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As eleições gerais de 2022 no Brasil compreendem os pleitos para a Presidência da República, os Governos Estaduais e do Distrito Federal, a totalidade da Câmara dos Deputados, 1/3 do Senado Federal e a totalidade de todas as Assembleias Legislativas e da Câmara Distrital.
O comparecimento mostrou-se bastante elevado, levando a filas em algumas sessões eleitorais que decorreram não apenas desse fator, mas também da instituição da biometria para a validação do cadastro eleitoral e de uma dificuldade residual – sobretudo de eleitores mais idosos – devido ao grande número de postos em disputa, diferentemente das eleições municipais.
Para avaliar melhor os principais resultados, esmiuçaremos os detalhes da eleição presidencial e para o Congresso Nacional e replicaremos esta análise para os cinco maiores estados da federação: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Rio Grande do Sul, tanto nos governos como nas assembleias. A compreensão destes resultados, sejam eles definitivos ou encaminhados para o segundo turno, mostra-se fundamental para traçar a configuração do sistema político brasileiro nos próximos anos.
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O primeiro turno das eleições gerais no Brasil, ocorrido no último domingo, foi marcado pela vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nas eleições presidenciais por cerca de 48% dos votos, seguido pelo atual presidente Jair Bolsonaro (PL) que conquistou 43% dos sufrágios. Tal resultado leva necessariamente a um segundo turno, onde apesar de numericamente a frente, Lula larga em desvantagem, dado seu enorme esforço para conquistar a vitória já no primeiro turno.
Bolsonaro demonstrou ser o grande vitorioso da noite pois, a um só tempo, demonstrou que possuía mais votos do que se previa, amealhou palanques regionais importantes para a segunda volta e colocou em xeque as pesquisas eleitorais, que, em vários estados, erraram por diferenças muito acima da margem de erro, demonstrando um grande apoio envergonhado de seus eleitores.
Caberá agora, tanto a Lula como a Bolsonaro, buscar alinhavar os poucos votos que ainda permaneceram distantes da polarização, tanto aqueles que foram dados aos candidatos da terceira via (Tebet, Ciro e os nanicos) como aqueles que eventualmente se abstiveram de ir às urnas ou de escolher um candidato. Com as críticas acerbas de Bolsonaro e os esforços de Lula pelo voto útil, esse desafio não será trivial, que pode redundar mais em apoio partidário que pessoal.
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Além das eleições presidenciais, o Congresso Nacional também sofreu uma significativa renovação, com destaque para as bancadas de direita na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, em especial o próprio PL e o União Brasil e com a exceção da federação PT-PV-PCdoB. Na contramão desse crescimento, algumas legendas como PSDB-Cidadania mostraram uma diminuição de suas bancadas e terão de repensar sua atuação, provavelmente buscando eventuais acordos de federação ou fusão.
O perfil do Congresso mostra que o futuro presidente precisará de grande habilidade para negociar, dado que a governabilidade será extremamente complexa em um quadro de ampla fragmentação partidária e, sobretudo, predomínio do “centrão”, que estuda inclusive a fusão entre União Brasil e Progressistas.
Nesse sentido, seja quem for eleito presidente, terá de flexibilizar suas pautas, com maior vantagem para Bolsonaro, dado o perfil conservador do parlamento eleito, inclusive com muitos aliados do atual presidente. A oposição, por sua vez, terá o desafio de construir uma narrativa alternativa em um ambiente de intensa polarização. Por um lado, isso tornará mais fácil a tarefa de quem se opuser, mas também pode tornar a disputa muito mais renhida, o que determinará uma dificuldade de espaço para eventuais diálogos em situações de crise.
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Esta configuração, no entanto, dependerá fundamentalmente do desempenho dos governadores estaduais, que, no Brasil, jogam um papel muito importante no sistema político, influenciando tanto bancadas federais da Câmara e do Senado como as bancadas estaduais de suas respectivas Assembleias. Nesse sentido, os palanques conquistados por Bolsonaro serão de suma importância nesta segunda volta, demonstrando uma vantagem muito importante contra Lula, sobretudo na região Sudeste.
Como se vê, o Brasil aprofunda sua polarização e eliminou o centro político – sendo a irrelevância numérica da terceira via e a derrota do PSDB em São Paulo a face mais vistosa do fenômeno – sendo que Bolsonaro termina a noite como o grande vitorioso e, hoje, o favorito para a reeleição, embora Lula (e sua capacidade de reverter adversidades) não possa jamais ser subestimado como adversário.