Após apagão, ONS aumenta envio de energia do Nordeste ao Sudeste, mas normalização só em 2024

Para compensar "perda" da geração o operador tem despachado mais usinas hidrelétricas e térmicas quando há pico de demanda de energia

Reuters

Ilustração mostra oscilação no preço da energia elétrica

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O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) vai aumentar nesta semana em 2 mil megawatts (MW) o intercâmbio de energia elétrica gerada no Nordeste para o Sudeste, que foi fortemente reduzido por segurança após o apagão de 15 de agosto, mas uma normalização só deve ocorrer em meados de 2024, disse à Reuters Luiz Carlos Ciocchi, diretor-geral do órgão.

Para compensar essa “perda” da geração vinda do Nordeste, sobretudo das fontes eólica e solar, o operador tem despachado mais usinas hidrelétricas e térmicas em horários de ponta e quando há pico de demanda de energia, acrescentou ele.

O ONS adotou uma postura mais conservadora na operação do sistema elétrico após o apagão de 15 de agosto que afetou praticamente todo o país e cujas causas só foram totalmente diagnosticadas mais de um mês depois.

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Os envios de energia do Nordeste aos centros de consumo do Sudeste e Sul foram reduzidos de 10 mil MW a cerca de 5 mil MW, situação que tem desagradado geradores eólicos e solares, que dizem ter prejuízos financeiros com a limitação da produção de suas usinas.

O retorno total do intercâmbio Nordeste-Sudeste só ocorrerá em julho de 2024, após a implementação de mais de 500 medidas que visam evitar novas falhas técnicas como as que causaram o apagão do mês passado.

Na minuta do Relatório de Análise de Perturbação (RAP) publicada no início desta semana, o ONS apontou a necessidade de adoção de “centenas” de providências pelos agentes do setor, a fim de evitar que um apagão como esse se repita, e para acelerar o tempo de resposta do sistema nessas ocorrências.

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“Hoje já devemos fazer uma flexibilização, mas não voltar a ser o que era antes (do apagão). Vamos buscar um equilíbrio”, disse Ciocchi em entrevista exclusiva à Reuters.

A expectativa é que, já com um panorama mais detalhado do apagão, o intercâmbio Nordeste-Sudeste suba para ao menos 7 mil MW.

“Uma vez tendo identificado a causa… fazemos simulações para ver como o sistema reage para ampliar a vinda da energia das renováveis para Sudeste e Sul. Voltar ao normal só voltará quando tudo estiver implementado até julho de 2024”, adicionou ele.

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Ciocchi frisou que, se essas medidas forem adotadas antes de meados do próximo ano, o ONS pode reavaliar o intercâmbio de energia para a região Sudeste.

O diretor-geral do ONS afirmou que tem sido procurado por operadores de redes elétricas de outros países para contar a inédita experiência do apagão registrado no Brasil em agosto.

Ele revelou ainda que tem conversado com associações do setor elétrico após a divulgação da minuta do RAP e que não houve questionamentos ou reclamações sobre as mais de 500 medidas a serem implementadas pelos agentes até o próximo ano.

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Na avaliação de Ciocchi, as obrigações não trarão impacto para produtores de equipamentos, agentes do setor ou consumidores e que, se houver, será pequeno e na casa decimal.