A instrumentalização da Amazônia e o ataque à soberania nacional

A interferência de países e organizações internacionais na soberania de outras nações não é novidade. Esse fenômeno é caracterizado como globalismo ou internacionalismo - termo utilizado pelo filósofo inglês Roger Scruton – , e geralmente ocorre pela bandeira ambiental.

Alan Ghani

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(Frederico Mellado/ARG)
(Frederico Mellado/ARG)

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Recentemente, o presidente da França, Emmanuel Macron, disse que a cúpula do G7 deveria discutir os incêndios na Amazônia.

Para reforçar sua posição, Macron utilizou uma imagem de um fotógrafo que morreu há 16 anos. Além disso, o presidente francês disse que a Amazônia era o “pulmão do mundo”, uma fake news desmentida por qualquer estudante ginasial, já que a maior parte do oxigênio do planeta vem das algas de oceanos e rios, enquanto a Amazônia consome praticamente todo o oxigênio que ela produz.

É difícil acreditar que a divulgação da foto e a propagação da fake news por Macron tenha ocorrido por ignorância do presidente francês.

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Tudo indica que Macron sabia que as fake news gerariam uma histeria coletiva mundial, principalmente nas celebridades, que pouco entendem de política, economia, meio ambiente, estatística, etc., mas são capazes de influenciar a opinião pública pelo carisma e pelo discurso sentimentalista, mesmo que irracional.

Os fatos que vieram depois apenas confirmam que Macron não agia por ingenuidade, mas com método, para tentar atingir o seu objetivo. Após a divulgação das fake news, o presidente francês disse que não assinaria o acordo Mercosul – União Europeia.

Como esperado, representantes do agronegócio francês endossaram a posição de Macron. Claro, com o acordo União Europeia-Mercosul, o Brasil seria um forte concorrente ao agronegócio Francês.

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Mas a reação de Macron não parou apenas no âmbito comercial. O presidente disse, numa frase que gerou ambiguidade de interpretação, que a Amazônia poderia ganhar o “status (ou estatuto) de internacional”, por ser uma área de interesse a todo o planeta.

Pouco importa se ele quis dizer “status” ou “estatuto”; em ambos os casos, há uma interferência clara à soberania nacional brasileira.

A interferência de países e organizações internacionais na soberania de outras nações não é novidade.

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Esse fenômeno é caracterizado como globalismo ou internacionalismo – termo utilizado pelo filósofo inglês Roger Scruton – , e geralmente ocorre pela bandeira ambiental.

Em entrevista a mim no InfoMoney (aqui), o atual assessor da Presidência da República, Filipe G. Martins, explica como como o alarmismo ambiental é utilizado para enfraquecer a soberania das nações dentro da lógica do globalismo.

Na mesma linha, Roger Scruton em seu livro, “Como ser um conservador”, mostra como a pauta ambiental geralmente é instrumentalizada para atacar a soberania nacional. Para Scruton, não há evidências de que organizações políticas internacionais reduziram o dano ambiental, pelo contrário.

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De acordo com o filósofo, muitos ambientalistas sérios concordam com os conservadores, “que o Banco Mundial e a OMC são ameaças potenciais ao meio ambiente, não apenas destruindo as autossuficientes e autorreprodutivas economias de subsistência, mas também corroendo a soberania nacional onde quer que represente um obstáculo ao objetivo do livre mercado”.

Para o filósofo, é o sentimento de pertença a um território que une conservadores e ambientalistas pela preservação do meio ambiente. Para ele, na questão ambiental, somente o Estado-nação tem a legitimidade para tomar as medidas necessárias com o devido apoio da população.

Nesse sentido, o ataque à soberania nacional brasileira se torna ainda mais grave e evidente, pois o Brasil não é irresponsável com a questão ambiental.

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Pelo contrário, o país é reconhecido internacionalmente por aliar protecionismo ambiental com eficiência no agronegócio. Enquanto o Brasil tem 70% das florestas preservadas, o continente europeu tem apenas 0,3% de vegetação primária.

Mesmo o aumento dos incêndios em julho/19 na região amazônica não é motivo para pânico. De acordo com os dados da NASA, o aumento dos incêndios estão longe de ser motivo para alarmismo, uma vez que estão dentro da média histórica dos últimos 15 anos. Além disso, o governo brasileiro tem tomado providências para conter o avanço do fogo.

Portanto, por enquanto, o único motivo para alarde é o de ataque à soberania nacional  brasileira.

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Alan Ghani é economista, PhD em Finanças e professor de pós graduação

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Alan Ghani

É economista, mestre e doutor em Finanças pela FEA-USP, com especialização na UTSA (University of Texas at San Antonio). Trabalhou como economista na MCM Consultores e hoje atua como consultor em finanças e economia e também como professor de pós-graduação, MBAs e treinamentos in company.