumindo a aprovação do quadro fiscal até junho e o CMN não alterando a meta, acreditamos que as expectativas de inflação para 2024 e 2025 podem ser 50 pontos-base menores do que as últimas projeções do Focus”, disse relatório do banco. “Acreditamos que as expectativas de inflação irão recuar, com um claro argumento para que os cortes de juros comecem em setembro em um ritmo de 50 pontos-base”, completou.
Para o JP Morgan, o núcleo da inflação, após um pico em abril, está novamente em uma tendência de queda. Além disso as prováveis reduções de impostos sobre carros foram os fatores que motivaram uma revisão do IPCA do ano dos 5,4% anteriores para 5,2%, disse o banco de investimentos, em relatório assinado por Vinicius Moreira e Cassiana Fernandez.
“Embora ainda haja detalhes pendentes sobre o anúncio de cortes de impostos sobre carros, calculamos que os preços possam cair até 9% se o governo reduzir os impostos federais (IPI e PIS/Cofins) a zero, com impacto no IPCA de cerca de 40 bps”, disseram os economistas no relatório.
Para Eduardo Nishio, analista da Genial Investimento, a desaceleração generalizada do IPCA-15 é uma excelente notícia, mas ainda está longe de justificar o otimismo de quem voltou a prever queda da Selic já em agosto de 2023. Ele justifica sua análise ao destacar os ainda elevados níveis de inflação e as expectativas para a inflação em horizontes mais longos ainda desancoradas