A eleição de 2018 como reedição de 1989: o que a história nos ensina?

Na corrida antecipada à presidência, os políticos tradicionais são cada vez mais rejeitados pelo eleitorado, enquanto que alguns novatos começam a ganhar espaço no gosto do povo

Terraço Econômico

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Por Arthur Solow, editor do Terraço Econômico

Uma nação despedaçada. A economia não dá sinais de recuperação, com indicadores econômicos cada vez mais sombrios. A esperança do povo se esvai, junto com o dinheiro do mês que está cada vez menor.

Na corrida antecipada à presidência, os políticos tradicionais são cada vez mais rejeitados pelo eleitorado, enquanto que alguns novatos começam a ganhar espaço no gosto do povo. Procura-se desesperadamente o Messias, o salvador da nação: aquele que pode nos tirar da sina do baixo crescimento e do subdesenvolvimento. Todos mencionam uma corrupção sem tamanho; todos prometem resgatar o Brasil das amarras que impedem o desenvolvimento nacional. O vice-presidente que está no exercício da função máxima tem popularidade baixíssima, e sequer cogita concorrer no pleito presidencial.

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O ano não poderia ser outro. Era hora da virada, finalmente! Estamos em 1989.

Contexto Histórico: A luta pela democracia e a conquista do voto

Em janeiro de 1985, morre Tancredo Neves, primeiro presidente após décadas de regime militar. Eleito em uma eleição indireta contra Maluf (PDS), era moderado e vinha de longa data no combate ao governo militar, possuía um crédito de confiança bastante considerável com a sociedade. Sequer chegou a assumir o cargo, para a frustração do eleitor brasileiro.

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Em seu lugar, no dia 21 de março de 1985, toma posse José Sarney (recém-saído do ARENA) para garantir um grande clima de liberdades democráticas até março de 1990. Mas, absolutamente não tinha o mesmo capital político e força popular. O cenário não era nada favorável. Eram os anos finais da Guerra Fria e o mundo passava por uma alta no preço do petróleo. O Brasil sofria de inflação e aumento da dívida interna devido ao crescimento da externa, à alta dos juros internacionais e a desequilíbrios no balanço de pagamentos. A insatisfação política era evidente, visto as “Diretas Já” de 83-84, movimento que agregou diversas lideranças de distintas esferas políticas e civis. Além do próprio Tancredo, participaram: Mario Covas, Orestes Quércia, Luiz Inácio, Ulysses Guimarães, Dr. Sócrates, Christiane Torloni, Chico Buarque, entre outros.

As primeiras medidas populares são tomadas já em maio de 1985: é aprovada a emenda constitucional que garante eleições diretas para presidente, prefeito e governador. Mas o que iria garantir a [rápida] popularidade de Sarney, viria em 1986, o Plano Cruzado. Meses de euforia, preços relativamente estáveis: mas o que é bom dura pouco, e a aprovação do vice-presidente se esvaiu tão rápida quanto o sumiço dos produtos nas prateleiras e a forte escalada de preços. No final do ano de 1988, a inflação anual atingiu 1037% e, em setembro de 89, Sarney atingiu o recorde de 5% de aprovação. O resto você deve conhecer: Plano Bresser, Plano Verão, Plano aqui, Plano Acolá. Nada foi capaz de parar o dragão inflacionário que cuspia fogo cada vez mais alto.

As eleições diretas de 1989: 22 chapas e muitas saídas para a crise

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No feriado da proclamação da República de 1989, depois de 25 anos de ditadura e 29 anos sem voto direto, ocorreu o primeiro turno das eleições democráticas exclusivamente para o cargo de presidente (a). Disputavam 22 chapas: nomes não faltavam no papelzinho de votação.

O debate completo é uma relíquia a parte. Com a participação de 9 candidatos (Ulisses Guimarães e Collor recusaram o convite), o programa da Rede Bandeirantes apresentou momentos marcantes. Além do desrespeito ao tempo e à vez do outro candidato quase como regra, tiveram momentos como a briga entre Leonel Brizola e Maluf, com o primeiro chamando o último de “filhote da ditadura”, e depois insinuando que a plateia inteira “engordou” durante o Período Militar. Brizola também chamou Roberto Marinho de “empresário cartorial” e que ele seria “o homem mais rico do Brasil”. O intervalo foi chamado às pressas por Marilia Gabriela. Você pode conferir o debate completo aqui:

Dentre os participantes, vários conhecidos na vida política nacional atualmente: Roberto Freire, Enéas Carneiro (MEU NOME É ENEAS), Ulysses Guimarães, Guilherme Afif e Ronaldo Caiado. (e estes não eram candidatos “tiriricas” ou, nessa época, “rinocerontes cacarecos”).

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Antes do dia da votação, uma surpresa: o dono e apresentador do SBT, Silvio Santos, entrou na vaga do pastor Armando Correa como candidato do PMB, botando as eleições de pernas para o ar. O IBOPE chegou a anunciar a segunda colocação do animador de plateia na intenção de voto, mas a alegria durou pouco. Alegando falta de comprovação na realização de convenções nos estados brasileiros, o TSE caçou por unanimidade a candidatura do Homem do Baú, a pedido do PTN, partido de Collor.

E como ficou o primeiro turno das eleições?

Pela regra do jogo, sobravam os dois com mais votos válidos: Collor (30,5%) e Lula (17,2%).

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O segundo turno

No mês seguinte (17/dez), o brasileiro tinha que fazer a sua tão esperada escolha final. Novamente, o povo colocaria, através do voto direto, alguém para representá-lo no cargo máximo da nação. Mas o que era visto nos discursos de Collor e Lula?

Collor prometia acabar com as regalias dos “marajás”, com forte discurso moralista e ético. Dentre suas propostas, prometia que, “com uma única bala de prata”, acabaria com a inflação, além de acusar seu adversário de ser ateu, comunista, corrupto e, supostamente, de ter dado dinheiro para uma namorada fazer aborto.

Lula, na sua “Rede Povo – aqui você vê, o que não vê na outra tevê! ”, sugeria à classe trabalhadora, e ao pequeno e médio empresário a se questionarem por que o estado funcionava apenas para meia dúzia de grandes empresários. E afirmava que não seria subalterno do FMI, que iria suspender o pagamento da dívida externa e renegociar a interna.

Qualquer semelhança com a briga “Esquerda e Direita” não é mera coincidência.

E o resultado no segundo turno foi uma vitória apertada de Fernando Collor de Mello, um até então desconhecido eleito presidente com mais de 34 milhões de votos.

O que ocorreu depois todos sabem: Collor venceu, sofreu impeachment por uma denúncia de corrupção (ou seja, o que ele prometeu combater); Lula foi presidente 13 anos depois e, no seu governo, Collor era seu aliado no Congresso. Coisas de Brasil e de seu presidencialismo de coalização.

Atualmente, os dois candidatos da eleição de 1989 estão enrolados com processos da Operação Lava Jato, e o filme de 2018 parece ser mais um daqueles conhecidos da Sessão da Tarde – em que a turma aprontará altas confusões com o povo brasileiro.

Diz-se que “aqueles que não podem lembrar o passado estão condenados a repeti-lo”. Como nós, os espectadores, podemos mudar este final?

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Terraço Econômico

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