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SÃO PAULO – Não é novidade pra ninguém dizer que a economia brasileira vem enfrentando muitos problemas que podem até se agravar ao longo de 2014, ano de eleições presidenciais – quando os gastos públicos ganham forças para cativar mais votos nas urnas e o controle de custos sempre fica em segundo plano. A situação fica mais evidente ao ouvir a opinião de 4 importantes expoentes do mercado financeiro, que se reuniram na última segunda-feira (12) em São Paulo para o evento “Confraria de Economia – Como o mercado financeiro enxerga a economia”.
Se o objetivo do encontro era de fato expressar o que os agentes do mercado pensam da economia, a missão foi cumprida: a mensagem foi claramente pessimista para o curto prazo, mas muitos pontos ajudam a manter a chama da esperança acessa para o longo prazo.
O pessimismo para os dias de hoje converge com a opinião dos diretores e CEOs brasileiros – o principal público-alvo do evento. O resultado preliminar de uma pesquisa feita pela Experience Club durante o começo de maio mostrou que 38,8% dos entrevistados enxergam o PIB (Produto Interno Bruto) crescendo 1% em 2014, enquanto 55% vê uma expansão em 2%. Para a inflação, 45% deles enxergam o IPCA acima de 7% ao final do ano, superando o teto da meta estabelecida do governo (6,5%). A pesquisa teve uma amostra de 80 CEOs, presidentes e diretores executivos.
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O quarteto de expoentes do mercado que discursaram no evento foi formado por: Zeina Latif (economista-chefe da XP Investimentos), Joaquim Levy (ex-secretário do Tesouro e atual CEO do BRAM -Bradesco Asset Management), Paulo Corchaki (chefe da área de Wealth do UBS) e KIko Gonçalves (economista-chefe do Banco Fator). A discussão foi moderada pelo jornalista Ricardo Boechat, da Rede Bandeirantes.
Confira as principais declarações do evento:
- Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos
Estou otimista para o longo prazo. Temos instituições sólidas e um mercado grande. Mas falar em macroeconomia no noticiário é um tremendo retrocesso. Estou me sentindo como em duas décadas atrás, quando a inflação estampava as manchetes dos jornais. Devíamos estar discutindo questões microeconômicas, como melhoria de eficiência e inovação, ao invés de falar onde a inflação deveria estar. Isso prova que o governo retrocedeu em alguns temas. Sobre a questão macro, é um tanto óbvio: deveria existir autonomia para o Banco Central e fechar os cofres públicos. O próximo governo tem que agir rápido, não é porque acabou de ser eleito que vai se acomodar.
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- Kiko Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator
Estou pessimista com o que foi feito de 2012 pra cá. Depois do que o governo fez com a geração de caixa de Petrobras e Eletrobras, perdeu-se o rumo. Estou meio que cansado de esperar que assuntos importantes entrem em pauta, tais como a discussão sobre a independência do BC. É sempre aquela história: “o BC nunca foi independente, por que ele vai ser logo comigo?”. Posso parecer pessimista agora, mas isso é mutável: se for diagnosticado que é preciso fazer mudanças horizontais, então abre-se uma perspectiva positiva.
- Paulo Corchaki, diretor de gestão do UBS
Vemos em 2014 os mesmos problemas que víamos em 2002. Contudo, já é possível perceber uma mudança nas “preocupações” da população entre essas duas épocas: no passado, as maiores preocupações do brasileiro eram com a inflação, o desemprego e outras questões macroeconômicas; hoje, os grandes problemas apontados pela população são com serviços públicos, como saúde e transportes. Podemos concluir com essas novas preocupações que o brasileiro evoluiu, não só econômica como socialmente. Não existe uma bala de prata para a solução da economia brasileira. Mudanças graduais precisarão ser vistas a partir de 2015. Sobre mudança de governo, acredito que a atual gestão aprendeu com os erros, então nos próximos mandatos devemos ver esses aprendizados serem postos em prática. Sobre impactos econômicos da Copa do Mundo: não muda quase nada politicamente se o Brasil ganhar ou não. Agora, organizar bem ou mal uma Copa pode ter um impacto pesado em ano eleitoral.
- Joaquim Levy, CEO do BRAM (Bradesco Asset Management)
Só o trabalho pode produzir riquezas. Não existem atalhos para essas soluções; precisamos trabalhar. Principalmente porque hoje os Estados Unidos não vão nos ajudar mais como em 20 a 30 anos atrás, quando a demanda de lá foi um grande propulsor para nós. Os bons anos da “era Lula” foram desaparecendo. O período não está fácil para ninguém, é preciso arrumar a casa. Assim como as empresas melhoram processos, o governo precisa melhorar algumas coisas internas. Sinto que houve um relaxamento fiscal: talvez porque alguns anos atrás o Brasil tinha uma das melhores estatísticas fiscais do mundo. Então nem seja o caso de fazer mudanças astronômicas, talvez apenas ajustar algumas coisas que já haviam sido feitas antes resolve o problema.
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