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Expectativa versus realidade: dá para ser um bom investidor, mesmo não sendo o próximo Warren Buffett

É comum investidores esperarem retornos superiores a 20% ao ano quando começam a investir - e, bem, precisamos conversar sobre isso
Por  Vitor Pitz -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Pense comigo o quão desestimulante seria se você falasse para quem está começando a investir que dificilmente ele vai conseguir ter um retorno superior a 2,0% ao mês de forma consistente. Muito provavelmente ele nem começaria.

São raros os casos de quem começa a investir com uma mentalidade de montar uma “carteira previdenciária” ou para “conservação patrimonial”. A verdade é que a grande maioria embute uma grande expectativa de que sim, ele é diferente, e vai conseguir ter retornos elevados.

Não quero desanimá-lo, nem mesmo dizer que durante certas janelas de tempo você não consiga obter retornos altos, basta olhar o Ibovespa desde 2016. Se você tivesse se exposto de forma passiva ao índice e tido a sorte de entrar no melhor momento, teria obtido um retorno ponderado próximo de 19% ao ano durante seis anos, o que já seria um excelente feito.

Porém, pense em janelas de tempo maiores, de 20 ou até 30 anos. São raros os investidores e fundos que conseguiram obter retornos dessa magnitude (incluindo aqui os mutual funds e hedge funds americanos).

Recentemente tive acesso ao discurso de Mark Sellers para estudantes de MBA em Harvard. O gestor de hedge funds estima que menos de 2% dos estudantes daquela sala poderiam ter a chance de ser um grande investidor. Já se fosse para a população geral essa estimativa poderia ser algo em torno de 0,002%.

E a razão para isso é que não importa o quão alto seja o seu QI, ou quantos livros e revistas você tenha lido, ou quanto de experiência você tenha acumulado ou vá ter na carreira. Isto é o que a maioria dos agentes de mercado possuem e pouquíssimos deles vão obter de fato uma rentabilidade consistente de 20% a 25% ao longo da vida.

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Todos esses pontos acima são necessários para você ser um grande investidor, porém não necessariamente vão torná-lo um.

Desestimulante, certo? Porém, embora dificilmente você consiga ter retornos muito expressivos, o que seria estar no páreo com gigantes como Charlie Munger e Peter Lynch, ainda assim você poderia estudar e aprender para ser um investidor acima da média. Você ainda pode ter investimentos de sucesso e lucrativos, mesmo não sendo o próximo Warren Buffett.

Mark Sellers argumenta que você não terá uma rentabilidade acima de 20% ao ano durante a vida consistentemente a menos que você tenha certas habilidades programadas em seu cérebro até os 12 anos de idade. No momento em que seu cérebro está desenvolvido, já na fase adulta, ou você tem a capacidade de estar entre os grandes investidores, ou não.

E antes de comentá-las destaco um termo essencial para o investidor, atribuído ao Warren Buffett, chamado “economic moat”. Na tradução literal, seria uma espécie de “fosso econômico”. Isto representaria alguma vantagem competitiva da empresa para obter altas lucratividades frentes aos seus concorrentes, por não conseguirem replicá-la.

Então, Mark Sellers faz essa analogia às vantagens do investidor. O fosso econômico do investidor seria algo estrutural, e não aprendido em livros ou na faculdade. Mesmo coisas que se parecem vantagens podem não ser, pois elas podem ser facilmente substituídas, copiadas ou sofrerem mudanças com o tempo. Um exemplo disto seria uma nova tecnologia, por mais inovadora que ela seja. Com o tempo outras empresas poderiam copiá-la ou se tornar obsoleta.

Já o fosso econômico do investidor está totalmente ligado à psicologia, e a psicologia já está conectada no seu cérebro. Isto faz parte de você. Você não pode mudá-la, mesmo que leia vários livros sobre o assunto. E afinal, quais seriam essas capacidades (ou vantagens competitivas)?

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A capacidade de comprar ações quando outros estão em pânico, e vendê-las enquanto os outros estão eufóricos. O exemplo é a bolha de tecnologia dos anos 2000. Mesmo sabendo que os ativos estavam sobreavaliados, os agentes não os vendiam com medo de ficar para trás nos rendimentos.

Obsessão pelo jogo e desejo de vencer. Os grandes investidores não apenas gostam de investir, ele vivem disso. Trata-se de uma paixão.

Aprender com os erros do passado. A maioria das pessoas buscam esquecer os erros e “tocar em frente”. Aqui o investidor deve ser capaz de não ignorar, e ainda analisar, para evitá-lo no futuro.

Senso inerente de risco baseado no senso comum. Mark Sellers lembra a história do Long Term Capital Management, em que uma equipe de 60 ou 70 PhDs com modelos de risco sofisticados não conseguiu perceber o que, em retrospecto, parecia óbvio: estavam superalavancados. Ou seja, não pararam para pensar se o que aparecia nos computadores fazia sentido.

Grandes investidores confiam em suas próprias convicções e as mantêm, mesmo quando enfrentam críticas. Tem-se o exemplo do Buffett durante a bolha da internet, quando era duramente criticado por não ter posições.

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É bom ter os dois lados do cérebro funcionando, não apenas o esquerdo (responsável pela matemática e organização). Há muitas pessoas que têm QIs geniais que não conseguem pensar com clareza, embora consigam calcular o preço de títulos ou opções em suas cabeças. Sellers destaca que você precisa ser capaz de pensar de forma criativa e com bom senso.

Capacidade de sobreviver à volatilidade sem alterar seu processo de pensamento de investimento. Isso é quase impossível para a maioria das pessoas. Quando as ações caem, elas passam por um momento terrível para não vendê-las com prejuízo. As pessoas não gostam de dor no curto prazo. Uma oscilação para cima ou para baixo em um período de tempo relativamente curto não é uma perda e, portanto, não é um risco, a menos que você esteja propenso a entrar em pânico no fundo e consolidar a perda.

Sellers argumenta que nenhum desses traços pode ser aprendido quando a pessoa atinge a idade adulta. A esse ponto, o potencial da pessoa para se tornar um grande investidor já está determinado. Pode ser aprimorado, mas não aprendido do zero. Pois tem a ver principalmente com a maneira como seu cérebro está conectado e com as experiências que você tem quando criança.

Perceba que até aqui não comentei sobre a importância de um bom planejamento financeiro, diversificação e da estratégia adotada. Então o que fazer?

Para alguns, o acompanhamento de um profissional pode fazer sentido, por exemplo. Ou até mesmo usufruir da análise de profissionais, já que se pode inferir que possivelmente estas pessoas possuam algumas das características acima, podendo beneficiá-lo desta forma.

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Conforme colocado, você não precisa ser um gigante para ser um excelente investidor. Porém é importante ter consciência de que você não necessariamente se tornará um apenas estudando e sendo o melhor aluno.

Isso não significa que a educação financeira e a experiência de leitura e investimento não sejam importantes. São aspectos críticos apenas para entrar no jogo e continuar jogando, mas podem ser copiados por qualquer um. As sete características acima, não.

Vitor Pitz Consultor de investimentos na Suno Consultoria. Formado em Engenharia Civil pela UFSC, é especialista em investimentos com certificação CEA. Também possui certificação CFP (Certified Financial Planner). Atua no mercado financeiro há sete anos.

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