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O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central lançou mão de várias mensagens consideradas pelos analistas mais duras (“kawkish” no jargão do mercado) no comunicado sobre a decisão de cortar em 50 pontos-base a taxa Selic nesta quarta-feira (20). Segundo os especialistas, análises do cenário externo e interno colocaram obstáculos para que seja adotada alguma aceleração no ritmo de cortes da Selic até o final do ano.
Marco Caruso, economista chefe do PicPay, cita o reconhecimento da piora de condições no exterior como alguns desses pontos a serem considerados, especialmente a piora na expectativa do crescimento chinês e a discussão sobre o juros longo nos Estados Unidos. “As duas coisas podem se traduzir num câmbio mais desvalorizado, o que pode ser inflacionário para o Brasil”, comentou.
Para Caruso, no cenário interno, mesmo os comentários sobre o crescimento mis forte da economia também é fator de desvalorização do câmbio, num primeiro momento, se configurando como um elemento “hawkish” na comunicação. Outro ponto citado pelo economista foi o parágrafo no qual foi destacada a importância da questão fiscal, devido à incerteza atual sobre o cumprimento da meta do resultado primário no ano que vem estabelecida no novo arcabouço.
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Andrea Damico, economista chefe da Armor Capital, também citou essa volta dos alertas fiscais na comunicação, embora a diretoria do BC tenha evitado colocar a questão no balanço de riscos. “Ele fez uma colocação importante, que é um parágrafo novo que foi incluído sobre a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para ancoragem de expectativas de inflação e, consequentemente, para condução da política monetária”, comentou.
No restante da comunicação, Andrea destacou o trecho quando se fala das próximas reuniões, com Copom antevendo redução de mesma magnitude nas próximas reuniões. “Eles mantiveram no plural ,então isso reforça, talvez, mais duas, pelo menos, de 50 bps”, afirmou, embora a Armor mantenha sua projeção de um ritmo mais forte, de 75 pontos-base por acreditar que o cenário vai evoluir de forma favorável.
“A gente vai ver uma desinflação de serviços subjacentes mais significativa, algum arrefecimento das expectativas e o hiato indo para o campo negativo”, previu.
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Luciano Sobral, economista-chefe da Neo Investimentos, comentou na live do InfoMoney que o Copom fez um comunicado tentando ser duro, ao citar que o BC aumentou as pro projeções de inflação, quando comparadas às estimativa da última reunião. A taxa subiu 0,1o ponto percentual para cada 2023, 2024 e 2025. “A inflação que ele está esperando é um pouco mais alta”, disse
Para Sobral, o BC parece pouco disposto a sinalizar uma mudança no ritmo dos cortes, mas permanece está condicionado ao cenário. “Se de fato a inflação seguir surpreendendo para baixo, não tem porque ele não mudar o discurso”, ponderou.
Luis Garcia, CIO da SulAmérica Investimentos, que também participou da live no Youtube, classificou a comunicação como excelente quando avaliado sob a perspectiva da credibilidade do BC. Nesse sentido, a unanimidade da decisão cumpriu um importante papel, ainda mais quando se cogita o risco de um Copom que poderia correr mais riscos em relação a inflação e juros quando a equipe atual for renovada por quadros indicados pelo governo, até o final do ano que vem.
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Sobre o rito de cortes de juros que será adotado nas próximas reuniões, Garcia se colocou como otimista em relação ao atual processo desinflacionário. E também comentou que os dados macroeconômicos mostram que a política monetária tem funcionado. Mesmo o PIB mais forte que o esperado no 2º trimestre pode ser relativizado, uma vez que a atividade cresceu menos quando é excluído o resultado do setor Agrícola.
Ainda contracionista
Alex Agostini, economista chefe da Austin Rating, também colocou como ponto de destaque a decisão sobre os juros ter sido unânime. “Porque tira as incertezas do futuro. O que recaiu para essa decisão é que as expectativas de inflação para o período relevante da estratégia de política monetária, que é todo o ano de 2024 e início de 2025,estão bastante ancoradas, muito próximo ao centro da meta de inflação para os dois períodos”, comentou.
Para as próximas reuniões do Copom, a Austin acredita que, tanto em novembro quanto em dezembro, a Selic será reduzida 0,50 ponto percentual, conforme o BC sinalizou. Com isso, 2023 se encerrará com uma taxa de 11,75% a.a.
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“E o cenário para 2024 continua com uma queda de meio ponto percentual a cada reunião. E por que isso? Porque no atual nível da taxa Selic, descontada a inflação, nós temos um juro real que está muito longe do juro neutro. Ou seja, aquele juro que consegue fazer a economia crescer, sem gerar inflação”, explicou.
Agostini lembra que o Brasil ainda se encontra num momento contracionista da política monetária. Para chegar em um nível de uma política monetária expansionista, tem que chegar em um nível de juro real perto de 5% e isso só deve atingir lá em meados de 2024”, estimou.
Mirella Hirakawa, economista sênior da AZ Quest, ponderou que a Ata da reunião, que será divulgada na semana que vem deve trazer com maior clareza os condicionais de possíveis acelerações do passo de corte de juros, mas com as informações até o momento, a comunicação do BC hoje pode ser considerada “hawkish”.
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“Tanto pela composição quanto pela revisão da inflação para cima, pela comunicação das próximas reuniões, na mesma magnitude na próximas reuniões, no plural, colocando novembro e dezembro com cortes de 50 bps”, listou.
Assim, as projeções de aceleração para os cortes da Selic “subiram no telhado”, disse a economista. “A comunicação de hoje atribui um viés altista para nossa Selic terminal.
Ela também elogiou o Comitê “alinhado” nessa reunião, após a divisão do Copom de julho, que terminou com um placar de 5 a 4 pelo corte de 50 bps. “Os principais fatores que precisavam de atenção eram o placar e a comunicação para as próximas reuniões, se seriam unânimes. No caso, ambas vieram de forma unânime, mostrando um comitê uníssono.”
Ricardo Faria, sócio da Legend Wealth Management, destacou dentro das projeções de inflação no cenário de referência, que o Copom já vê a inflação convergindo para o patamar de 3,1% em 2025. Ou seja, quase em linha com a meta de inflação de 3%.
“Na atual conjuntura, vale a pena também mencionar que o atual estágio do processo desinflacionário tende a ser mais lento e as expectativas de inflação também, em termos de reancoragens parciais, precisam ter maior contribuição de construção da política fiscal.”