Definindo uma estratégia de investimentos sustentável

Ao invés de procurar a melhor estratégia de investimentos de todas, foque em procurar aquela que funciona para você

Lucas Ramiro

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

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No mercado financeiro, existem diversas estratégias que são adotadas pelos mais diferentes tipos de investidores. Diante do excesso de informações, escolher a estratégia de investimento adequada acaba sendo uma tarefa difícil para a maioria dos investidores.

Muito provável que não exista uma receita infalível ou fórmula mágica – aliás, talvez até exista, como nos mostra Joel Greenblatt, um dos investidores mais bem sucedidos de todos os tempos, em seu best-seller “A Fórmula Mágica”.

De forma bem resumida, Greenblatt classifica e seleciona as companhias para investir em dois fatores: retorno do capital e resultado dos investimentos. Apesar de ensinar sua estratégia de value investing e inclusive disponibilizar um site que auxilia os investidores nesta tarefa, será que mesmo assim ela é replicável para a maioria dos investidores?

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Como diz o próprio Greenblatt no prefácio de seu livro, a maioria das pessoas não vai acreditar nele e caso acreditem, elas não terão paciência para seguir suas recomendações.

Antes de comentar duas estratégias de investimentos que podem servir de inspiração para definição ou revisão da estratégia de investimento da sua carteira, vamos dar um passo atrás.

Primeiros Passos

Investir sem antes ter uma solidez financeira não costuma ser uma boa ideia. Por isso, seguindo os pilares do planejamento financeiro, é importante ter uma gestão financeira, o que envolve compreender a própria situação, traçar e seguir um orçamento que resulte em um excedente que possa ser investido. A composição de uma reserva de emergência também é de suma importância, pois serve para cobrir imprevistos, sem que afete o orçamento, garantindo o sucesso da gestão financeira.

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Assegurado o sucesso da gestão financeira, podemos seguir para a gestão de ativos e investimentos. Neste pilar o primeiro passo é entender o perfil do investidor – algo que muitas vezes não recebe a importância que merece.

O processo de suitability, mais do que apenas responder ao formulário de API (Análise do Perfil do Investidor), deve ser entendido como uma ferramenta importantíssima para definição do perfil de risco do investidor. Podemos entender o perfil de risco como a capacidade e a disposição do investidor ao risco, sendo a capacidade ao risco ligada à situação financeira real e a disposição (ou propensão) ao risco ligada ao perfil psicológico.

É extremamente importante a compreensão e reflexão sobre esses pontos antes de seguir. Até aqui, porém, nenhuma grande novidade.

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Gostaria de chamar a atenção para – e propor que os investidores fizessem – uma profunda análise e reflexão sobre suas capacidades de seguir uma estratégia de investimento. Em outras palavras, para a capacidade de engajamento em executar a estratégia definida.

Não adianta a estratégia ser ideal para seu perfil de risco. Ela precisa ser sustentável em sua execução, principalmente no longo prazo. E não seguir o plano definido com disciplina tende a ser desastroso.

Vamos ao exemplo de duas estratégias de investimento que, de certa forma, se opõem, mas não são excludentes. Inclusive, podem se complementar.

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Investimento em valor (value investing)

Em linhas gerais, podemos dizer que o value investing é uma estratégia de investimentos que assume que os mercados não são sempre eficientes e busca investir em ações cujo preço de tela se encontra abaixo do que o investidor julga ser o valor intrínseco da companhia, na expectativa de que o mercado perceba essa discrepância e o preço da ação seja corrigido com o tempo.

É notável o sucesso dos investidores em valor. Mais do que uma estratégia de investimento, o value investing é uma filosofia que, em sua jornada, exige muita dedicação do investidor – apesar de lendas como Munger e Buffett fazerem parecer fácil. Tem como um dos efeitos positivos a constante busca pelo conhecimento e, consequentemente, crescimento pessoal.

Mas, novamente: será que esta estratégia é facilmente replicada por qualquer investidor? Diante do grande fluxo de informações e opiniões, será que é tão fácil sustentar a filosofia de manter em carteira um ativo até que a discrepância entre o preço e o valor seja corrigido? Como já disse Warren Buffett, o Oráculo de Omaha: é simples, mas não é fácil.

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Investimento em fundos indexados (gestão passiva)

Bastante difundida por John Bogle, fundador da Vanguard, a estratégia tem sua lógica baseada na hipótese do mercado eficiente e consiste em comprar e manter no longo prazo fundos de índice que representem a totalidade do mercado de ações.

Um ótimo instrumento de exposição à estratégia são os ETFs de índices de mercados. Entre os mais conhecidos podemos citar o VOO, que replica o índice S&P 500. Bogle demonstra com dados, em “O Investidor de Bom Senso”, livro de sua autoria, que o investidor que comprou e manteve no longo prazo um fundo de índice que replique as posições do mercado de ações americanas teve um desempenho, na média, melhor que a maioria das carteiras ativamente geridas.

A estratégia é bem simples e, de maneira bem resumida, o fundo indexado é um método sensato e útil de obter a taxa de retorno do mercado com absolutamente nenhum esforço e uma despesa mínima.

Mesmo Buffett, o mais famoso value investor, ao criar um fundo para o patrimônio de sua esposa, orientou que 90% de ativos fossem investidos em um fundo de baixo custo que acompanhasse o S&P 500.

Diversificação internacional

Outro defensor dos investimentos em fundos indexados, Burton Malkiel nos alerta em “Um Passeio Aleatório por Wall Street” que um dos maiores erros que os investidores cometem é não obter diversificação internacional suficiente. Os Estados Unidos representam cerca de um terço da economia do mundo. Sem dúvida, um fundo amplo do mercado de ações americano proporciona alguma diversificação internacional, já que muitas das companhias multinacionais do país realizam grande parte de seus negócios no exterior.

Quem observar a performance dos mercados dos EUA nos últimos anos, em comparação aos demais países desenvolvidos, pode chegar ao entendimento de que vale mais a pena concentrar os investimentos no mercado americano ao invés de diversificar globalmente. Isso porque os retornos nos EUA foram realmente superiores aos dos demais países desenvolvidos nos últimos anos. Mas historicamente esses retornos se comportaram em ciclos.

Podemos olhar também para os mercados emergentes, que têm populações mais jovens do que o mundo desenvolvido. Economias com populações mais novas tendem a crescer mais rápido, e mercados emergentes como China e Índia vêm crescendo bem mais rápido do que as economias desenvolvidas.

Portanto, os investidores não deveriam adquirir apenas um fundo indexado ao mercado de ações do seu país.

Além disso, existem fundos indexados contendo fundos de investimento imobiliário (FIIs), bem como títulos de dívida corporativos e governamentais, que são ótimas alternativas para diversificar entre as classes de ativos de forma prática e com baixo custo.

Capacidade de dedicação a estratégia

Tenho a forte convicção de que a análise de ações individuais, quando bem realizada, tende a gerar retornos acima da média. Assim, o value investing e a escolha individual dos ativos da carteira pode funcionar muito bem para aqueles que possuem tempo e conseguem manter a disposição e a disciplina no longo prazo para colherem seus resultados.

Já para os investidores que não podem ou não querem despender um nível maior de tempo e dedicação à estratégia de investimento, tende a fazer mais sentido a gestão passiva.

Entre os dois extremos, você deve encontrar o ponto que melhor atende a sua realidade.

Portanto, além do tradicional e mais bem difundido conhecimento do perfil de risco e outros tantos pilares, é de extrema importância o autoconhecimento e uma profunda reflexão sobre a capacidade de dedicação e disciplina em perseguir determinada estratégia de investimento, para que esta seja sustentável no longo prazo.

O investidor ainda pode contratar uma casa de análises ou consultoria de investimentos para ajudar nessa jornada. Não se esqueça: ao invés de procurar a melhor estratégia de todas, foque em procurar aquela que funciona para você.

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