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Cresce a pressão sobre as margens dos frigoríficos

Arroba do boi sobe no país, enquanto preços externos da carne caem  

Alexandre Inacio Fernando Lopes

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A escassez de boi gordo no mercado brasileiro está obrigando os frigoríficos a elevar os preços pagos pelos animais para tentar garantir suas escalas de abate. A nova realidade do mercado é de valores da arroba em alta e preços dos cortes exportados ainda em queda, e as indústrias já estão sentindo esses efeitos, com margens mais apertadas neste quarto trimestre.

Embora tenha registrado leve recuo nos últimos dias, o preço médio da arroba do boi em São Paulo está 12% maior do que a média registrada em setembro, conforme dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq). Na quarta-feira, o valor ficou em R$ 233,05, Em 30 dias, a alta chegou a 17,4%, e em relação ao mesmo período de 2022, a 23%. Para boa parte dos analistas, a trajetória ascendente deverá continuar.

Trata-se de uma virada. Até agosto, o mercado vinha convivendo com a cotação do boi gordo em espiral de queda. Naquele mês, a arroba chegou ao patamar mais baixo desde maio de 2020. O movimento era uma resposta ao ciclo de aumento da oferta de animais disponíveis para abate.

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“A arroba do boi teve em agosto a maior perda de valor da história da pecuária. Nem quando as exportações para a China foram suspensas a desvalorização foi tão elevada”, afirma Michel Tortelli, sócio da Finpec. A suspensão temporária dos embarques ao país asiático foi no primeiro trimestre, em razão da descoberta de um caso atípico da doença da vaca louca no Pará.

Um dos resultados do derretimento dos preços foi o menor interesse dos pecuaristas em confinar seus animais durante o inverno. A expectativa era que os bois confinados começassem a ficar disponíveis para abate nos frigoríficos no início de outubro, mas a oferta foi menor do que projetavam as indústrias.

Relatórios privados de empresas de nutrição que fornecem ração e suplementos mostram que a taxa de ociosidade em agosto deste ano nos confinamentos era de 40%, ante 20% no mesmo período do ano passado, sinal de que a oferta de animais deverá continuar restrita nos próximos meses.

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Com custos mais elevados, os frigoríficos começam  a sentir a pressão sobre suas operações. Indicadores da Scot Consultoria mostram que a margem média das empresas no fim de agosto estava 42%, considerando apenas as operações no mercado doméstico. No fim de setembro, haviam recuado para 21%.

“As margens das indústrias tendem a sofrer um achatamento até o fim do ano, ainda que os patamares sejam relativamente confortáveis. Os frigoríficos de menor porte são os que vão sofrer mais, especialmente aqueles que trabalham apenas com abate”, afirma Alcides Torres, presidente da Scot Consultoria.

No segundo trimestre do ano, Marfrig e Minerva registraram margens Ebitda ligeiramente melhores na América do Sul, em comparação ao mesmo período de 2022. Já a JBS viu a margem Ebitda de sua operação no Brasil encolher um ponto percentual.

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O efeito sobre os resultados só não será maior porque as indústrias estão encontrando espaço para reajustes ao longo da cadeia. O levantamento da Scot mostra que a carne com osso comercializada no atacado de São Paulo passou de R$ 15,55 por quilo, no fim de agosto, para R$ 18,75 na semana passada.

Ciclo da pecuária começa a mudar no país, e oferta diminui (foto: Divulgação)

Esse incremento ajuda um pouco a compensar a queda dos preços no mercado externo, onde os frigoríficos capturam suas melhores margens. “Entre janeiro e setembro, o preço médio dos embarques de carne bovina do país, em dólar, foi 24% menor que em igual intervalo do ano passado. Apenas em setembro, o valor ficou 29% inferior ao de um ano antes”, afirmou Paulo Mustefaga, presidente da Associação Brasileira dos Frigoríficos (Abrafrigo).

Com isso, dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) compilados pela entidade mostram que as exportações de carne bovina do país cresceram 6% em volume e chegaram a 246,3 mil toneladas, mas a receita diminuiu 24%, para US$ 1 bilhão.

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A expectativa de oferta escassa de animais no país no quarto trimestre, aliada ao aumento sazonal da demanda no período, pode fazer com que a relação de preços com outras proteínas fique menos favorável à carne bovina no mercado doméstico.

“O boi saiu do fundo do poço, o que se reflete no preço da carne bovina. Isso costuma abrir espaço para o aumento do consumo de outras proteínas mais baratas”, afirmou Ricardo Santin, presidente da ABPA, entidade que representa a indústria de aves e suínos.