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A queda dos Titãs: o vaivém dos gigantes corporativos

Investir nas ações dos "titãs" do mundo corporativo, de forma altamente concentrada, pode significar baixo desempenho para os investidores ao longo do tempo
Por  Paulo Sato
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

A mitologia grega, repleta de contos de deuses, batalhas intensas e poderes místicos, é uma das mais cativantes. A Titanomaquia é um dos momentos mais marcantes da mitologia grega, uma grande batalha que durou dez anos entre os Titãs, liderados por Cronos, contra os Deuses Olímpicos liderados por Zeus.

E como todo momento marcante abriga uma moral, esta batalha nos ensina uma lição importante: nunca subestime quão drasticamente o jogo pode virar, mesmo nas circunstâncias mais improváveis. Contra todas as probabilidades, mesmo os mais grandiosos podem falhar. Não somente deuses gregos, mas os gigantes do mercado de ações, repetidamente caem em desgraça.

Investir nessas ações, de forma altamente concentrada, pode significar baixo desempenho para os investidores ao longo do tempo. Priorizar um portfólio bem definido de asset allocation melhora a diversificação, não apenas entre as empresas, mas também entre as classes de investimentos.

As empresas que dominam um índice global de capitalização de mercado são, por definição, aquelas com os maiores market caps (quantidade de dinheiro que custaria se você fosse comprar todas as ações emitidas de uma empresa ao preço atual de mercado). E as empresas “Titãs” podem permanecer no topo do “Olimpo” por um longo período de tempo.

No entanto, as principais ações também podem ter uma rotatividade significativa se olharmos em janelas maiores, como por exemplo, de década para década. A princípio, pode parecer contraintuitivo que elas nunca caiam das suas posições, mas a história já provou o contrário.

Nos anos 2000, a ascensão das indústrias de tecnologia e comunicações abriu caminho para que empresas chinesas chegassem ao topo sob a ótica de market cap uma década depois.

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Hoje, todos estamos cientes da notável dominação dos mercados de capitais globais por ações de crescimento dos EUA e da China, porém os dados nos mostram que as duas únicas empresas que permanecem no topo desde 2010 são a Microsoft e a Apple.

Hoje, os titãs são ações de tecnologia e comunicação. O valor de mercado dessas empresas disparou em 2020, à medida que a pandemia global nos empurrou para um mundo mais digital. A história sugere que a próxima década trará mais rotatividade. Veja a tabela abaixo e pergunte a si mesmo: será possível adivinhar se algum dos titãs atuais ainda estará reinando em 2030?

Confira as 10 ações com maior valor de mercado do mundo no início de cada década:

Apesar da história mostrar a existência desta rotatividade, as heurísticas de representatividade e disponibilidade fazem com que um número crescente de investidores de varejo esteja gravitando em torno das histórias de sucesso das ações populares de crescimento, pressionando ainda mais os preços dos titãs.

Muitos investidores tomam decisões muito arriscadas que podem não apenas fazer com que eles percam muito dinheiro, como podem de fato levar à ruína. A alta concentração é uma dessas decisões, uma verdadeira bandeira vermelha.

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Sendo assim, para evitar que seu patrimônio caia nas mãos de Hades, o deus do submundo na mitologia grega, e se aproxime da ruína, uma estratégia eficaz para mitigar o risco de concentração é a diversificação, um asset allocation bem definido.

Para se ter uma ideia do poder da diversificação em MultiClasses e Ativos, recomendo um breve estudo a respeito do tão aclamado “Yale Model”. Desenvolvido por David Swensen e Dean Takahashi, economistas da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, o Modelo de Yale é uma estratégia de alocação de recursos utilizada pelo fundo de endowment da instituição, que teve retornos extraordinários ao longo dos anos.

Swensen criou um portfólio diversificado composto por ações americanas e globais, ativos imobiliários, venture capital, fundos de retorno absoluto, recursos naturais e uma parcela em caixa e renda fixa. Com essa estrutura e uma boa capacidade de escolha de ativos, o portfólio do endowment de Yale teve um retorno de 16,6% ao ano entre 1985 e 2008, contra 12% ao ano do Índice Dow Jones.

Conclusão

Os titãs corporativos, em uma estratégia tradicional de investimentos, estão tão enraizados no nosso dia a dia que é preciso uma imaginação fértil para pensar que eles podem não resistir ao teste do tempo.

No entanto, da mesma forma que os titãs gregos acreditavam que seu domínio estava assegurado antes de entrar em colapso, o jogo também pode virar para esses titãs do mundo corporativo. Meio século de história mostra que as ações titânicas do mercado mudam constantemente.

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Investir nos titãs de hoje é especialmente arriscado porque sua concentração está em níveis mais altos do que durante a bolha das “pontocom”, e seus valuations são cinco vezes maiores que os do mercado. Esse risco de concentração pode terminar em ruína.

Para investidores que preferem permanecer bem diversificados e mitigar essas concentrações altas e perigosas, uma abordagem de multiclasses e ativos, combinado ao acompanhamento de um consultor especializado, pode ser uma solução muito atraente.

Paulo Sato É bacharel em administração pela faculdade FIA, com passagem na Hochschule Düsseldorf. Tem MBA em administração de investimentos financeiros pelo IBMEC. Criador do Canal Ninja Investidor, é coordenador na Suno Consultoria.

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