Casamento com centrão esboça aliança de Bolsonaro para 2022

Com importantes cargos na Esplanada dos Ministérios, o caminho natural para PP, PL e Republicanos é o apoio à candidatura à reeleição de Bolsonaro

Carlos Eduardo Borenstein

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O presidente Jair Bolsonaro e o deputado federal Arthur Lira (PP-AL)
O presidente Jair Bolsonaro e o deputado federal Arthur Lira (PP-AL)

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A ida do senador Ciro Nogueira (PP-PI) para a Casa Civil pode fazer parte de um movimento ainda pouco perceptível no tabuleiro conjuntural, mas que mexe na dimensão estrutural do jogo político para as eleições de 2022.

Através de Ciro, o PP ingressa de forma partidária do governo Jair Bolsonaro − o senador é o presidente nacional da legenda. Não apenas isso, o PP detém a presidência da Câmara dos Deputados, através do deputado Arthur Lira (PP-AL), além da liderança do governo na Casa, com o deputado Ricardo Barros (PP-PR).

O casamento com Bolsonaro vai além do PP, já que líderes expressivos do centrão, como os ministros Fábio Faria (PSD-RN), das Comunicações; João Roma (Republicanos-BA), da Cidadania; e Flávia Arruda (PL-DF), da Secretaria de Governo, ocupam postos estratégicos do governo.

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Aliás, diante do afastamento que o PSD vem estabelecendo em relação ao governo − pois o presidente nacional do partido, Gilberto Kassab, trabalha para filiar o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), para que ele seja o candidato do partido ao Palácio do Planalto −, Fábio Faria poderá se filiar ao PP ou outra sigla do centrão.

Os quatro ministros mencionados são vistos como potenciais pré-candidatos a governador em seus estados: Fábio Faria no Rio Grande do Norte, João Roma na Bahia, Flávia Arruda no Distrito Federal e Ciro Nogueira no Piauí.

Mesmo que o presidente Jair Bolsonaro possa não ter atraído para o governo esses líderes do centrão pensando exclusivamente na campanha da reeleição (afinal de contas o governo possui outros desafios pela frente antes da sucessão de 2022), a montagem da futura coligação de Bolsonaro também entra nessa equação.

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Com importantes cargos na Esplanada dos Ministérios, o caminho natural para PP, PL e Republicanos é o apoio à candidatura à reeleição de Bolsonaro. As duas primeiras controlam a articulação política do governo e terão dificuldades para se desvincular do governo.

Já o Republicanos é o partido de parte das igrejas evangélicas, importante base de sustentação de bolsonarismo. Além dessas legendas, o PTB, comandado nacionalmente pelo ex-deputado Roberto Jefferson (RJ), está cada vez mais próximo de Bolsonaro.

Confirmando essa coligação potencial, Bolsonaro iria para a campanha de 2022 com uma roupagem totalmente distinta de 2018. Além de a pauta antiestablishment não ter o apelo eleitoral do passado, o presidente vem se afastando dessa imagem desde a saída do ex-juiz Sergio Moro do governo e a posterior aliança com o centrão.

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Aliás, essa metamorfose na narrativa de Bolsonaro foi esboçada na última quinta-feira (22), quando o presidente, numa tentativa de quebrar o estigma que a marca centrão possui em parcela da opinião pública, afirmou: “o centrão é um nome pejorativo. Eu sou do centrão. Eu fui do PP metade do meu tempo, fui do PTB, fui do então PFL (hoje DEM), no passado integrei siglas que forma extintas, como o PRB, PPB. O PP lá atrás foi extinto depois nasceu novamente na função do PDS com o PPB se eu não me engano. O tal centrão ficou então rotulado centrão como algo pejorativo, danoso à Nação. Não tem nada a ver. Eu nasci de lá. A Tereza Cristina é do PFL, atualmente DEM. O Onyx Lorenzoni também é do DEM”.

Uma eventual aliança eleitoral entre Bolsonaro e partidos do centrão interessa tanto ao presidente quanto às legendas. Em 2022, dispor de tempo de TV será um fator importante, pois o presidente será o alvo principal de outros candidatos. Juntos, PP, PL, Republicanos e PTB somariam cerca de 3 minutos do horário eleitoral gratuito.

Esses partidos, por sua vez, têm o interesse em estarem associados a Jair Bolsonaro. Como o presidente vive hoje seu pior momento, e mesmo assim preserva uma avaliação positiva que varia de 25% a 30%, segundo as últimas pesquisas, integrar sua coligação pode ajudar as siglas a elegerem um bom número de deputados e senadores. Isso sem falar na ocupação de cargos no governo, o que pode render dividendos políticos, principalmente se as expectativas econômicas positivas se concretizarem até 2022.

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Outro aspecto a ser pontuado é que esses quatro partidos se movem pela lógica do pragmatismo. Vale recordar que, na campanha presidencial de 2018, apoiaram formalmente o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB). Mas quando perceberam que o tucano não iria decolar, migraram para Bolsonaro.

Assim, caso venham a apoiar formalmente Bolsonaro em 2022 e perceberem que o presidente não irá se reeleger, podem fazer o mesmo. É um risco que Jair Bolsonaro correrá. No entanto, trata-se de uma aliança que hoje interessa a ambos, mesmo que alguns diretórios desses partidos não venham a se engajar 100% no projeto da reeleição de Bolsonaro.

Vale lembrar que deputados dessas legendas, principalmente do Nordeste, podem acabar apoiando Lula (PT), mesmo que seus partidos integrem formalmente a coligação bolsonarista, pois o pragmatismo eleitoral é determinante no centrão. Assim, os diretórios estaduais do Nordeste e outras regiões podem acabar pendendo para o ex-presidente se ele continuar se mostrando mais competitivo nas pesquisas que Bolsonaro.

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Também fará parte do cálculo político do presidente Jair Bolsonaro, no casamento com o centrão, seu futuro partidário. Como a filiação ao Patriota parece ter esfriado, uma eventual ida para o PP, legenda que Bolsonaro já foi filiado de 1993 a 2003, e depois de 2005 a 2016, volta a ser uma alternativa, principalmente pelo fato de Ciro Nogueira ser o presidente nacional da sigla e ocupar a poderosa Casa Civil.

Essa hipótese já é admitida publicamente por Bolsonaro, que na última sexta-feira (23) declarou que está “tentando um partido que eu possa chamar de meu e possa, realmente, se for disputar a Presidência, ter o domínio do partido. Está difícil, quase impossível. Então, o PP passa a ser uma possibilidade de filiação nossa”.

A eventual filiação de Bolsonaro ao PP pode significar para o partido a volta ao protagonismo dos tempos de Aliança Renovadora Nacional (Arena), durante o regime militar, e depois PDS, a partir de 1980. Mesmo que as vitórias de Fernando Collor (PRN), na eleição presidencial de 1989, e de Jair Bolsonaro (PSL), no pleito de 2018, tenham sido conquistas da direita, desde que a Arena/PDS perdeu seu protagonismo, não há mais uma direita competitiva constituída do ponto de vista partidário no sistema político.

O movimento pode representar o ressurgimento de um partido de direita estruturado com a perspectiva de poder. Caso opte pelo PP, que é a grande legenda do centrão, Bolsonaro pode também evitar que outras siglas desse campo decidam se afastar do governo, como tem feito o PSD.

Ao se aproximar do PP, PL, Republicanos e PTB, Bolsonaro ensaia um movimento em direção a centro-direita, mostrando disposição em seguir o modelo tradicional de fazer política, principalmente após a entrega da articulação política do governo para o centrão. Esse modelo passa pela ocupação de cargos estratégicos do governo por aliados e o posterior apoio desses partidos ao presidente, fornecendo-lhe estrutura partidária e tempo de TV para a campanha.

Uma questão em aberto a ser observada é como a opinião pública reagirá a essa alteração em curso, pois o bolsonarismo é o um movimento antiestablishment que, em sua gênese, rejeita arranjos que seguem o modelo tradicional.

Assim, o que potencialmente se apresenta como um diferencial competitivo do presidente – aproximação com o centrão – não necessariamente pode significar um fortalecimento eleitoral. Vale recordar mais uma vez 2018, quando mesmo apoiado por parte expressiva do centrão, a candidatura de Alckmin não conseguiu ser competitiva.

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Carlos Eduardo Borenstein

Cientista político formado pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA-RS). É analista político da Arko Advice Pesquisas desde 2006 e consultor político e de marketing eleitoral pela Associação Brasileira dos Consultores Políticos (ABCOP). Possui MBA em Marketing Político, Comunicação e Planejamento Estratégico de Campanhas Eleitorais pela Universidade Cândido Mendes.