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Microsoft se blinda na crise da OpenAI e deve sair como vencedora

Big tech agiu rápido para evitar que impasse em sua investida contaminasse suas ações

Iuri Santos

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A OpenAI confirmou na madrugada desta quarta-feira (22) o retorno de Sam Altman à empresa, colocando fim em um impasse inesperado iniciado na última sexta-feira (17) com a demissão do executivo. Além da volta de Altman, o conselho anterior, responsável por sua saída, será reformulado. A reviravolta no caso teve como principal responsável a Microsoft, sócia de 49% da dona do ChatGPT, que agiu rápido após a deflagração da crise

Após a derrocada de suas ações com o anúncio da saída do cofundador da OpenAI na sexta-feira, a dona do Windows agiu rápido no fim de semana e contratou Altman para liderar suas iniciativas de inteligência artificial.

Dentro de um mercado em que o capital humano capacitado é escasso — e vale muito — a movimentação caiu como uma luva para a Microsoft demonstrar força, avalia Eliane El Badouy Cecchettini, future & research senior consultant na Inova Consulting. Ela e outros especialistas elogiaram a agilidade do CEO, Satya Nadella, em lidar com a crise, sendo capaz de fazer as ações da empresa subirem 2% antes da abertura do mercado de segunda-feira (20).

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“Os investidores da Microsoft temiam que ela fosse colocada numa situação difícil por essa bagunça na gestão da OpenAI e todos aplaudiram a a estratégia, a forma como ele conduziu”, afirmou Eliane ao IM Business.

Em sua análise sobre o caso, a Bloomberg credita a volta de Altman como uma vitória para a Microsoft, que trabalhou com outros investidores para reverter a demissão. Os dois novos membros do conselho também atraem Wall Street e o público do Vale do Silício.

A big tech, maior patrocinadora da OpenAI, comemorou o retorno de Altman ao comando, depois de concordar brevemente em contratá-lo no domingo (19) para iniciar um novo grupo de pesquisa interno. A Microsoft, cuja estratégia de IA depende da tecnologia da startup, provavelmente terá representação no novo conselho, certamente como observadora e possivelmente com um ou mais assentos, segundo fontes ouvidas pela agência.

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Hoje, o foco de desenvolvimento envolvendo IA na Microsoft é o seu assistente virtual para ferramentas corporativas, chamado Copilot, que tem como base o modelo de inteligência artificial generativa da OpenAI. Analistas avaliam que a crise deflagrada na dona do ChatGPT poderia afetar o desenvolvimento da aplicação, o que sugere uma dependência com a empresa investida.

“O que pode acontecer, pensando mais no médio para longo prazo, é a Microsoft estrategicamente focar mais no desenvolvimento, na pesquisa e no desenvolvimento interno de novos produtos e modelos”, explica Diogo Cortiz, professor da PUC-SP, “E aí a OpenAI ser menos, vamos dizer assim, o carro-chefe dessa parceria”, explica.

A Microsoft é a principal investidora da OpenAI, com uma parcela minoritária da empresa avaliada em 49% do negócio. A parceria firmada pelas companhias, que permite à OpenAI utilizar a infraestrutura computacional da big tech para desenvolver sua ferramenta, dá à Microsoft acessos privilegiados aos códigos e propriedade intelectual da companhia de IA.

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A OpenAI nasceu como uma associação sem fins lucrativos e, por isso, o seu conselho é composto tanto de funcionários de dentro da empresa quanto de especialistas que estão de fora. Segundo tem relatado a imprensa internacional, esse pode ser um dos motivos que levaram à demissão de Altman, que mantinha um olhar de negócio e constante evolução do desenvolvimento da companhia, ao passo em que alguns conselheiros viam o avanço com maiores ressalvas.

“Essas pessoas de fora não têm um compromisso mercadológico com a OpenAI. Eles não tem um compromisso financeiro, econômico, mercadológico, eles têm um compromisso mais de ético, de governança, de preservar a espécie, algo bem ligado, ao altruísmo efetivo”, explica Cortiz.

Com os recentes acontecimentos, é difícil dizer que a OpenAI consiga atingir o valuation que buscava em outubro deste ano, de US$ 86 bilhões. “A empresa perde, sem sombra de dúvidas, mas difícil quantificar”, diz o estrategista-chefe da Avenue, William Castro. “Tira não só os cérebros, mas tem isso de como a empresa gere esses conflitos, e também o que de fato é o interesse desse negócio: para onde que essa empresa de fato está indo”, explica.

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Para os clientes da OpenAI, que hoje podem acessar o modelo utilizado no ChatGPT para desenvolverem soluções em suas empresas diretamente com a empresa ou por meio da Azure, plataforma de nuvem da Microsoft, não deve haver grandes mudanças em um primeiro momento. As manifestações mais recentes da Microsoft, inclusive, vão no sentido de fortalecimento e manutenção da parceria.