Impactos da piora na avaliação de Bolsonaro

Ministros já alertavam o presidente para uma possível queda de popularidade, mas diziam que ele estava consciente do desafio

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O presidente Jair Bolsonaro recebe as Honras Militares (Foto: Marcos Corrêa/PR)
O presidente Jair Bolsonaro recebe as Honras Militares (Foto: Marcos Corrêa/PR)

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O aumento na avaliação negativa de Jair Bolsonaro acontece em um contexto de noticiário negativo para o presidente, com ampliação da crise do coronavírus e a proximidade do fim do pagamento do auxílio emergencial de 2020. Os desafios que ele tem pela frente – com a sequência do enfrentamento à pandemia até que haja vacinação em massa, a disputa com João Doria pelo protagonismo na vacinação, a eleição para a presidência da Câmara em que se envolveu além do padrão e as pressões fiscais nas discussões a partir de fevereiro – são capazes de intensificar a instabilidade que já decorreria da queda da popularidade.

Os 40% de ruim/péssimo retomam indicadores da primeira quinzena de abril do ano passado, quando houve o início da inclinação da curva de avaliação negativa, que chegou a 50% no meio de maio. À ocasião – que coincidiu também com a saída ruidosa de Sergio Moro do governo –, Bolsonaro lançou mão de dois recursos que contribuíram para acalmar os ânimos: intensificou sua aliança com o centrão, o que lhe trouxe calma na relação com o Congresso, e adotou o auxílio emergencial, que injetou R$ 50 bilhões mensais na economia e contribuiu para a inversão dessa tendência.

As duas armas não são replicáveis no momento. A primeira, porque não há recursos suficientes no orçamento para que Bolsonaro reitere seus votos de amor pela base recém conquistada – mesmo as emendas extraorçamentárias que vêm sendo negociadas nas eleições para as presidências no Congresso podem ter dificuldades para serem executadas. A mesma escassez de recursos e de espaço fiscal impede novas rodadas de auxílio em volume semelhante ao de 2020.

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Ainda não há dados para afirmar que a queda de agora se deva ao fim do auxílio emergencial, pois – apesar de o repasse do Tesouro ter sido feito em 2020 – o calendário de liberação dos recursos pela Caixa se adentrou em 2021, e os dados da pesquisa mostram que, ao contrário do que pode sugerir o senso comum, a piora da avaliação no mês foi numericamente maior entre quem não recebeu o auxílio (-4 p.p.) do que entre aqueles que o receberam (-7 p.p.). O efeito, no entanto, poderá ser mais perceptível nas próximas leituras.

Os dados mostram também que há um contingente grande que avalia bem o presidente e espera que o governo invista na ampliação da transferência de renda. Dos 32% que têm imagem ótima ou boa de Bolsonaro, 13 pontos percentuais acreditam que o governo precisa e vai criar um auxílio semelhante ao do ano passado ou vai ampliar o Bolsa Família. Ou seja, há na população 13% de apoiadores de Bolsonaro que podem se frustrar caso não haja nem uma coisa nem outra.

No Planalto, no final de 2020, ministros já alertavam o presidente para uma possível queda de popularidade no intervalo entre o fim do auxílio e o retorno da atividade econômica a níveis normais. Diziam que Bolsonaro estava consciente do desafio.

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Os próximos dias testarão essa convicção. Há pela frente ao menos duas semanas de confronto previsto com a Câmara, já que Rodrigo Maia faz campanha por Baleia Rossi com a bandeira de enfrentamento a Bolsonaro. Essa tendência vai se ampliar até 1º de fevereiro. Os números também tendem a intensificar as disputas dentro do governo e colocam mais pressão nas decisões do time econômico de não lançar mão de medidas com custos fiscais.

O entrevero público pelo protagonismo na vacina — e a tendência de alta na aprovação dos governadores do Sudeste — pode também adicionar elementos de instabilidade no cenário, ainda que Bolsonaro nesta manhã tenha tentado virar a página da disputa.