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Nunca é tarde para começar – mas não demore!

Diante da fragilidade e da instabilidade atual do mercado brasileiro, começar a investir no exterior se torna cada vez mais necessário para sua carteira
Por  Felipe Arrais -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

“Arrais, com o dólar nesse patamar ainda vale a pena investir nesse fundo dolarizado?”

Começo o bate-papo de hoje com essa pergunta que é recorrente na vida de um analista de investimentos no exterior.

O investidor brasileiro, que em média possui algo em torno de 1% de seu patrimônio investido em ativos no exterior dolarizados, ainda está se acostumando com a nova conjuntura econômica do país.

Não quero aqui parecer um pessimista, que só enxerga o lado ruim das coisas. Há, sim, muito a se comemorar com o crescente número novos investidores, que pouco a pouco vencem a inércia.

Mesmo ainda havendo pouca internacionalização dos investimentos e muito dinheiro parado na poupança, noto uma intensificação do processo de financial deepening, no qual o assunto finanças e investimentos deixa de ser tabu e cria raízes cada vez mais profundas em nosso cotidiano.

Acredito que, em breve, uma conversa de bar sobre investimentos poderá ser tão comum como um bate-papo sobre futebol ou BBB.

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Como há muitos conceitos novos a serem absorvidos de uma vez, entendo a razão de a pergunta se repetir com frequência.

Quem nunca desejou, por qualquer motivo que seja, que o dólar desse uma “abaixadinha”. Quantas vezes, também, você desistiu de um plano por conta de uma alta da moeda norte-americana bem em um momento inoportuno.

O câmbio é uma variável ingrata e, como já dizia a frase atribuída a Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real, parece ter sido inventado por deus apenas para humilhar os economistas em suas previsões.

O que costumo responder a questionamentos do tipo é que, se você não possui exposição a ativos no exterior, deveria ao menos “molhar o pé”, pois, mais perigoso do que o dólar cair depois de você investir em um ativo dolarizado, é ficar sem essa exposição, com renda e gastos concentrados em reais.

A verdade é que, em um país como o nosso, onde os mercados são extremamente sensíveis a alterações no cenário político interno e, também, ao mercado externo, o dólar nunca está tão caro que não possa encarecer ainda mais – e o dia que iniciou esta semana, 8 de março, é um exemplo disso.

Pela manhã, plena segunda-feira, acordei com uma mensagem de uma assinante em meu Instagram pessoal com uma dúvida sobre se ela deveria ou não privilegiar fundos de investimento sem hedge cambial (no qual se tem a variação do fundo acrescida da variação do dólar frente ao real no período) com esse patamar do câmbio.

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Como analista responsável pela série Você, Investidor Global, preciso prezar pela isonomia de informações que são passadas aos assinantes e, por julgar ser uma pergunta relevante, enviei um áudio no nosso grupo exclusivo do Telegram, incentivando que quem ainda não tivesse exposição em ativos no exterior dolarizados deveria fazê-lo independentemente do patamar atual do câmbio.

Obviamente, há um cuidado a ser tomado com o nível de dólar que se tem na carteira, principalmente se você possui investimentos em ativos de risco no Brasil, como Bolsa de Valores.

Historicamente, a correlação entre dólar e Bolsa brasileira é negativa e, se não calibrado na proporção correta, pode acabar por prejudicar o retorno de suas ações em momentos de alta.

De volta à situação da dúvida levantada pela assinante, enviei a mensagem às 14h55 no Telegram, quando a cotação estava no patamar de R$ 5,72 para cada dólar americano. O Ibovespa, por sua vez, operava em leve queda de -0,9%, no patamar de 114.175 pontos.

Cerca de 40 minutos depois, foi veiculada a notícia de que o ministro Edson Fachin havia anulado as condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tornando-o elegível novamente pela Lei da Ficha Limpa.

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Uma decisão monocrática do ministro, que pegou inúmeros analistas políticos de surpresa – afinal, não era uma pauta que estava em destaque.

Não é meu objetivo entrar no mérito político e/ou ideológico do debate, mas fato é que bastou essa nova informação se tornar disponível para que, rapidamente, os preços do mercado se ajustassem.

O dólar norte-americano, do momento em que enviei a mensagem para os assinantes até o fechamento do pregão, chegou a R$ 5,82 e, no mercado futuro, no qual o pregão se estende até as 18h30, o fechamento foi de R$ 5,88, representando uma alta de 3,26% no dia. Já o Ibovespa despencou, fechando o pregão em queda de -3,98%.

Esse é um movimento clássico de aversão a risco, em que Bolsa e ativos de risco brasileiros em geral tendem a sofrer ao mesmo tempo em que o dólar dispara.

A história conta que coelhos podem ser tirados da cartola a todo momento aqui no Brasil.

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Um tuíte atravessado, uma pauta que tinha tudo para passar e não passa, uma lei nova, um imposto novo, um desentendimento diplomático internacional, uma intervenção em estatais – essa última nem faz muito tempo que aconteceu, com a Petrobras, e ajudou a elevar o câmbio

Investir em ativos diversificados globalmente é uma segurança para quem almeja acumular patrimônio no longo prazo.

Se expor a moedas fortes é parte da segurança, mas por que não investir em ativos que, por diversas vezes, se mostram muito mais seguros e resilientes que ativos brasileiros?

Mesmo com esse dólar flertando com o patamar dos R$ 6, não tenho dúvida de que continuarei me deparando com a mesmíssima pergunta sobre se ainda vale a pena começar.

A minha resposta? Acho que você já deve imaginar qual seja:

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Nunca é e nunca será tarde. E o dólar nunca está ou estará tão caro que não possa ficar ainda mais.

Abraço,
Felipe Arrais

Felipe Arrais Felipe Arrais é especialista em investimentos globais da Spiti. Engenheiro de Gestão e bacharel em Ciência e Tecnologia pela Universidade Federal do ABC, além de engenheiro mecatrônico pela Middlesex University London, atua desde 2015 no mercado financeiro. Foi um dos pioneiros no trabalho de pesquisa independente de fundos globais no Brasil, tendo sido responsável pela criação da carteira de um dos primeiros fundos de fundos globais voltado ao investidor de varejo. Hoje, na Spiti, carrega a bandeira da internacionalização dos investimentos, nicho ainda muito inexplorado por investidoras e investidores brasileiros

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