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O aval do Tribunal de Contas da União à privatização da Eletrobras (ELET3 ; ELET6) obtido pelo governo na última quarta-feira é um marco relevante para Jair Bolsonaro na disputa pela reeleição, com impacto nos discursos dos candidatos e na demarcação das faixas nas quais transitarão ele e seu principal rival, o ex-presidente Lula – mas ainda depende de esforço de comunicação para que se converta em ativo para atingir um eleitorado mais amplo.
De imediato, a operação deve dar algum alívio ao presidente, que ganha argumento para rebater as críticas de que fez muito menos do que prometeu em relação às privatizações — o próprio Paulo Guedes reconheceu que essa era uma área em que o governo andou mais devagar do que esperava. Se não reverte todo o histórico, a venda da Eletrobras funciona como cartão de visitas para amenizar essa percepção.
Indiretamente, também pode ajudar o governo a dissipar a imagem, que começa a aparecer no eleitorado, de que faltou ao presidente capacidade de entrega em várias iniciativas, um efeito colateral da terceirização de culpa adotada como estratégia por Bolsonaro em temas como os combustíveis – no qual o vilão é a Petrobras – ou no combate à pandemia – onde governadores e Supremo foram os inimigos da vez.
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O segundo impacto da venda da estatal na disputa é a delimitação mais evidente das faixas em que cada candidatura vai correr nos próximos meses. A aprovação da operação pelo TCU foi precedida da inclusão da Petrobras no programa de desestatização do governo — diante da impossibilidade de atacar os preços diretamente, Bolsonaro opta pelo outro lado, o de defender a venda da companhia.
Não restará a Lula alternativa que não seja a de ocupar a raia oposta, carregando na tinta de um discurso de retomada do controle sobre a política de preços da estatal. Esse cenário pode fazer com que se acentue ainda mais a assimetria entre os dois percebida pelo mercado para ativos como a própria Petrobras.
Por fim, uma defesa mais franca de apoiadores de Bolsonaro sobre as privatizações deve ser amparada pelo argumento de que Lula não quer se desfazer de estatais para reproduzir o modelo do petrolão. O argumento tem impacto, mas, mais uma vez atinge com mais força eleitor que já está com Bolsonaro, que declara se importar mais com corrupção do que o restante.
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A chave para converter a privatização em ativo mais amplo é o foco na redução de preços, como mostraram pesquisas Ipespe recentes. Tanto no caso da Sabesp em São Paulo quanto no da Petrobras, o apoio à venda das estatais sai de patamares de perto de 30%-40% para algo em torno de 60%-70% se o eleitor tiver certeza de que ela levará à redução do preço das tarifas.
Sem isso, o discurso de Bolsonaro terá os impactos indiretos mencionados acima e agradará ao eleitor que já está com ele. Ele só se tornará um aliado na busca por um eleitorado mais amplo se o eleitor for convencido pelo bolso.